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terça-feira, 12 de abril de 2011

Diário de Dilma Rousseff: A musa fashion e o lacaio da burguesia


“DIÁRIO DA DILMA”, PUBLICADO NA EDIÇÃO 55 DA REVISTA PIAUÍ

1º DE MARÇO_Começou o mês das mulheres. Para comemorar, cozinhei no programa da Ana Maria Braga. Escolhi omelete para romper com mais uma barreira: quero acabar com a ignorância machista dos que chamam o prato de “o” omelete.

Pena que o Tarcísio Meira não estava no Projac. Sou louca por ele.

À noite, vi o teipe do meu desempenho. Me achei rechonchuda, com papada. Vou começar uma dieta que vi numa Marie Claire. Chama “Detox”, e a revista diz que “enxuga o corpo e deixa a pele iluminada”.

3 DE MARÇO _Guido ligou logo de manhã para avisar que o PIB cresceu 7,5%. Fiquei tão animada que saí deslizando pelo salão. Mamãe, que preparava uma vitamina de kiwi com gérmen de trigo e mel da dieta do Detox, comentou que não me via tão alegre desde que me levou na TV Tupi para ver o programa Pim Pam Pum. A vitamina era horrível.

Acho que vou começar o regime só depois do carnaval.

5 DE MARÇO_Todo mundo acreditou que vou passar o Carnaval na Barreira do Inferno. Vou é cair na gandaia. A fantasia de freira ficou um pouco apertada, mas coube.

Fiquei hospedada na casa de umas amigas, no Catete. Chamei o esconderijo de “aparelho” e brincamos de usar nome de guerra. Escolhi “Rebeca” para mim. Fomos ao Cordão do Bola Preta.

Começo a dieta na Quarta-feira de Cinzas.

10 DE MARÇO_Minha tia preparou um mix de linhaça, gergelim e semente de girassol. Agora, vai! Religuei o celular e havia oito mensagens do Lula e duas do Eike.

À noite, me peguei pensando no Lobão e bateu uma melancolia. Sinto que estamos nos afastando. Resisti ao ímpeto de pegar o pote de sorvete de flocos e fiquei ligada no BBB mascando damasco seco.

11 DE MARÇO_Liguei para o Lula para pegar dicas de como lidar com as centrais sindicais. O Lula é safo: falou para eu dar um abraço apertado no Paulo Pereira e chamá-lo de Paulinho. E para usar a palavra “peãozada” e prometer um churrasco no Torto.

15 DE MARÇO_Me vi na Hebe. Não foi à toa que minha mãe ficou louca com as joias dela. E que plástica bem feita. Mas fiquei com vergonha de perguntar quem fez. Estou impressionada com minha desenvoltura. A entrevista foi café com leite. Tirei de letra. Já me sinto preparada para discursos de improviso e usar metáforas culinárias. Acho que vou dispensar o João Santana, um baiano muito do careiro.

16 DE MARÇO_Estou aflita com o Japão. Mas é um belo pretexto para pedir ao Lobão um relatório sobre energia alternativa. Marquei um jantar para quinta. Vou pedir sopa de quinoa com legumes. Quero montar a mesa, à luz de velas, colada no Abaporu.

Convoquei uma reunião com a equipe que vai me assessorar para receber o Obama: Palocci, Celso Kamura e o Santana. Chegamos a um consenso de que devo vestir vermelho para mostrar que não vou me render à paleta de cores capitalista. O Kamura me recomendou um xale para sugerir que posso ceder em alguns pontos.

Quase tive um ataque quando vi o Mercadante dando opinião sobre as usinas de Angra. Só me faltava essa! O Lobão, tão didático, tão seguro, já tinha explicado tudo. Vou dar uma enquadrada no Mercadante. Como se já não me bastasse o Mantega, que não sabe falar com o mercado, só com porteiro de prédio.

Geraldo Alckmin veio me ver. Pedi para colocarem o olho grego que ganhei da Hebe debaixo da mesa. Comecei o papo perguntando se a filha dele tinha arrumado um emprego depois da falência da Daslu. Na despedida, perguntei como estava o Kassab. Ficou com cara de tacho, o picolé de chuchu.

Estou com os pés inchados. Acho que é retenção de líquido.

