Por vários anos Eliana comandou a Villa Daslu, butique de luxo na zona sul da capital paulista
24 de fevereiro de 2012 | 1h 59
Ricardo Valota e Pedro da Rocha, do estadão.com.br
SÃO PAULO - Morreu na madrugada desta sexta-feira, 24,
aos 55 anos, vítima de complicações causadas pelo câncer, a empresária
Eliana Maria Piva de Albuquerque Tranchesi. Eliana Tranchesi, como era
conhecida no mundo fashion, e estava internada no Hospital Albert
Einstein, em São Paulo. O enterro ocorrer na tarde desta sexta-feira no
Cemitério do Morumbi. A assessoria do hospital só divulgará detalhes do
falecimento de Eliana mediante autorização da família.
A empresária, que comandou por muitos anos a Villa Daslu - butique multimarcas que abrigou um dia as grifes mais luxuosas do mundo em um portentoso prédio neoclássico na Marginal Pinheiros, em São Paulo - em 2006 chegou a retirar um tumor de um dos pulmões e já passava por sessões de quimioterapia e radioterapia.
A empresária foi presa em março de 2009 pela Polícia Federal após ser condenada a 94 anos e seis meses de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, fraude em importações e falsificação de documentos. A sentença foi proferida juíza da 2ª Vara Federal de Guarulhos, Maria Isabel do Prado, e inclui ainda o irmão de Eliana, Antonio Carlos Piva de Albuquerque, diretor financeiro da empresa na época dos fatos, e Celso de Lima, dono da maior das importadoras envolvidas com as fraudes, a Multimport.
No mesmo dia, os advogados de defesa da empresária chegaram a divulgar um relatório médico sobre o estado de saúde de Eliana, que fazia tratamento no mesmo hospital onde ela faleceu. O documento, assinado pelo oncologista Sérgio Daniel Simon, afirmava: "A Sra. Eliana Maria Piva de Albuquerque Tranchesi encontra-se sob meus cuidados médicos desde março de 2009. A paciente é portadora de Adenocarcinoma de Pulmão com metástases em coluna lombo-sacra e por esse motivo encontra-se em tratamento radioterápico e quimioterápico. A paciente recebeu dose de quimioterapia em 21 de março de 2009 com as drogas Alimta, Carboplatina e Avastin.
Na fase em que se encontra atualmente, a paciente necessita de cuidados médicos diários, para a aplicação subcutânea de medicação e controle de exames de sangue. Devido ao uso de quimioterapia, a paciente tem alto risco de infecção generalizada, motivo pelo qual está recebendo medicação diária. Além disso, o uso de Avastin aumenta o risco de crises de hipertensão arterial e sangramento, e também necessitam de atenção médica continuada. Por esses motivos, creio que a mesma não deva permanecer em prisão comum, sendo mais seguro a prisão domiciliar com os cuidados médicos apropriados".
Herdeira da Daslu, Eliana Tranchesi morre aos 56 anos em SP
DE SÃO PAULO
Morreu no início desta madrugada, aos 56 anos, a empresária Eliana Piva
de Albuquerque Tranchesi, dona da Daslu. Ela estava internada no
hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Eliana não resistiu ao câncer contra o qual lutava desde 2006 e que acabou por afastá-la do comando da Daslu, o maior templo do consumo de luxo do país.
Ana Ottoni/Folha Imagem |
Empresária Eliana Tranchesi |
Eliana herdou a Daslu da mãe, Lucia Piva. A loja nasceu quando Tranchesi tinha apenas um ano de idade, na sala da casa de sua mãe, há 55 anos. O nome da loja vem da junção dos nomes das primeiras sócias da loja, Lucia Piva e Lourdes Aranha, ambas apelidadas de Lu.
A loja virou uma grife e, a partir dos anos 90, começou a trabalhar com importados, quando as importações foram liberadas pelo então presidente Fernando Collor de Mello. Ela foi para a Europa e voltou com a mala abarrotada de marcas famosas que caíram no gosto dos endinheirados brasileiros. A partir daí, a Daslu virou referência para quem tinha dinheiro para gastar e queria ver e ser visto.
Ana Ottoni/Folhapress |
Eliana em foto de 2006, quando descobriu o câncer. |
Há 28 anos, porém, ela assumiu o controle da butique, após a morte da mãe e deixou de lado o sonho de ser artista plástica. Começou a trajetória como vendedora, o que, aliás, é prática na loja entre as atuais diretoras e gerentes. Desde o início, ela contou com a ajuda dos irmãos no negócio.
