[Valid Atom 1.0]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

#politica O homem que faz a cabeça de Lula



Voz moderada do PT, o ex-líder
estudantil José Dirceu foi preso
pelo regime militar, treinou guerrilha
em Cuba e fez até plástica no rosto
para despistar a polícia

João Gabriel de Lima e Thaís Oyama

Rafael Falavigna
Cristiano Mascaro
34 ANOS DEPOIS
O deputado hoje e na época das passeatas históricas: discurso radical, jeito de galã e status de ídolo pop







Se Luís Inácio Lula da Silva vencer as eleições de outubro, o deputado federal José Dirceu de Oliveira e Silva, 56 anos, presidente do Partido dos Trabalhadores, se transformará no segundo homem mais poderoso do Brasil, entre os integrantes do governo. Homem de confiança de Lula, José Dirceu, que já presidia o partido desde 1995, tomou as rédeas de um PT em crise de identidade depois da derrota para FHC em 1998. Conquistou o leme com uma plataforma clara e uma intenção oculta. A plataforma assumida era fazer uma política de alianças que tirasse do partido a pecha de intransigente – viabilizando, assim, a eleição de Lula em 2002. A intenção escondida era afastar as correntes radicais do centro de decisões do partido. Teve sucesso nas duas empreitadas. Um ano antes da coligação do PT com o PL, José Dirceu já dizia, em conversas reservadas com capitães de indústrias, que o vice de Lula seria um empresário, ato que simbolizaria a união capital-trabalho. Na campanha petista à Presidência não se toma uma decisão sem o aval de José Dirceu, que controla tudo com mão de ferro. Num eventual governo petista, sabe-se que ele teria uma posição de destaque. Imagina-se que seria alguma coisa como ministro do Planejamento, pasta considerada a mais importante por Lula, ou chefe da Casa Civil, articulando nos bastidores. Um terceiro caminho, se reeleito deputado, é se transformar no líder superpoderoso do PT no Congresso Nacional.

Já é clichê falar que, caso Lula vença as eleições, o que por enquanto é apenas uma forte possibilidade aritmética, será a primeira vez que um operário chega à Presidência do Brasil. Examinada de perto, no entanto, a biografia de José Dirceu é muito mais surpreendente que a de Lula, a começar pelo fato de que é pouco conhecida. Primeiro, pela comparação entre o moderado de hoje e o mito radical dos anos 60 e 70. José Dirceu está para o maio de 68 no Brasil como Daniel Cohn-Bendit, o Dany le Rouge, para o maio de 68 francês. Ele tinha o status de um ídolo pop para os jovens universitários paulistas da época, e não apenas pela militância numa organização de esquerda, a Dissidência, que comandou várias passeatas históricas. Cabeludo, rebelde, namorador, bonitão e bem-falante, José Dirceu era também uma das referências dos estudantes da geração que ouvia rock'n'roll e falava em amor livre. Preso em outubro de 1968, durante o famoso congresso estudantil de Ibiúna, em que era candidato a presidente da União Nacional dos Estudantes, e libertado em 1969, juntamente com outros políticos, em troca do embaixador americano Charles Elbrick, José Dirceu se refugiou em Cuba, país em que recebeu treinamento para guerrilheiro. O mito tomou corpo nos anos 70, década que atravessou desaparecido. Entre seus ex-colegas de militância, muitos deles na luta armada, circulavam lendas a seu respeito – de que estaria sobrevivendo como músico em Paris, como modelo fotográfico na "swinging London" da época, ou até que teria se casado com uma condessa italiana em Milão. Entre os militares que combatiam a guerrilha, era dada como certa a sua volta para chefiar algum dos grupos armados que atuavam naquele tempo.

