É guerra!
Publicada em 28/09/2009 às 19h40m
O GloboRIO - A quatro dias da escolha da cidade-sede das Olimpíadas 2016, a revista The New Yorker publicou matéria de 12 páginas que destaca a violência do Rio. Com o título "Terra de gangues - Quem controla as ruas do Rio de Janeiro?", o repórter Jon Lee Anderson conta como funciona o domínio dos traficantes nas favelas cariocas. Sob a impactante foto principal, que mostra dois suspeitos de integrar uma facção criminosa detidos pela polícia na Favela de Acari, deitados no chão e sob a mira de um fuzil, está a legenda que dá o tom da matéria: "No Rio: residentes das favelas frequentemente vivem sob a autoridade de fato de gângsteres e de seu exército privado".
NYT: 'Rio 2016 será afirmação global'
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já tinha se queixado à revista de por que a reportagem, feita há quatro meses, ainda não tinha saído. O COB temia que a matéria virasse cabo eleitoral de Chicago. Saiba mais no Blog do Ventura .
" Às vezes, balas passam por cima das cabeças quando gangues rivais da cada lado da via atiram uma contra a outra "
Para escrever a reportagem, Anderson esteve em várias favelas cariocas, com destaque para a Parque Royal e o Dendê, onde entrevistou o traficante Fernandinho, que estava protegido por seguranças armados de fuzis. "O estado está completamente ausente das favelas. As gangues de drogas impõem seus próprios sistemas de justiça, lei e ordem, e de impostos - tudo pela força das armas", descreve o jornalista. Ele também informa que o Rio é o primeiro no ranking das cidades do mundo em mortes por violência intencional: "Dizem que balas perdidas matam ou ferem pelo menos uma pessoa todo dia. Por qualquer cálculo comum, segurança pública no Rio é um desastre", conclui.
Anderson também escreve sobre como, no Rio, "as favelas se aproximam da via expressa que vai para o aeroporto e se espalham ao redor dela": "Às vezes, balas passam por cima das cabeças quando gangues rivais da cada lado da via atiram uma contra a outra".
"Não há maneira de escapar completamente da miséria no Rio", escreve o repórter. A matéria mostra números sobre a violência na cidade e traz entrevistas com um jornalista, um pastor, um policial civil e um político, além de traficantes
O repórter conta ainda a história do Comando Vermelho, desde a mistura de presos políticos a comuns, no presídio da Ilha Grande, e cita que alguns dos presos daquele tempo hoje participam o governo Lula.
Na segunda-feira, o autor explicou, em Nova York, que normalmente demora cerca de três meses para apurar e escrever uma reportagem e que esse foi também o prazo que levou para fazer o perfil das gangues do Rio. Anderson faz questão de esclarecer que ama o Rio e que acredita que a cidade tem plenas condições de hospedar atletas e manter a segurança dos Jogos Olímpicos, mas que nem por isso a disputa entre traficantes e policiais deixa de ser grave:
- Não gostaria que esse debate sobre a cidade a ser escolhida para os Jogos Olímpicos perturbasse um debate que é bem mais profundo, que tem a ver com o problema da desigualdade social.
Ele contou ainda que já visitou o Rio várias vezes, sendo que na primeira vez, em 1997, quando pegou um táxi no Aeroporto Internacional Tom Jobim, atravessou a Linha Vermelha no meio de um tiroteio.
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