BRASÍLIA - Um novo suposto dossiê, desta vez de petista contra petista, agita a campanha presidencial a pouco mais de duas semanas do início do horário eleitoral na TV, no próximo dia 17. Setores da oposição criticaram a descoberta de uma carta anônima que teria sido elaborada por setores do PT contra o próprio governo. O alvo seria o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e envolveu a disputa pelo comando da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. As acusações foram publicadas em maio pelo jornal "Valor Econômico" e neste domingo pela "Folha de S.Paulo".
Na carta, uma das filhas do ministro, a empresária, atriz e modelo Marina Mantega, é acusada de tráfico de influência junto ao vice-presidente de Negócios de Varejo do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, que era cotado para assumir a presidência da Previ. O texto, de uma folha, virou um dossiê contra Mantega, que apoiava a indicação de Cafarelli.
O presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE), teme que uma onda de dossiês contamine ainda mais a disputa eleitoral. Para o tucano, os petistas têm verdadeira obsessão e compulsão por dossiês.
- Eles são viciados em dossiês, é uma questão obsessiva e compulsiva do PT e do governo. Os petistas são cheios de hábitos estranhos - disse Guerra, que também é coordenador da campanha presidencial de José Serra (PSDB).
Guerra teme novo dossiê contra Serra
O tucano disse que teme uma possível nova investida contra a candidatura de Serra. Há quase dois meses, o PSDB descobriu que um documento com dados sigilosos do Imposto de Renda do vice-presidente do partido, Eduardo Jorge, estaria em poder da equipe de campanha da petista Dilma Rousseff.
- Se eles fazem até contra eles, imaginem o que pode fazer contra nós - disse Guerra.
O presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, desqualificou o suposto dossiê:
- Isso não é dossiê. É uma carta anônima e sem sustentação.
Dutra disse que a notícia sobre a existência da "carta" é "assunto velho".
Caffarelli esteve com Marina Mantega por três vezes, na sede do banco, em São Paulo, segundo reportagem da "Folha de S.Paulo". Os dois teriam se conhecido quando Marina, economista de formação, trabalhava no banco Pine. Ela conversou com Caffarelli para pedir informações, como linhas de exportação, mas em uma das ocasiões questionou sobre a dívida de uma empresa. A reportagem da "Folha" cita que seria a Gradiente, empresa da qual seu namorado Ricardo Staub é sócio. Caffarelli não teria nem olhado os dados solicitados.
Em uma das cartas anônimas, há o argumento de que, caso o "tucano" Caffarelli assumisse a Previ, a campanha de Dilma Rousseff (PT) poderia ser prejudicada.
Diretamente ligado a uma ala que tentou assumir o comando da Previ, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente do PT, divulgou em seu twitter ter sugerido ao ministro da Fazenda uma investigação a respeito dessa carta. Berzoini diz que recomendou "a abertura de uma sindicância interna".
Berzoini tentou emplacar um nome, o do diretor de Participações da Previ, Joílson Ferreira, mas foi preterido. Também estava na disputa o vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, Allan Toledo. Cafarelli também ficou de fora.
O cargo foi preenchido pelo vice-presidente de Crédito do Banco do Brasil, Ricardo Flores, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para se ter uma ideia do que estava em jogo, a Previ foi criada em 1904 e é o maior fundo de pensão do país em patrimônio, avaliado em torno de R$ 140 bilhões.
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) também criticou o dossiê:
- É mais um péssimo exemplo para o país. O PT não mede as consequências para atingir seus objetivos.
Em Curitiba, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, procurou minimizar os efeitos da denúncia.
- É mentira, com certeza. Eu não li, mas é mentira.
Dentro do governo é dado como certo que a autoria das cartas trazendo "denúncias" contra Caffarelli partiu de lideranças do Sindicado dos Bancários de São Paulo, onde Berzoini tem força política. O deputado saiu em defesa de dois petistas apontados como suspeitos de responsáveis pelo dossiê, o diretor da Brasilveículos, ligada ao BB, e José Luís Salinas, ex-vice-presidente do banco.
- Conheço os 'suspeitos' há tempo suficiente para não acreditar que pudessem recorrer ao mais covarde dos instrumentos para atingir supostos objetivos políticos. Tratam-se de profissionais concursados do BB, que exercem altas funções no banco há bastante tempo, sempre elogiados por suas atuações - escreveu ele.
Procurado neste domingo, Caffarelli preferiu não comentar o assunto. O Palácio do Planalto e o Banco do Brasil também silenciaram sobre o tema. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda foi procurada, mas não atendeu às ligações do GLOBO.
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