BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu nesta terça-feira que poderá haver corte dos investimentos da União previstos nos orçamentos dos ministérios. A declaração foi feita durante discurso em São Paulo, no evento de comemoração dos 60 anos do SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
– Eu não posso assumir o compromisso de que, se houver uma crise econômica que abale o Brasil, a gente vai manter todo o dinheiro em todos os ministérios. Até porque, se a União arrecadar menos, vai ter menos dinheiro para dividir com todo mundo. Só que a gente não pode vender ilusão aqui – afirmou Lula.
À tarde, em Brasília, foi a vez do ministro da Fazenda, Guido Mantega, dar mais declarações realistas sobre à crise mundial:
– A crise não está acabando e ainda dará muita dor de cabeça ao país – disse o ministro, ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados. – Também vai nos dar muito trabalho, mas acredito que a fase mais aguda da crise tenha acabado. Continuará havendo volatilidade, mas vejo uma acomodação.
Na mesma audiência, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, divulgou os números do montante gasto pelo governo para segurar a alta do dólar: US$ 22,9 bilhões. Os leilões promovidos pelo Banco Central para irrigar os bancos fazem parte do que o presidente chama de “medidas pontuais”. Nesta terça, Lula voltou a afirmar que o país não terá pacote econômico para enfrentar a crise:
– Não vamos fazer nenhum pacote econômico na expectativa de que as medidas que já nos foram apresentadas dêem resultado – disse, e depois ironizou as medidas tomadas pelos Estados Unidos. – Até o Bush está falando em comprar ações dos bancos privados, ou seja, significa que o coração do regime capitalista começa a ter gostinho pelo papel do Estado, que esteve desmoralizado nos últimos trinta anos e agora volta a ser peça importante.
No mesmo discurso, o presidente aproveitou para repetir a idéia de que os países emergentes têm papel fundamental nas ações anticrise:
– É importante ter em conta que essa crise pode chegar ao Brasil muito mais leve que nos países de origem. Mas quem está dando solidez à economia mundial são os países periféricos: Brasil, China, Índia, África, os países da América Latina, entre outros.
Para o ministro Mantega, o impacto mais grave no Brasil tem se dado por meio do secamento do crédito para o comércio exterior. Assim como o presidente Lula, ele também ressaltou, porém, que o país está mais forte que em outros tempos crise e, portanto, mais preparado.
– Ninguém escapa dessa crise, que é mundial, mas ela não atinge igualmente todo mundo – disse Mantega. – Atinge menos as economias emergentes dinâmicas.
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