Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, responderam por quase 20% dos proventos dos brasileiros em 2008, segundo o Ipea. Em 1978, estas transferências eram 8,1 % da renda familiar per capita. Especialistas previnem: a assistência social não deve ser a única fonte de renda dos pobres.
Os programas de transferência de renda como aposentadoria, Bolsa Família e assistência social responderam por 19,3% da renda das famílias brasileiras em 2008, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 1978, estas transferências representavam 8,1% da renda familiar per capita. Especialistas consideram o resultado compatível com as grandes dimensões do país e com a forte desigualdade social. Entretanto, enfatizam a necessidade do investimento em educação financeira para prevenir que a assistência social não seja a única fonte de renda das famílias mais pobres.
Segundo o pesquisador da diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea Jorge Abrahão de Castro, a mudança permitiu que cerca de 21 milhões de pessoas ficassem fora da linha de pobreza. As políticas sociais, principalmente aquelas voltadas para a assistência e para a previdência, estruturadas depois da Constituição de 1988, foram suficientemente importantes para constituir uma parcela expressiva da renda das famílias, para combater a pobreza e a desigualdade, avalia.
Castro destacou que, em 1978, 26,9 milhões de pessoas viviam com renda inferior a 25% do salário mínimo. Este número caiu para 18,7 milhões em 2008.
Se não houvesse a transferência de renda, seriam 40,5 milhões de pessoas ressalta. A incidência da pobreza, entre os idosos, em especial, pôde ser quase eliminada.
Em contrapartida, o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Samy Dana explica que o uso do dinheiro público em políticas assistencialistas compromete os investimentos futuros do país. Para ele, estes projetos não podem durar muito tempo e devem ser melhor administrados.
O Brasil ainda não está em uma situação preocupante, mas é preciso tomar cuidado para que as famílias não se tornem dependentes destes projetos e o governo acabe com parte de suas reservas, comprometidas com estas ações explica o professor.
Dana ressalta a importância do investimento na formação financeira dos cidadãos. Se tirar esse dinheiro do assistencialismo e colocar na educação pode ser que tenhamos um resultado melhor. Matérias como administração financeira e economia doméstica deveriam ser lecionadas no ensino básico.
Já o professor da UFF Marco Aurélio Cabral acredita que o país está produzindo um modelo de desenvolvimento com crescimento e distribuição da riqueza. Para ele, completa-se o ciclo iniciado na ditadura militar, que destaca o crescimento para a divisão da renda.
Era o famoso aumentar o bolo para depois dividir. Estamos fazendo esta divisão agora disse Cabral.
No entanto, ele concorda com a importância do investimento na educação. Os recursos não são direcionados e a população pode decidir onde empenhá-los. Precisamos fazer mais para as crianças, melhorando o sistema educacional para que elas se beneficiem mais destes programas, comentou.
O estudo mostra ainda que a cobertura previdenciária direta da população com idade ativa de 16 a 64 anos passou de 37,4% em 1978 para 49,9% em 2008, incluindo quem contribui e os beneficiários.