Eliana foi casada como o médico Bernardino Tranchesi e tinha três filhos: Bernardo, 26, Luciana, 23, e Marcela, 20.
Religiosa, tinha o hábito de ir à missa aos domingos. Na Daslu há até uma capela, onde uma missa, fechada aos mais íntimos, serviu de cerimônia de "passagem". Eliana apontou para Deus quando tentou traduzir o segredo do sucesso. "Acho que o segredo do meu sucesso é Deus e trabalhar feliz, em um astral bom", disse a empresária dias antes de inaugurar seu empreendimento na zona sul de São Paulo, em 2005.
POLÍCIA FEDERAL
Em 13 de julho de 2005, teve início a Operação Narciso, da Polícia Federal, onde Tranchesi era suspeita de cometer crime de sonegação fiscal nas importações da Daslu.
Em bilhete, Tranchesi diz que sua vida foi "revirada"; leia íntegra
Entenda o caso de fraude e sonegação na Daslu
Mastrangelo Reino/Folha Imagem |
Eliana deixa a penitenciária feminina em 2009 |
Segundo o Ministério Público Federal, as investigações sobre supostos crimes cometidos pela Daslu duraram cerca de 10 meses.
À época da operação, a Daslu movimentava ao ano mais de R$ 400 milhões em vendas, segundo a conta de especialistas. Eram mil empregados, sendo 200 "dasluzetes" --apelido das vendedoras que recebem até R$ 15 mil (incluindo comissão) por mês. Entre 75% e 80% das pessoas que vão à Daslu não vão embora da loja sem comprar alguma coisa. Já em shoppings, essa taxa varia de 15% a 30%.
Em investimentos, os volumes também são altos. Para a inauguração da nova Daslu --o espaço de 20 mil metros quadrados, incluindo o terraço, aberto ao público em junho de 2005--, foram gastos R$ 200 milhões. Estima-se que R$ 40 milhões tenham sido bancados pela própria Daslu, e o restante, rateado entre as grifes que estão na operação comercial.
SENTENÇA
Em março de 2009, Eliana Tranchesi e Antonio Carlos Piva de Albuquerque foram condenados a 94,5 anos, sendo três anos por formação de quadrilha, 42 anos por descaminho consumado, 13,5 anos por descaminho tentado e 36 anos por falsidade ideológica.
Para Celso de Lima, a pena de 53 anos incluiu três anos por formação de quadrilha, 21 anos por descaminho consumado, nove por descaminho tentado e 20 por falsidade. Para André Beukers, a Justiça deu pena de 25 anos; Christian Polo recebeu 14 anos; Roberto Fakhouri Junior e Rodrigo Nardy Figueiredo receberam 11,5 anos.
As sentenças levaram em conta a teoria do "concurso material", ou seja, que os crimes não foram cometidos em sequência e num mesmo momento, o que permite que se somem todas as penas.
Em sua decisão, a juíza mencionou que a "organização criminosa" também deve ser presa por ter "conexões no estrangeiro" e ter dado prosseguimento aos crimes mesmo depois de descobertos a primeira vez (em 2005), mudando-se apenas o eixo de atuação de São Paulo para o sul do Brasil. "Os acusados praticaram crimes de forma habitual, como verdadeiro modo de vida, ou seja, são literalmente profissionais do crime", escreve Maria Isabel do Prado.
NEGÓCIOS
Em fevereiro de 2008, a BR Malls, maior empresa do setor de shoppings centers do país, anunciou que passaria a gerenciar a Villa Daslu --shopping com 70 lojas anexa à boutique de luxo Daslu.
Segundo a empresa, foi firmado um consócio onde a BR Malls ficaria responsável pela administração da Villa Daslu --na Vila Olímpia (zona sul de São Paulo)--, sem nenhuma espécie de pagamento ou troca de ações entre as duas partes.
Tanto a Daslu como a operação das marcas internacionais feitas pela boutique de luxo ficaram de fora da negociação.
Réus do mensalão jogam suas fichas na antecipação da aposentadoria de
Cezar Peluso, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), para adiar o
julgamento do caso para 2013. O magistrado sai do cargo em abril. E
precisa deixar a corte até setembro, quando se aposenta, aos 70 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário