Perito diz ao G1 que marca pode ser de esperma ou rastro de peixe.
Para peritos, cena do crime acabou prejudicada por não ter sido preservada.
Mesmo considerando que a cena do crime no caso Mércia Nakashima foi prejudicada, a perícia técnica do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo já conseguiu retirar materiais importantes no carro da advogada para montar o quebra-cabeça que poderá responder como ela morreu. De acordo com o perito Renato Pattoli, um dos “achados” é uma mancha que se assemelha a esperma ou resquício de peixe, encontrada do lado direito do banco do motorista do Honda Fit prata, e que passará por exames no Instituto de Criminalística (IC) para saber se ela é humana. Caso seja, poderia pertencer a alguém suspeito de matar a mulher.
O veículo, que estava submerso na represa de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, foi resgatado pelos bombeiros na sexta-feira (11). Para o especialista, o automóvel não poderia ter sido retirado da água sem a presença dos peritos. “O local foi prejudicado”, afirmou Pattoli nesta segunda-feira (14) ao G1.
Ainda segundo o perito, um pedaço do banco do carro onde estava a mancha foi extraído e será levado ao laboratório de química do IC. Outros elementos são apontados como determinantes para se estabelecer como Mércia morreu e quando isso ocorreu. Ela estava sumida desde 23 de maio.
Para a investigação policial, o advogado Mizael Bispo, de 40 anos, é ainda o principal suspeito pelo desaparecimento e morte da ex-namorada de 28 anos. O delegado Antônio Olim, do DHPP, trata o caso como assassinato. A polícia cumpriu mandado de busca e apreensão de roupas e objetos na casa e no escritório do suspeito. Ele nega o crime.
Suspeito e terceira pessoa
Além da mancha no banco, a perícia vai analisar o módulo do carro para saber quando foi que o veículo ficou submerso, comparar amostras de lama do fundo da margem da represa com terra encontrada em calçados de Bispo e vistoriar o veículo interna e externamente para saber se há indícios da presença de outras pessoas na morte da mulher. Para Olim, quem matou Mércia teve a ajuda de alguém.
“O carro foi encontrado a 6 metros de profundidade na represa e a 25 metros distante da margem onde teria entrado na água”, disse Pattoli.
Um pescador afirmou ter visto o Honda Fit entrar na água no dia 30 de maio, o que sugere que ela poderia estar num cativeiro desde o dia 23, quando desapareceu. Se o módulo do carro de Mércia puder determinar a que horas o sistema eletrônico do veículo parou de funcionar por causa da água, então será possível saber o horário exato que isso ocorreu.
A perícia busca pistas para saber como isso ocorreu: se o veículo entrou engatado ou desengatado. Nas duas hipóteses, Mércia poderia ter estado no volante. A diferença é a seguinte: se o carro entrou engatado, então alguém estaria ao lado dela dentro do automóvel ; se o carro entrou desengatado, então a vítima poderia estar sozinha no veículo e alguém o empurrou.
Local prejudicado
De qualquer modo, o perito criticou a preservação feita no local onde Mércia e seu carro foram achados. “O carro não deveria ter sido retirado pelos bombeiros sem a presença da perícia. Precisávamos, por exemplo, conseguir um ponto de impacto do carro na água, saber se o carro estava engatado ou desengatado. O inimigo número 1 da perícia é o local mexido”, disse Pattoli.
Dentre os itens que foram comprometidos para o trabalho da perícia, estão a coleta das impressões digitais no veículo. Como muitas pessoas, bombeiros, familiares e até jornalistas, segundo peritos, encostaram e se aproximaram do Honda Fit, a análise desse material fica prejudicada. Há também queixas em relação a terem aberto a porta do automóvel antes da chegada da perícia, que ocorreu por volta das 16h30 de sexta (11).
A polícia pediu quatro laudos ao Instituto Médico-Legal para descobrir a causa da morte de Mércia, dos quais, exames toxicológico, de violência sexual. O corpo dela apresenta um ferimento no queixo. Segundo médicos legistas, ela sofreu uma fratura no maxilar. A investigação quer saber se ela foi ferida no carro ou agredida. As análises devem ficar prontas em 30 dias.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, a perícia no carro de Mércia será feita nesta segunda-feira (14) em horário e local não divulgados. Também não será permitida a presença da imprensa durante os trabalhos.