- Folha de S.Paulo - 18/02/2010
Declarações sem confirmação oficial e rumores sobre a criação de uma estatal para vender serviços de acesso à banda larga inflaram em 35.000% as ações da Telebrás desde 2003, sem que, no período, nada tenha acontecido.
A valorização se baseou na suposição, até hoje não transformada em realidade, de que a Telebrás será reativada na implantação do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) -um projeto do governo para levar o acesso à internet a 68% dos domicílios brasileiros até 2014.
A Folha apurou que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) faz, desde 2008, uma ampla investigação sobre o assunto, por meio de uma equipe que inclui não só fiscais do órgão como procuradores.
Em dezembro de 2002, o lote de mil ações ordinárias da Telebrás valia R$ 0,01. No dia 8 de fevereiro passado, ela foi negociada a R$ 2,95 (variação nominal de 29.000% ou de 35.000% -considerando dividendos e juros sobre o capital próprio, segundo a Economática).
O investidor que colocasse R$ 10 mil na empresa no dia 31 de dezembro de 2002 teria R$ 3,5 milhões no dia 8 de fevereiro. Já com um investimento de R$ 100 mil o dono do dinheiro tiraria R$ 35 milhões.
No clima de euforia em torno das ações da Telebrás, o valor de mercado das ações ordinárias da companhia saltou de R$ 3,4 milhões (custo do camarote expresso 2222, no Carnaval de Salvador) para R$ 2,6 bilhões (valor equivalente ao empréstimo do BNDES para a formação da BrT-Oi, maior companhia privada brasileira).
Twitter
Dois episódios retratam a forma como os papéis da empresa se valorizaram. No último dia 2, o representante da Associação Software Livre, Marcelo Branco, usou o Twitter para divulgar, em tempo real, um encontro fechado entre o presidente Lula e entidades da sociedade civil interessadas no assunto.
Dizendo-se autorizado pelo Planalto a usar um telefone no encontro, Branco relatou, citando palavras do próprio presidente Lula, nunca desmentidas pelo palácio, que a Telebrás seria, sim, reativada, na esteira do PNBL.
Credita-se às "tuitadas" de Branco uma valorização de 33% em apenas dois dias.
Após o episódio, o ministro Hélio Costa (Comunicações) negou que já houvesse decisão sobre a reativação da Telebrás, apesar de o Planalto não ter desmentido Branco.
Costa, aliás, protagonizou o maior impulso das ações da Telebrás, em novembro de 2007. Ao participar de evento, ele disse que o governo criaria uma estatal para atender locais onde não há a prestação de serviços tradicionais de telefonia.
Simultaneamente, o presidente da Telebrás, Jorge da Motta e Silva, disse que essa seria uma reparação "tardia" para a empresa. Resultado: as ações subiram 572% em dois dias.
Até 1998, a Telebrás era a holding que agregava todas as empresas de telecomunicações do país. Na privatização, seus ativos foram vendidos e, embora suas ações tivessem continuado a ser negociadas na Bovespa, ela se manteve como espécie de empresa de gaveta.
A rigor, a proposta do governo Lula de criar uma estatal para a banda larga enfrenta forte reação das companhias telefônicas privadas. Elas dizem que a iniciativa desestimulará investimentos privados.
A existência do PNBL foi revelada pelo secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna. As informações divulgadas por ele entraram em choque com as do ministro Costa, que, desde o início, defendia a participação das teles no programa -algo que não havia sido considerado no plano de Santanna.
Após discussões entre os dois ministérios, muitas travadas em público, quase sempre inflando o valor das ações da empresa, Lula decidiu delegar o assunto a Cesar Alvarez, assessor especial do presidente e coordenador dos programas de inclusão digital do governo.
A valorização se baseou na suposição, até hoje não transformada em realidade, de que a Telebrás será reativada na implantação do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) -um projeto do governo para levar o acesso à internet a 68% dos domicílios brasileiros até 2014.
A Folha apurou que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) faz, desde 2008, uma ampla investigação sobre o assunto, por meio de uma equipe que inclui não só fiscais do órgão como procuradores.
Em dezembro de 2002, o lote de mil ações ordinárias da Telebrás valia R$ 0,01. No dia 8 de fevereiro passado, ela foi negociada a R$ 2,95 (variação nominal de 29.000% ou de 35.000% -considerando dividendos e juros sobre o capital próprio, segundo a Economática).
O investidor que colocasse R$ 10 mil na empresa no dia 31 de dezembro de 2002 teria R$ 3,5 milhões no dia 8 de fevereiro. Já com um investimento de R$ 100 mil o dono do dinheiro tiraria R$ 35 milhões.
No clima de euforia em torno das ações da Telebrás, o valor de mercado das ações ordinárias da companhia saltou de R$ 3,4 milhões (custo do camarote expresso 2222, no Carnaval de Salvador) para R$ 2,6 bilhões (valor equivalente ao empréstimo do BNDES para a formação da BrT-Oi, maior companhia privada brasileira).
Dois episódios retratam a forma como os papéis da empresa se valorizaram. No último dia 2, o representante da Associação Software Livre, Marcelo Branco, usou o Twitter para divulgar, em tempo real, um encontro fechado entre o presidente Lula e entidades da sociedade civil interessadas no assunto.
Dizendo-se autorizado pelo Planalto a usar um telefone no encontro, Branco relatou, citando palavras do próprio presidente Lula, nunca desmentidas pelo palácio, que a Telebrás seria, sim, reativada, na esteira do PNBL.
Credita-se às "tuitadas" de Branco uma valorização de 33% em apenas dois dias.
Após o episódio, o ministro Hélio Costa (Comunicações) negou que já houvesse decisão sobre a reativação da Telebrás, apesar de o Planalto não ter desmentido Branco.
Costa, aliás, protagonizou o maior impulso das ações da Telebrás, em novembro de 2007. Ao participar de evento, ele disse que o governo criaria uma estatal para atender locais onde não há a prestação de serviços tradicionais de telefonia.
Simultaneamente, o presidente da Telebrás, Jorge da Motta e Silva, disse que essa seria uma reparação "tardia" para a empresa. Resultado: as ações subiram 572% em dois dias.
Até 1998, a Telebrás era a holding que agregava todas as empresas de telecomunicações do país. Na privatização, seus ativos foram vendidos e, embora suas ações tivessem continuado a ser negociadas na Bovespa, ela se manteve como espécie de empresa de gaveta.
A rigor, a proposta do governo Lula de criar uma estatal para a banda larga enfrenta forte reação das companhias telefônicas privadas. Elas dizem que a iniciativa desestimulará investimentos privados.
A existência do PNBL foi revelada pelo secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna. As informações divulgadas por ele entraram em choque com as do ministro Costa, que, desde o início, defendia a participação das teles no programa -algo que não havia sido considerado no plano de Santanna.
Após discussões entre os dois ministérios, muitas travadas em público, quase sempre inflando o valor das ações da empresa, Lula decidiu delegar o assunto a Cesar Alvarez, assessor especial do presidente e coordenador dos programas de inclusão digital do governo.
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