Muitas dessas lendas do José Dirceu radical são apenas isso – lendas. Histórias de uma época que, vista a distância e com os olhos do país democrático que o Brasil a muito custo se tornou, soa como um tempo exótico em que nos matávamos por razões políticas como se fôssemos talibãs. A vida real de José Dirceu é ainda mais espantosa do que as histórias que se criaram a respeito dele, e é possível reconhecer no radical do passado muitos dos traços do moderado de hoje. Sobre o José Dirceu guerrilheiro, pode-se dizer que ele o foi sem nunca ter sido. Falava-se em luta armada na esquerda brasileira praticamente desde o golpe de 1964. No auge da agitação, entre 1967 e 1968, o hoje deputado do PT participava de uma das duas tendências mais fortes daquele período, a Dissidência, que se desprendera do Partido Comunista Brasileiro por achar que este havia se tornado "excessivamente burguês". "Não era só isso. Éramos também modernos para a época, porque criticávamos o stalinismo e o estatismo", relembra hoje José Dirceu. Aos marxistas-leninistas da Dissidência se opunha a Ação Popular, oriunda da esquerda católica – a mesma na qual o hoje candidato José Serra, também líder estudantil, militara antes de 1964. Por volta de 1966, integrantes de várias tendências do movimento estudantil resolveram levar a teoria da luta armada à prática – e começaram a formar os primeiros grupos de treinamento. "Eu era contra essa clandestinidade forçada, era contra o movimento estudantil mandar quadros para a guerrilha", diz hoje José Dirceu. "Nem sabia sobre esses grupos, tanto que minha primeira prisão foi um espanto para mim."

AE
ABERTURA NO PT
Da esquerda para a direita: o sindicalista Jair Meneguelli, o hoje prefeito Marcelo Déda, o governador Olívio Dutra, o deputado Paulo Delgado, Lula, Vladimir Palmeira e José Dirceu, em encontro do PT realizado em 1987, ano em que o partido começou a discutir possíveis alianças com outras agremiações

Ele se refere a um episódio ocorrido no fim de 1966. José Dirceu militava no movimento estudantil, cursava direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e trabalhava num escritório. Pela primeira vez na vida, aos 20 anos, morava em seu próprio apartamento. Localizado na Rua Barão de Tatuí, no centro de São Paulo, o lugar podia ser designado pelo termo machista de "abatedouro". José Dirceu tinha uma namorada fixa, Iara Iavelberg, musa da esquerda dos anos 60 que mais tarde seria a companheira de Carlos Lamarca. Mas, seguindo a cartilha liberal da época, ele praticava o "amor livre" com quem aparecesse pela frente – contam-se aí várias estudantes e uma bailarina espanhola chamada Ivone, famosa também pelas habilidades na cozinha. Bom garfo, José Dirceu freqüentava o apartamento vizinho, ocupado por dois italianos que praticavam com maestria a culinária de seu país. Um dia, a polícia apareceu na sua casa e o prendeu. José Dirceu achou estranho. Estudava, trabalhava e tinha endereço fixo. Em pouco tempo a verdade apareceu. Os dois italianos do apartamento ao lado eram da Ação Libertadora Nacional, grupo clandestino militarizado que estava ainda em seu início, e os dois italianos figuravam entre seus organizadores. A polícia estava atrás deles. Ambos foram deportados. Os depoimentos dados em favor de José Dirceu diziam que ele era apenas um boêmio inofensivo e namorador.

