Reunião de condomínio não tem adesão

• 24 de junho de 2011 |
• 23h55 |

MARICI CAPITELLI
CRISTIANE BOMFIM

Participar de reuniões de condomínio está longe de ser prioridade para os moradores da capital, embora boa parte da população da cidade viva nos 25 mil prédios da metrópole. Estimativas dos especialistas apontam que a média de presença nas assembleias fica entre 10% e 20% dos condôminos.

Para mudar essa situação, síndicos criam estratégias como sorteios, reunião eletrônica, balada para os filhos enquanto pais discutem o regimento e até assembleia no corredor, para pegar os que alegam não ter tempo.

A síndica Zely Marques Caieiros, de 58 anos, que administra um condomínio com 60 apartamentos em Pirituba, zona norte, já tentou até atrair os moradores com um sorteio: os que foram na assembleia concorreram a um mês sem pagar o condomínio.

“Essa assembleia reuniu mais participantes que o normal, mas não repeti porque alguns moradores acharam que era coação e outros, que era um gasto a mais para o condomínio”, conta ela, que disse já ter enfrentado assembleias “bem tumultuadas”.

A ausência dos moradores, justificadas por falta de tempo, por cansaço ou pela demora e confusões nas reuniões, é democrática: ocorre desde edifícios mais simples, como as Cohabs, passando pelos de classe média e os de altíssimo padrão.

O advogado Márcio Rachkorsky, especialista em direito condominial, e que realiza 200 assembleias por ano, diz que “quase nunca” presenciou reuniões com 50% dos moradores.

Segundo ele, é um paradoxo já que a compra de um imóvel é o maior investimento que as pessoas fazem na vida. “Só que ao mesmo tempo deixam as decisões em condomínio nas mãos dos outros.” Em sua avaliação são três os motivos que afastam os moradores.

“As pessoas têm trauma porque as reuniões são chatas, demoradas e dão brigas. Além disso, quem conduz costuma não ter transparência nos assuntos, o que não estimula a participação no próximo encontro.”

Assembleias lotadas só quando dois assuntos estão em pauta: aumento do condomínio e rodízio das vagas de garagem. Fora isso, as reuniões têm a participação sempre do mesmo grupo ou da turma de oposição. José Fábio Silva, de 28 anos, síndico de um prédio em Santo Amaro, disse que, antes de assumir o posto, eram muitas as brigas nas assembleias.

“Tinha barraco mesmo e isso acabou afastando muitos moradores.” Desde que assumiu, vem desenvolvendo estratégias para a participação dos moradores dos 160 apartamentos. Já fez reuniões específicas com as crianças e uma balada no prédio para os adolescentes. “Esse é um caminho para despertar interesse pelas coisas do condomínio.”

Na zona leste, Marcílio Vieira de Lima, presidente da Associação de Síndicos de Prédios da Cohab (Assindic), conta que, de 40 apartamentos por prédio, costumam aparecer nas reuniões entre seis e oito moradores. “Fazemos até assembleias nos corredores para ver se as pessoas param para participar. Mas a maioria não está interessada, acredita que alguém resolve por eles. E isso é muito ruim.”

Num condomínio de luxo do Morumbi, na zona sul, o valor dos apartamentos varia de R$ 700 mil a R$ 4 milhões. São 15 torres em uma área de 230 mil m² onde vivem 950 famílias. E a participação dos condôminos nas assembleias é pequena. “Entre 15% e 20% dos moradores participam. São grupos formados e normalmente dá briga. Já teve até agressão”, conta o médico Marcos Docema, de 43 anos, que há dois anos assumiu a função de subsíndico do condomínio.

Ele conta que os encontros para discutir assuntos de interesse geral dos edifícios tem hora para começar – 20h – e muitas vezes atravessam a madrugada. Por isso, ainda este mês o condomínio pretende implantar a assembleia eletrônica.

Os moradores receberão com antecedência material sobre os assuntos que precisam ser aprovados ou discutidos. Com uma senha de acesso, poderão votar nos assuntos pelo computador ou urnas instaladas nas áreas comuns. “Assuntos mais complicados serão discutidos também nas reuniões normais”, diz o síndico.

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