"Carrefour não está à venda"
Presidente mundial do grupo nega venda da operação brasileira para o Walmart. O plano da rede francesa é outro: faturar R$ 60 bilhões no Brasil e somar mil lojas em 2015
Adriana Mattos
PUEYO, CEO NO BRASIL: "Vamos testar um novo formato de loja da rede ainda em 2010. Queremos continuar a crescer dois dígitos ao ano" |
Nas últimas semanas, o grupo Carrefour tem sido bombardeado por uma série de especulações sobre a possível venda de suas operações no Brasil. Segundo notícias publicadas pela imprensa europeia, o Walmart teria feito no final do ano passado uma proposta de aquisição dos ativos do Carrefour nos países emergentes. Como é comum nessas ocasiões, a rede francesa negou as afirmações por meio de comunicados. Apesar disso, a boatoria só aumentou. Na semana passada, a reportagem da DINHEIRO conversou com um analista francês que ouviu, do próprio Lars Olofsson, CEO mundial do Carrefour, o que ele pensa sobre o assunto. Olofsson, que já teria se irritado com a insistência no tema, disse o seguinte: "Não vamos deixar o Brasil e a China. Até entendemos que algumas empresas tenham interesse nesses ativos. Mas não vendemos." Em entrevista à DINHEIRO, Jean Marc Pueyo, presidente do Carrefour no Brasil, enfatizou a posição do grupo. "Não estamos à venda." Para reforçar o interesse da rede em manter sua marca no Brasil, Pueyo apresentou os planos da corporação para o País. E eles são bastante ambiciosos.
Segundo o presidente da operação brasileira, o Carrefour pretende atingir um faturamento bruto de R$ 60 bilhões em 2015. "Esse é o valor mínimo a que queremos chegar", diz Pueyo, que apresentou pela primeira vez os detalhes do programa. Para se ter uma ideia do tamanho do desafio que o grupo se impôs, em 2009 suas receitas no Brasil totalizaram R$ 24 bilhões (9,3 bilhões de euros), alta de 4,6% sobre o ano anterior. Trata-se de um crescimento superior ao do Pão de Açúcar, que viu suas receitas subir 4,1% em 2009. O desempenho do Carrefour no Brasil é melhor que nos principais mercados do grupo na Europa. Tomando como base de comparação outro emergente, o Carrefour brasileiro também ganha de lavada. Na China, as vendas caíram 1,8%.
"Até entendemos que algumas empresas tenham interesse na operação brasileira. Mas não venderemos" LARS OLOFSSON, CEO MUNDIAL DO GRUPO CARREFOUR |
POPULAR E RENTável: sucesso de vendas em São Paulo, rede de supermercados Dia% terá o modelo de loja "exportado" para estados nordestinos |
A meta de R$ 60 bilhões em faturamento não inclui possíveis aquisições. É apenas crescimento orgânico, por meio de abertura de lojas. De acordo com Pueyo, a varejsta terá 750 pontos de venda no Brasil até o final de 2011 e outros 250 estabelecimentos devem ser inaugurados até 2015, perfazendo um total de mil supermercados. Nessa conta, entram as unidades de todas as quatro bandeiras: Atacadão, Dia%, Carrefour e Carrefour Bairro. Em dois anos, a rede francesa quer estar presente em todos os 26 Estados brasileiros. Hoje, a varejista possui pontos em 20 Estados. Para alcançar a meta, a empresa estuda a criação de um formato inédito de loja, que passará a ser testado no País já em 2010, conforme adiantou Pueyo. "Só posso dizer que será uma evolução de nossos modelos atuais", diz o executivo. Embora ele não confirme, o projeto é comandado por uma área interna batizada de Carrefour Malls e existe uma sala com funcionários na sede do grupo, na zona sul de São Paulo, destinada apenas a tratar de negócios na área imobiliária e formatos de pontos de venda.
Segundo fontes do mercado, a ideia é ampliar a área de serviços dos pontos para aumentar o tráfego em loja e ainda ganhar com o aluguel desses espaços. "Entre as três maiores cadeias do País, o Carrefour é aquela com menos formatos de lojas. Isso é uma fragilidade", diz Eugenio Foganholo, sócio da Mixxer Consultoria. Não se pode esquecer que nem sempre a experiência da cadeia foi vitoriosa em seus formatos. A rede precisou fechar as lojas Champion pelos fracos resultados.
Pueyo afirma ainda que, no primeiro semestre, devem ser abertas no Brasil as primeiras salas de cinema dentro de hipermercados Carrefour que atendem as classes C e D. Para analistas, o Carrefour demorou a definir projetos específicos para essas classes e para regiões como o Nordeste. Cerca de 17% das vendas da cadeia são geradas pelas operações nessa região. No Walmart, estima-se que essa participação chegue a mais de um terço das receitas. O plano do Carrefour é entrar com força no Nordeste por meio do Atacadão e do Dia%, que devem consumir boa parte dos investimentos de R$ 2,5 bilhões no País até 2011.
As mudanças na rede também passam pela inauguração de sua página de compras na internet. O site vai ao ar na primeira quinzena de março."Não posso antecipar a data, mas está tudo pronto", afirma Pueyo. É mais uma iniciativa no sentido de reforçar a mensagem de que a companhia está com os pés fincados no Brasil. E o francês Pueyo tem alguma vontade de ir embora? "De jeito nenhum."
Sphere: Related Content