06/09 - 00:36 , atualizada às 05:16 06/09 - Ansa
BRASÍLIA - O ex-ativista Cesare Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália e que em janeiro passado recebeu o status de refugiado do Ministério da Justiça brasileiro, disse acreditar que um dia poderá "voltar à Itália como um cidadão livre".
Em entrevista escrita à ANSA, Battisti afirma que -- após o julgamento de seu caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -- espera ficar no Brasil, "fazendo exatamente o que fazia primeiro no México, depois na França, e também aqui antes de ser preso. Quero retomar minhas atividades de escritor e roteirista".
Questionado sobre a possibilidade de retornar à Itália, ele esclarece que gostaria de retornar um dia se fosse anistiado pelo regime italiano. "A Itália é meu país natal, lá estão meus parentes. Não duvido que um dia eu possa voltar à Itália como um cidadão livre".
Condenado na Itália à prisão perpétua por quatro homicídios cometidos na década de 1970, quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), Battisti permaneceu foragido por quase 30 anos. Ele se refugiou no México e na França, onde foi beneficiado pelo asilo outorgado pelo ex-presidente Francoise Mitterand, antes de vir ao Brasil, onde foi preso em 2007.
Desde janeiro passado, após ter recebido do ministro Tarso Genro o status de refugiado político, o ex-militante de esquerda aguarda a decisão do Supremo, que deve analisar seu caso na próxima quarta-feira.
Com otimismo, Battisti afirma que "este tempo prolongado tem servido para que os ministros do STF tenham estudado com maior profundidade o caso e, assim, compreendido porquê não fui responsável pelos quatro assassinatos".
Revelando que está em seu terceiro romance desde que foi detido, o italiano fala também sobre o regime carcerário e sobre seu companheiro de cela, "que é bem tranquilo, o que me permite continuar a escrever quase todos os dias".
Embora as normas do presídio sejam rígidas, "felizmente, posso contar com o apoio externo para cuidar de minha saúde, principalmente, pela hepatite B e diabetes", conta Battisti, que tem recebido a solidariedade de associações sociais e políticas da Itália e também de brasileiros, que enviam cartas, livros e ajudas materiais.
Sobre a distensão nas relações entre Itália e Brasil ocasionada por seu caso, o italiano diz não acreditar que "existe tensão diplomática", pois "a amizade que liga estes dois países é forte demais para não resistir a uma simples questão de soberania nacional", enfatiza no texto de três páginas, escrito à mão e em português, da penitenciária da Papuda, em Brasília.
A Itália, por sua vez, considera que o parecer do STF ainda é imprevisível. Na última semana, um dos advogados do Estado italiano recordou, em declarações à ANSA, que este caso é de "grande complexidade" e, portanto, o Supremo deverá demorar mais de um dia para tomar sua decisão.
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