6 de janeiro de 2010
Por Maria Carolina Maia
Enquanto se prepara para voltar às novelas, gênero com que ingressou na TV, em 1990, Maria Adelaide Amaral faz uma nova incursão pelas minisséries, formato que a consagrou. Dalva e Herivelto, seu novo trabalho, estreou na última segunda-feira, explorando a relação afetivamente explosiva e musicalmente fértil de dois dos maiores nomes da era do rádio. Para a escritora, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins formavam um casal como Courtney Love e Kurt Cobain, os roqueiros grunges que compartilharam drogas, escândalos e depressões. "É uma história repleta de drama, paixão, ciúme, traições e egos feridos", resume a dramaturga.
Quando casados, Dalva e Herivelto dividiram palcos, fãs e boemia. Separados, protagonizaram polêmicas, trocando acusações por meio da imprensa e de canções agressivas. "E a culpada foi ela/ Transformava o lar na minha ausência / Em qualquer coisa abaixo da decência", disparou Herivelto em Caminho Certo, uma parceria com o jornalista David Nasser. Ao que Dalva teria respondido, gravando Errei, Sim, de Ataulfo Alves: "Mas foste tu mesmo / O culpado / Deixavas-me em casa / Me trocando pela orgia." Na entrevista abaixo, Maria Adelaide fala da minissérie, da relação com os herdeiros de Dalva e Herivelto e do retorno aos folhetins com o remake de Tititi, que deve ocupar o horário das 19h a partir do segundo semestre de 2010.
Dalva e Herivelto são representantes da era de ouro do rádio e de um Brasil que não existe mais. A senhora acha que eles são capazes de atrair o público jovem?
Dalva e Herivelto são bem parecidos com algumas figuras que os jovens conhecem bem: Courtney Love e Kurt Cobain, Nancy e Sid Vicious, e outros casais explosivos.
Como a senhora descreve a relação entre Dalva e Herivelto, como parceiros profissionais e como casal?
Ele foi um grande compositor e intuiu que ela, excelente cantora, era o que estava faltando à Dupla Preto e Branco, formada por ele e Nilo Chagas. Os três constituíram o Trio de Ouro, que durou até 1949, quando eles se separaram e ela começou efetivamente a carreira solo, com grande sucesso. Ele não esperava por isso.
Com outras boas histórias sobre a cena cultural brasileira, por que narrar a vida desse casal?
Na verdade, quando fui ao Rio, minha proposta era fazer uma série sobre a Isaurinha Garcia. Mas o diretor musical Mariozinho Rocha me lembrou de Dalva e Herivelto. Imediatamente, começamos a recordar o famoso rompimento dos dois e as músicas que isso gerou. É uma história repleta de drama, paixão, ciúme, traições e egos feridos. E dava para contar em cinco capítulos.
A senhora se especializou em narrativas curtas. É mais fácil escrever uma minissérie do que uma novela?
Tenho mais tempo para pesquisar e escrever, o que faz com que os capítulos sejam desenvolvidos com mais calma. Mas em 2010 retorno às novelas, com o remake de Tititi, do saudoso Cassiano Gabus Mendes, o homem que efetivamente me levou para a TV em 1990, para escrever com ele Meu Bem, Meu Mal.
Consta que Pery Ribeiro, filho de Dalva e Herivelto, se sentiu insatisfeito por não participar das decisões sobre a minissérie. Os herdeiros de fato foram afastados das resoluções?
Todos os herdeiros foram devidamente consultados antes e durante a redação dos capítulos. No período de gravação, a Yaçanã Martins cedeu vários documentos e objetos pessoais de Herivelto, seu pai, e deu alguns palpites na cenografia. O Pery foi consultado sobre a música de abertura, que, aliás, é cantada por ele e Dalva. A minha relação com eles transcorreu num clima de confiança desde a primeira reunião. Aliás, isso era fundamental. De outra maneira, a minissérie nem poderia ser realizada.
A dinâmica do casal era bastante neurótica, mas curiosamente Herivelto nunca ergueu a voz para Lurdes (sua terceira mulher). Apesar da virulência de Herivelto, Fabio deu ao personagem a humanidade que naturalmente ele devia ter.
Sulamérica Trânsito
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