17 DE MARÇO_Me encontrei com mais uma loira pop. Tal de Shakira. Não fazia ideia de quem era. Falei em espanhol e ela ficou encantada com a minha fluência. Pena que não soubesse guarânias. O Palocci queria porque queria ser apresentado à loira. Nã-na-ni-na-não! Como se eu não conhecesse a peça…

Soltei minha segunda metáfora: disse que o crescimento econômico não pode ser um “voo de galinha”. Estou besta de ver como isso é eficiente: saiu em todas as manchetes.

Kamura veio com a ideia de convidar FHC, Itamar, Collor e Sarney para o almoço com o Obama. Concordei. Pra quê! Michel Temer ouviu e tentou botar na lista a sogra, três tias, cinco vizinhos e doze diretores de estatais. Tasquei-lhe uma metáfora e uma metonímia.

Lobão desmarcou o jantar na última hora porque madame Nice, a sua digníssima esposa, estava com enxaqueca. As mulheres realmente têm sexto sentido.

Dia de dormir cedo. Obama e a Michelle chegam às sete e meia da matina. Americano tem mania de fazer tudo cedo. Eles jantam às seis da tarde, pode? Ô gente jeca!

A balança informa: emagreci 237 gramas. Estou nos trinques.

19 DE MARÇO_Impressionante a opulência da comitiva americana. Há um trailer, escondido da imprensa, só com vestidos para a primeira-dama. Lá dentro, dizem, há dois galões de laquê. Pedi para o general dos arapongas investigar essa tecnologia.

Assim que subiu a rampa, Obama roçou aquele beição no meu cangote e sussurrou, com voz grave “Hello, prisidenta”. Quase tive um piripaque. Arrepiada dos pés ao topete, só retomei a consciência quando reparei no sapato chinfrim da Michelle.

Modéstia à parte, dei um banho na Michelle. Ela chegou com um vestidinho, meu Deus, que não dá para ir na feira! Depois inventou um brocado dourado. Coisa cafona, brilho de dia. E o backside dela, então?

E falei, falei tudo que estava aqui na minha garganta. Eles querem vender para nós, mas não querem deixar a gente vender para eles. É, bebé, mamar na gata você não qué, né? Falei mesmo. Lógico que com educação porque senão o Patriota ia me atormentar.

O Lula fez forfait. Sempre querendo aparecer, mesmo não aparecendo. Melhor assim, porque eu ia ter que fazer sala para a Marisa, que não entenderia o trocadilho que soltei em cima do Obama: I like Eike.

O Fernando Henrique foi um doce comigo. Que homem fino e bem-apanhado. Pena que seja um lacaio da burguesia.

Vou tomar um sal de frutas porque essa ideia do Patriota de baião de dois com picanha e vinho Valduga foi de matar. Estou entalada até agora.

20 DE MARÇO_Minha mãe ficou superamiga da sogra do Obama. Trocou várias receitas. Preciso saber como a Michelle mantém o peso. Lula mandou um SMS: “Presidenta, desculpe a ausência. O pneu do carro furou quando eu saía de casa”. Nem vou responder.

Engordei 540 gramas. Maldita Detox!

25 DE MARÇO_Obama ligou. Constrangido, disse que a Malia estava com suspeita de dengue. Antes que eu pudesse responder, Michelle tomou o telefone das mãos dele. Estava muito nervosa.

26 DE MARÇO_Essa confusão do Kassab vai sobrar para mim! Mais um apoio ao governo e mais pedido para ajudar os aliados, sei… Esse pessoal pensa que DAS dá em árvore?

27 DE MARÇO_Recebi minhas amigas do cinema. Notei que a Marina Person botou um vestidinho vermelho parecido com o que usei quando o Obama veio me ver. Reparei também que algumas estavam de xale. É a Dilminha, musa fashion do Planalto!

29 DE MARÇO_Recebemos a notícia no Porto, quando o Lula contava o desfecho de uma piada de português. O Santana, no telefone, gritava, desesperado: “Vocês precisam chorar! Chorar muito!” Não sei se vou conseguir: fico uma arara toda vez que penso que ele não reconheceu a filha.

* Escrito por Renato Terra, apresentado pela revista Piauí como o ghost-writer não oficial e não autorizado de Dilma Rousseff







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