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sábado, 25 de julho de 2009

Polos de atendimento a gripados sem remédios


Paciente que precisar terá que enfrentar burocracia do governo para ser medicado

Rio - Seis polos de atendimento aos pacientes com gripe já estão em funcionamento no Rio e outros oito começarão a ser abertos no início da semana, mas uma das principais armas não está disponível nestes locais. O Tamiflu — remédio que deve ser administrado nas primeiras 48 horas de sintomas em pacientes graves ou que fazem parte do grupo de risco, como idosos, menores de 2 anos e grávidas — está centralizado na Secretaria Estadual de Saúde e deve ser retirado caso a caso, cada vez que um paciente se enquadrar na determinação do Ministério da Saúde. Quinta-feira, o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, disse que pediu ao ministério, que concentra todo o estoque do remédio no País, mais Tamiflu para ser disponibilizado nos polos de atendimento.

Foto: AGNews
Sandra Annenberg, apresentadora do Jornal Hoje, de máscara no aeroporto com o marido, Ernesto Paglia

A solicitação, no entanto, ainda não foi atendida, de acordo com o estado. Ontem, o Ministério da Saúde afirmou que a obrigação é manter estoque nos 68 centros de referência do País, que recebem apenas pacientes encaminhados e em estado mais grave. Especialistas, no entanto, discordam da determinação. Até médicos têm reclamado de dificuldades de conseguir o remédio para pacientes que se encaixam no protocolo do Ministério.

“Esse medicamento tem que ser ministrado o quanto antes, mas está centralizado num lugar no estado dificultando o acesso. O ministério alega que não quer estimular a automedicação porque pode criar uma cepa resistente, mas tem que confiar nos profissionais de saúde e disponibilizá-lo pelo menos nos polos de atendimento e não só nos centros de referência. Com essa centralização, perde-se muito tempo e isso pode ser decisivo para o paciente”, afirmou o chefe do Serviço de Doenças Infecciosas da UFRJ, o infectologista Edimilson Migowski. “Além disso, a entrega de medicamentos não vem funcionando. Médicos têm me contado histórias de pacientes de grupo de risco que não têm conseguido receber o remédio”.

Presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze concorda que a centralização é um problema. Ele cita o exemplo das dificuldades enfrentadas pela direção da Maternidade Fernando Magalhães, em São Cristóvão, para que gestantes internadas recebam a medicação. “A direção precisa solicitar diariamente um carro à Secretaria de Saúde e disponibilizar um profissional para ir buscar o medicamento no local de distribuição, no Centro. Os remédios são entregues mediante solicitação e só atendem a quem já está internado. Se chegarem outras gestantes com a doença será perdido um tempo precioso para começar o atendimento”, critica.

No Rio, das 5 mortes confirmadas por gripe suína, três pertenciam ao grupo de risco — uma gestante e duas crianças com problemas de base não tiveram o diagnóstico nem o medicamento. Outro problema apontado pelos especialistas é que o ministério deve mudar protocolo em relação ao uso do Tamiflu. O governo federal inclui idosos no grupo de risco, mas exclui os adultos jovens, que têm sido as principais vítimas da doença no Brasil.

“O ministro da Saúde (José Gomes Temporão) tem afirmado que a gripe suína tem uma letalidade baixa, mas isso está mudando. As primeiras pessoas a serem infectadas pelo vírus eram pessoas de classes sociais mais altas, com boa saúde, bem alimentadas e com acesso à saúde. Além disso, todos recebiam o Tamiflu. Agora, os mais pobres, com imunidade mais baixa começam a ser infectados e a morrer”, alerta Migowski.

No início da noite, o Ministério da Saúde afirmou que a questão dos fatores de risco está em estudo. Ontem, o ministério divulgou nota corrigindo o número de mortos pela doença divulgado quinta-feira. O governo divulgou que eram 34, mas houve um erro e o total é de 29. Ontem, a secretaria estadual de São Paulo confirmou outras 4 mortes, totalizando 33 óbitos no País.

Perigo das pílulas do ‘mercado negro’

O medo da gripe suína e a impossibilidade de comprar o medicamento que impede a multiplicação do vírus nas farmácias no País — o estoque está todo com o governo — estão fazendo com que brasileiros negociem o remédio no mercado negro. Segundo o assessor de Segurança Institucional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Adilson Bezerra, o Tamiflu está sendo vendido ilegalmente no Orkut e em ‘blogs’.

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“Estamos investigando para chegar aos fornecedores. Os que estão vendendo esse remédio no Orkut e em ‘blogs’ estão cometendo um crime hediondo, que é equiparado à venda de remédio falsificado. Meu alerta é que os consumidores não confiem, não comprem, porque não há qualquer garantia de qualidade. Esse remédio pode ser falsificado, contrabandeado ou desviado. Provavelmente foi transportado irregularmente, pode ter sido submetido a temperaturas altas e ter efeito alterado. Pode até matar”, diz Bezerra.

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No Rio, após a confirmação da morte da gestante Aldinete Lima, 29 anos, que trabalhava no Camelódromo da Uruguaiana, vendedores começaram a usar álcool em gel para limpar as mãos. “Uso sempre depois que aperto a mão dos clientes ou pego em dinheiro”, conta o vendedor Fabio da Silva, 29, camelô de CDs evangélicos.

JORNALISTA DA GLOBO COM SUSPEITA

VACINA
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, defendeu, na abertura da 37ª Reunião de Cúpula do Mercosul, a suspensão das patentes dos laboratórios que vierem a produzir vacina contra a gripe suína.

JORNALISTA COM SINTOMAS
A jornalista Sandra Annenberg está em quarentena com suspeita da gripe suína. Na última quarta-feira, a apresentadora do Jornal Hoje foi vista ao lado do marido, Ernesto Paglia, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio. Sandra já circulava com uma máscara cirúrgica no rosto.

CRIANÇAS E JOVENS: VULNERÁVEIS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ontem que é mais fácil o vírus da gripe suína expandir-se nas escolas e que, em todo o mundo, crianças e adultos jovens, especialmente entre 12 e 17 anos, são os mais afetados.

MUDANÇA NO VÍRUS DOMINANTE
O vírus da gripe suína pode estar substituindo o vírus da gripe comum, afirmou ontem o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage. Segundo ele, 60% dos exames positivos para gripe desde abril apontaram para o vírus da gripe suína.

SEM AULAS
As prefeituras de Campinas e Osasco adiaram o início das aulas da rede municipal do dia 27 de julho para o dia 3 de agosto para conter a expansão da epidemia no município. A medida foi adotada ontem. A mudança no cronograma das aulas afeta mais de 40 mil alunos da rede municipal de ensino de Campinas e 65 mil em Osasco. O Serviço Social da Indústria do Estado de São Paulo (Sesi-SP) também prorrogou em uma semana o início das aulas em suas 215 unidades como medida preventiva.

Colaborou Flávia Salme

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