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sábado, 24 de setembro de 2011

Por que ainda há famílias vivendo sob risco no Coripós



Moradores do Morro Coripós, em Blumenau, convivem com o perigo há cinco décadas

Poder público admite dificuldade de fiscalizar ocupação de área que desliza sem parar há uma semana


A vida segue entre observar o céu e o chão. A parede da casa rachada, a rua que encolheu pela metade ao ser tomada pela lama, a terra molhada que insiste em deslizar mesmo sem chuva, os vizinhos que precisam sair às pressas a cada estrondo de dia ou de noite e as nuvens escuras que anunciam o mau tempo são companhias constantes dos moradores do Morro Coripós, em Blumenau.

Esta semana, 29 casas da região, no Bairro Água Verde, foram condenadas à demolição depois de deslizamentos. O problema existe desde 1983, pelo menos. Porém, o risco de habitar o morro já havia sido anunciado por especialistas há mais de 50 anos.

O geólogo João José Bigarella visitou a cidade na década de 1960 e estudou o Morro Coripós, entre outros lugares de Blumenau. À época, a recomendação ao poder público já era a de proibir a construção de qualquer imóvel no local.

— Analisamos e chegamos a conclusão de que, por estar minada de nascentes d'água, jamais deveria ser permitida a construção de casas no Coripós. Infelizmente, nada do que recomendamos foi acatado — conta Bigarella.

Que o diga Luiz Carlos Fagundes, 47 anos. Ele nasceu, cresceu, casou e cria os filhos na área de risco. Em 2008, foi notificado pela prefeitura. Sem condições financeiras de ir para outro lugar, diz que o destino é ficar ali:

— Quem tem dinheiro sai, quem não tem fica aqui, como a gente.

Mesmo assim, com o risco iminente, o filho de Luiz, de 16 anos, afirma que não pretende sair do morro. Eles criticam a falta de uma política habitacional no município, defendem que o poder público pouco fez para incentivar as famílias a sair do Coripós.

_ Quando acontece a tragédia, os fiscais vêm aqui, agitam, mas logo vão embora e tudo volta ao normal. O que muda com os anos é só o penteado do político, porque o resto continua o mesmo _ afirma Luiz.

Moradores contribuem para aumentar problema
A recuperação da vegetação nos locais de deslizamento do Coripós faz parte de um projeto da prefeitura, sem prazo para sair do papel. Segundo o secretário de Planejamento, Walfredo Balistieri, isso deve acontecer após a estabilização do solo. Porém, há quatro nascentes d'água no alto do Coripós que alimentam a umidade do solo.

Então, por que não desocupa o morro inteiro? Projetos para isso já existiram muitos, afirma o geólogo Gerson Ricardo Müller, que trabalha há mais de 20 anos na prefeitura. Ele lembra que ainda na década de 1980, famílias foram retiradas e indenizadas:

— Mesmo assim, muitas voltaram para o lugar. A construção é feita à noite, quando não há fiscalização. O poder público não trabalha na mesma velocidade e a ocupação irregular volta.

A retirada de uma família não é tão simples, afirma o diretor de Fiscalização da Defesa Civil, Jorge Luiz Heckert. Ele garante que todas são notificadas, mas a saída depende delas. Atualmente, em Blumenau, há cerca de 30 mil famílias em áreas de risco, calcula Heckert:

— Não podemos chegar e arrancar a pessoa à força. Quando constatado o perigo iminente, a lei garante ao poder público a retirada dos moradores. Antes disso, dependemos do bom senso.

Heckert também enfatiza que muitos alugam ou vendem a casa em área de risco. Para a fiscalização, a Defesa Civil conta com 20 agentes. Apesar de tudo, o diretor acredita que desde 2008, houve melhora na conscientização:

— Não é momento de acharmos culpados e, sim, olhar para um futuro mais consciente.

JORNAL DE SANTA CATARINA















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