por Eucimar de Oliveira
Qual a participação da polícia do Rio no trágico episódio Bruno-Eliza Samudio? A resposta pode trazer aspectos mais horrendos para o caso. No fragor da apuração, do show da trasferência de Bruno e seu amigo Macarrão de delegacia para delegacia, para presídio, para avião, para Belo Horizonte, os jornais foram muito mais quantitativos do que reflexivos.
E na falta de uma cobertura mais pensada, deixaram também de responder esta questão crucial. E, por resultado, pouparam a polícia carioca de um grande embaraço e de revelações que podem ir da ineficiência, negligência, incapacidade técnica e chegar, quem sabe, a uma coisa bem pior: obstrução da Justiça. Em outubro do ano passado, Eliza Samudio, após uma sessão de torturas e ameaças da qual participou Bruno, foi à Delegacia de Atendimento à Mulher, em Jacarepaguá.
A delegada cumpriu seu papel. Tomou o depoimento, comunicou o fato ao Ministério Público e solicitou um exame de urina de Eliza para comprovar ou não a sua declaração de que teria sido obrigada a tomar medicação abortiva. Ela estava grávida de um filho do jogador. Bruno teria dito a sua vítima fatal de 10 meses depois: “eu quero que você se foda.Eu quero que você morra. Você não sabe do que sou capaz”. A prova que daria mais consistência à ação da Delegacia da Mulher porém nunca chegou a tempo.
Apareceu também 10 meses depois com Eliza já morta, talvez trucidada por cães ferozes. Bruno prometeu e cumpriu. Qualquer pessoa sabe que um laboratório clínico ordinário e de fundo de quintal é capaz de em poucas horas fornecer o resultado de uma análise de urina. Por que demorou tanto o Instituto Médico Legal do Rio? Por que demorou 10 meses? O IML é peça fundamental na maioria dos inquéritos policiais e ajuda investigadores e delegados a melhor instruir seus inquéritos antes do envio à Justiça.
Tivesse saído o resultado em 24 horas, a ação da Delegacia da Mulher também seria mais efetiva. Bruno poderia ser condenado por indução ao aborto, coação, agressão e ameaça de morte. Poderia até ficar em liberdade, pagar com cestas básicas, ou não. Também não seria improvável que já estivesse atrás das grades há muito tempo. E Eliza, viva. Numa hipóteses branda, receberia uma reprimenda da Justiça e seria obrigado a ficar a afastado de Eliza por 500 metros, um quilômetro… Traria para si todos os holofotes para revelar a sua verdadeira personalidade. Ficaria acuado.
Certamente até torceria para Eliza não morrer de gripe para que dele não desconfiassem. Um exame de xixi que não foi feito na hora certa e rapidamente por uma instituição policial que sustenta investigações mais complexas não é fato para ser deixado de lado neste alvoroço todo. Pode, se esquadrinhado e visto na minúcia, mostrar que a morte de Eliza poderia ser evitada e que há algo muito confuso e inexplicável na polícia do Rio.