DA BBC BRASIL
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A proposta brasileira de conceder asilo a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, que chegou a ser condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério, é apoiada por ativistas que defendem os direitos humanos no Irã, mas criticada por setores mais conservadores ligados ao governo do país.
Membros de organizações de direitos humanos disseram que a oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo a Ashtiani é um passo positivo, mas que ainda é preciso fazer mais para pressionar o Irã a banir esse tipo de sentença.
O governo iraniano ainda não fez uma declaração oficial sobre se aceita a proposta de Lula, mas um site ligado à Guarda Revolucionária do Irã fez críticas à posição do presidente brasileiro, acusando-o de interferir nas questões internas do país.
AP |
Foto divulgada pela ONG Anistia Internacional em Londres mostra Sakineh Mohammadi Ashtiani, acusada de adultério |
Ashtiani, de 43 anos, está presa no Irã desde maio de 2006, quando um tribunal na Província do Azerbaijão Ocidental a considerou culpada por manter "relações ilícitas" com dois homens após a morte de seu marido.
No início do mês, as autoridades iranianas haviam afirmado que ela não seria mais morta por apedrejamento, embora a mulher ainda possa ser sentenciada à morte por enforcamento pelo adultério e por outras acusações que pesam contra ela.
O caso teve grande repercussão internacional e, no sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pedindo que permita que a mulher possa se asilar no Brasil.
APOIO
"A oferta do presidente do Brasil a Ashtiani e sua família foi um passo muito positivo e é bem-vindo. No entanto, espero que isso crie uma pressão pelo fim de sentenças de morte por apedrejamento", disse à BBC Brasil a iraniana Mina Ahadi, coordenadora do Comitê Internacional Contra Apedrejamento, entidade que vem fazendo uma campanha pela liberdade de Ashtiani.
"Eu conversei com o filho dela e outros familiares sobre a oferta do Brasil. Eles ficaram muito contentes e esperançosos. Esperamos que a notícia seja dada a Ashtiani ainda nesta segunda-feira", explicou a ativista, que também coordena uma campanha com assinaturas na internet em prol da iraniana.
Apesar de elogiar a oferta brasileira, Ahadi disse que considera negativa a proximidade entre Lula e o regime islâmico do Irã.
"O presidente brasileiro ignorou evidentes violações de direitos humanos no Irã. O apelo pela liberdade e asilo de Ashtiani não apaga o criticismo em relação a ele de muitas pessoas e da oposição no Irã."
CARISMA
Para o ativista Mahmoud Amiry-Moghaddam, diretor da entidade Direitos Humanos no Irã, a interferência de Lula em favor da iraniana foi uma grande notícia, pois o presidente brasileiro "tem o carisma junto ao governo do Irã".
"Certamente, o governo iraniano irá considerar essa proposta de forma séria, pois se trata de um país amigo e que goza de boa credibilidade com o Irã", salientou Moghaddam à BBC Brasil.
Entretanto, a ativista acredita que, por si só, a oferta de asilo a Ashtiani não mudará o destino de muitos outros sentenciados a este tipo de execução.
"Já tivemos muitas pessoas enforcadas ou apedrejadas até a morte por omissão de líderes internacionais, incluindo Lula, que poderiam ter feito mais pressão junto ao governo iraniano."
"Por se omitir no passado, apoiando o atual regime, o carisma de Lula ficou um pouco abalado entre setores da sociedade iraniana que vêm lutando por mais liberdade e direitos humanos no país", afirmou.
CRÍTICAS
O site Jahan News, ligado à Guarda Revolucionária do Irã, entidade linha-dura e que dá suporte ao regime islâmico do país, usou uma linguagem de acusação contra Lula devido à oferta de asilo.
"O presidente brasileiro está sob a influência da propaganda ocidental... e interferiu nos assuntos internos do Irã", diz um texto no site.
De acordo com Mohammad Marandi, professor de Ciência Política da Universidade de Teerã, mesmo o bom relacionamento entre Brasil e Irã não vai garantir que a proposta brasileira seja aceita, especialmente entre membros mais linha-dura do governo iraniano.
"Há um consenso geral dentro do governo de que mesmo nações amigas não podem interferir em assuntos vistos como delicados dentro do Irã. Com o Brasil não será diferente", explicou Marandi.
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