Era mesmo. Ele não se satisfazia com as colegas da PUC. Vivia também na famosa Faculdade de Filosofia da USP, na Rua Maria Antônia, onde organizava o movimento estudantil e aumentava seu catálogo de namoradas. Tinha várias ao mesmo tempo e, na época em que a polícia o procurava, se escondia na casa delas. "Às vezes ele estava morando com uma, brigava e tinha de ir embora, deixando as roupas lá", conta o advogado e empresário Percival Maricato, amigo de José Dirceu até hoje. "Mandava, então, que algum amigo fosse enfrentar a fera e recuperar as roupas." Na época, a dramaturga Consuelo de Castro, então estudante da Maria Antônia, escreveu uma peça, Prova de Fogo, em larga medida baseada na vida de José Dirceu. A escritora se inspirou nele para criar o personagem Zé Freitas, um líder estudantil que é um conquistador inveterado, e que se envolve com a líder de uma facção adversária. Na época, José Dirceu, que tinha menos senso de humor do que hoje, leu a peça – que acabaria censurada – e ficou bravo. Ele achava que o texto prestava um desserviço ao movimento estudantil, ao folclorizar seu líder, chamado na peça de "Ronnie Von da esquerda", numa alusão ao cantor que mais fazia sucesso entre as jovens da época. Mas fez as pazes com Consuelo logo depois. O fraco de José Dirceu pelas mulheres era folclórico. Uma noite, enquanto tirava a roupa para dormir com uma estonteante morena de 19 anos chamada Heloísa, colocou o revólver prateado calibre 22 que sempre carregava consigo na cabeceira da cama. Heloísa o pegou e, como que examinando uma peça interessante, desarmou-o. José Dirceu desconfiou e comentou o fato com amigos, que foram investigar a vida da moça. Ela era funcionária da Secretaria de Segurança, de onde deduziram que se tratava de uma espiã do Dops. Apelidada de "Maçã Dourada" pelos companheiros de José Dirceu, por ter sido uma tentação colocada no caminho do líder estudantil, Heloísa sempre negou que tivesse qualquer segunda intenção – além, é claro, de namorar o jovem radical que atravessara seu caminho.

Arquivo Edgard Leuenroth
Arquivo pessoal
ANOS DE MILITÂNCIA
os anos 70, José Dirceu com o líder esquerdista Gregório Bezerra e o militante estudantil Luís Travassos, recebidos por Fidel Castro, em Cuba. À direita, brandindo a camisa ensangüentada do estudante José Guimarães, morto pela polícia em 1968, em São Paulo

Em 1969, depois de ser solto no episódio da troca de presos esquerdistas pelo embaixador americano Charles Elbrick, seqüestrado no Rio de Janeiro, José Dirceu exilou-se na Cuba de Fidel Castro. "Quando fala do passado, José Dirceu cita muito o período de militância estudantil, mas conversa pouco sobre a época em que morou em Cuba", diz o advogado Márcio Thomaz Bastos, amigo pessoal do deputado. É compreensível. O seu exílio cubano não foi nada dourado. Nas raras conversas que teve com amigos sobre o assunto, expressou seu desconforto com os métodos utilizados no treinamento militar a que foi submetido – Cuba, na época, dava apoio logístico a movimentos de luta armada na América Latina e na África. Os aprendizes de guerrilheiros eram acordados com tiros de morteiro. Os instrutores cubanos entravam no alojamento com violência, para que os "recrutas" aprendessem a nunca deixar ninguém abrir a porta sem escorá-la com o pé ou com um cabo de vassoura. Nem os momentos de folga eram tranqüilos. Se alguém se acomodava num bar de costas para a rua, o instrutor aparecia e derrubava a cadeira com o pé – para mostrar que só se deve sentar de costas para a parede. As divisões dentro da própria esquerda também o incomodaram. "Em Havana, o José Dirceu fez a política do serviço secreto cubano", diz Carlos Eugênio Paz, ex-comandante militar da Ação Libertadora Nacional. "Quando perceberam que não poderiam tomar a ALN, os cubanos fundaram outra organização, o Movimento de Libertação Popular, o Molipo. O José Dirceu não era o chefe dessa organização, mas era uma das pessoas que a apoiavam."

