"A audácia das crianças ajuda a alargar as fronteiras da realidade", disse Adora
por Marta F. Reis, Publicado em 10 de Março de 2010
Foi a mais nova a pisar o palco das conferências TED, logo depois de Bill Gates ou James Cameron. Tem 12 anos e quer ganhar dois Nobel
Para uma criança de 12 anos, passa muitas horas em casa, em Redmond, Washington, Estados Unidos. Tem aulas pela internet, e é também quase sempre pela internet que percorre escolas preparatórias norte-americanas a dar videoconferências sobre escrita criativa e leitura. Numa das últimas, segundo relata no seu blogue, saiu uma ideia para um conto inédito: 365 dias no estômago de uma rã. "É o início do próximo grande romance americano", escreve. É tudo muito simples e Adora Svitak parece feliz. "Nunca senti que estivessem a usar a minha imagem ou a obrigar-me a crescer mais depressa: a única pressão vem de mim mesma", diz ao i numa conversa por email.
Chamar-lhe criança-prodígio serve para explicar o fenómeno que leva crianças da sua idade aos sofás de Oprah Winfrey ou do "Good Morning America" - programas onde esteve em 2007. Mas Adora é diferente dos demais talentos artísticos: destaca-se por ler livros de 500 páginas, dominar mais vocabulário do que muitos adultos e teclar 80 a 112 palavras por minuto, uma contabilidade rigorosa. Desde os sete anos sonha ganhar o Nobel da Paz e o da Literatura.
O último salto para a fama aconteceu a 14 de Fevereiro. Depois de um convite inesperado, foi a oradora mais nova de sempre nas conferências TED (Technology, Entertainment and Design), na Califórnia, onde anualmente pessoas brilhantes do mundo inteiro partilham as suas experiências. "Tenho de admitir que estava um bocado assustada quando subi ao palco por onde tinham acabado de passar Sir Ken Robinson, James Cameron, Bill Gates e tantos outros, mas ver o público ajudou--me - dá-me sempre uma adrenalina repentina quando faço um discurso." De 18 minutos de palestra saiu uma máxima: "As crianças ainda sonham com a perfeição. A nossa audácia ajuda a alargar as fronteiras da realidade." Nas redes sociais, teve mais elogios do que a apresentação do pai da Microsoft, criticado por borrifar a audiência com mosquitos para ilustrar os problemas da malária.
"Não diria que sou muito diferente das outras crianças: faço asneiras, adoro pizzas e doces e ando à luta com a minha irmã. Contudo, sempre gostei de ler e escrever, e pensei que toda a gente também gostava." "Sempre" é desde os quatro anos, e o choque aconteceu aos cinco: "Percebi que nem todas as pessoas gostavam de ler, na realidade algumas detestavam. Foi um dos momentos mais decisivos da minha vida."
Fez da infância uma missão: mudar a visão das pessoas da sua idade, e convencer os adultos a dar mais voz às crianças. "Aquilo que a maioria dos adultos faz é para benefício da próxima geração, apesar de a voz das crianças ser das mais poderosas. Cada criança pode fazer a diferença."
Ela escolheu a educação. Durante o dia dá aulas e anda no 8.o ano da escola pública online Washington Virtual Academies (saltou um ano), mas acredita no poder da música e do desporto. "Espero um dia poder fazer a diferença levando educação aos países em desenvolvimento para impedir as sementes dos conflitos de crescerem."