José Dirceu entrou clandestinamente no Brasil em 1971, para participar do Molipo. Mas não deu certo como guerrilheiro. "Treinei guerrilha, sim, mas não gostava daquilo, não me envolvi, não era a minha", relembra hoje José Dirceu. Poucos meses depois, voltou para Cuba. Em 1975, desgastado com o exílio e os cubanos, decidiu deixar em Havana o passado, a identidade e o rosto original e foi morar em uma cidade do interior do Paraná, Cruzeiro do Oeste. Por quatro anos, viveu sob a pele de uma ficção: o empresário Carlos Henrique Gouveia de Melo, paulista de origem judia, natural de Guaratinguetá, sujeito pacato e torcedor fanático do Corinthians. Durante esse período, não revelou a verdadeira identidade nem mesmo para a mulher com quem se casou e teve o primeiro filho. Clara Becker só veio a saber que o marido era um ex-preso político, libertado em troca de um embaixador seqüestrado, no quarto ano de casamento (veja quadro).

Carlos Henrique nasceu na mesa de operações de um hospital cubano. Em 1970, José Dirceu submeteu-se a uma cirurgia plástica que lhe transformou as feições. Dois cortes feitos na altura das orelhas permitiram que os médicos levantassem as maçãs de seu rosto, e um terceiro, logo acima do lábio superior, serviu para que lhe implantassem uma prótese no nariz. Originalmente reto, tornou-se ligeiramente adunco. O resultado, se prejudicou sua aparência, ajudou-o a preservar o pescoço – desafio que poucos de seus pares venceram. Dos 28 brasileiros com quem morou em Havana, em 1969, no sobrado que seria depois citado como a "Casa dos 28", nada menos que dezessete morreram nas mãos de policiais brasileiros.

Reprodução Liane Neves
Reprodução Liane Neves

CLANDESTINO
Com o filho José Carlos em Cruzeiro do Oeste, no Paraná, onde viveu por quatro anos sob a falsa identidade do empresário Carlos Henrique Gouvêa de Melo: o disfarce, ensaiado por mais de um ano, incluiu até uma prótese no nariz, que, originalmente reto, ficou ligeiramente adunco

A escolha de Cruzeiro do Oeste se deu por três motivos: a esquerda possuía pelo menos um contato lá, a cidade era pequena (tinha menos de 30.000 habitantes) e ficava no Paraná – então uma espécie de Eldorado brasileiro, onde forasteiros chamavam tanta atenção quanto os milhões de pés de café que fizeram a riqueza do lugar. Dirceu chegou em meados de 1975. À plástica feita em Cuba, havia acrescentado um bigode espesso, um par de óculos de aros grossos e uma história muito bem ensaiada. Dedicara todo o ano anterior à montagem de seu personagem. Criou em detalhes a biografia de seus "antepassados" – judeus que emigraram da Argentina para o Brasil – e, com a ajuda de um amigo brasileiro, esquadrinhou cada quarteirão da suposta cidade natal. "Sabia tudo sobre Guaratinguetá: da sua fundação até o nome do padre", conta. Espalhou que queria entrar no negócio de confinamento de gado, o que lhe permitia rodar as fazendas e sondar os eventuais riscos que a região oferecia. Meses depois, arrumou uma família. Conheceu Clara, dona de uma loja de roupas femininas na cidade, a Clara Confecções. "Ela era uma loiraça", lembra. Em decorrência do namoro e da atividade da mulher, ganhou o apelido do qual até hoje não se livrou: virou o Pedro Caroço – aquele que, na música de Genival Lacerda, sucesso nas rádios da época, vivia "de olho na butique dela". Passaram a morar juntos no fim de 1975. Clara, empreendedora e despachada, ajudou o marido a montar uma alfaiataria, rapidamente substituída por uma loja de roupas masculinas – a Magazine do Homem – e uma pequena fábrica de calças.

A distância que então existia entre a vida do empresário Carlos Henrique e a do ex-líder estudantil José Dirceu era tão grande quanto a que separava Cruzeiro do Oeste da ilha de Fidel. Passeatas, confrontos, prisões faziam parte de um passado enterrado. Carlos morava ao lado da sogra, ajudava a mulher a enxugar a louça do jantar, não gostava de farra e ia do serviço para casa – com uma única e obrigatória parada no bar Central, onde encontrava sua turma. Nas conversas, só trabalho e futebol. "Ele dizia que tinha duas coisas que não discutia: política e religião", lembra Teodorico Picinatto, o Kiko. O advogado Ivo Sooma, ligado à esquerda, foi quem recebeu José Dirceu no Paraná, num encontro marcado à noite em um trevo da estrada entre Cruzeiro do Oeste e Umuarama. "A primeira impressão que tive quando o vi foi de estar diante de um homem apreensivo. Os olhos dele não paravam quietos", lembra o advogado. Nos primeiros meses de clandestinidade, Sooma abastecia José Dirceu com informações frescas vindas de São Paulo – sempre em encontros que, a exemplo do primeiro, eram cercados de cuidados. "Quando queria conversar com ele, passava de chapéu em frente à sua alfaiataria. Era a senha para que nos encontrássemos em um restaurante fora da cidade", conta o advogado.

José Dirceu era cuidadoso. Quando pegava um jornal, preocupava-se em mostrar aos amigos que lia primeiro o caderno de esportes – e só por último o de política. Nas rodas de bar, não tomava mais do que dois copos de cerveja e jamais era visto em aglomerações. Tanta precaução quase foi por água abaixo. Uma pessoa desconfiou de sua história. Aristófanes Hatum, o Tofinho, prefeito da cidade, estranhou aquele forasteiro bigodudo e calado assim que ele desembarcou na cidade. Um dia, chamou Clara ao seu gabinete: "Você sabe que está cheio de terrorista por aí, e esse namorado que você arrumou é muito estranho. Se quiser, mando o Aymoré [delegado da cidade] levantar a ficha dele". Clara improvisou uma resposta: "O senhor deve estar louco. Conheço o Carlos há muito tempo, e ele inclusive é meio parente meu. Não quero ninguém fuxicando a vida dele". Dirceu se emociona quando lembra o episódio. "A Clara mentiu por intuição e salvou a minha vida", diz. Quando ela soube da verdadeira identidade do marido, o filho do casal já tinha 1 ano. José Carlos Becker de Oliveira e Silva, o Zeca, hoje candidato a deputado federal pelo PT, foi registrado com o sobrenome falso do pai. "Depois da anistia, tivemos de mudar todos os documentos dele. O Zeca tinha duas certidões de nascimento, tudo duplo", lembra Clara. À exceção de uma irmã, ela não contou a ninguém o segredo do marido, nem mesmo depois que se separaram, em 1980. José Dirceu havia voltado a São Paulo um ano antes – já de nariz reto, resultado de uma segunda plástica feita também em Cuba, logo após a anistia.

No movimento estudantil, José Dirceu era conhecido pela capacidade de organização e pela obsessão em controlar tudo. No PT essas características persistem, segundo seus correligionários atuais. Quando concorreu a presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, fez um cálculo de quantos votos teria – e acertou quase na mosca. "Ele era obcecado com essas coisas. Sabia quais faculdades estavam com ele e quais não estavam e, dentro de cada uma, era capaz até de dizer em quais salas de aula tinha maioria e em quais não tinha", lembra a amiga Consuelo de Castro. Como estrategista da campanha de Lula ele é exatamente assim. É um leitor voraz de pesquisas, e planeja os eventos da campanha em função dos nichos em que o candidato ainda não tem tantos votos quanto o esperado. Nos anos 60, era José Dirceu quem confeccionava os mapas com os itinerários das passeatas – sempre um falso, para ser divulgado pela imprensa, e um verdadeiro, que era efetivamente usado. Hoje em dia, traça organogramas e se gaba de administrar o PT como uma empresa. "Eu sempre fui da iniciativa privada, então só sei trabalhar assim. Estabeleço metas, cobro resultados obsessivamente e, acima de tudo, me preocupo com as finanças do partido", prega. "Hoje o PT tem crédito em qualquer banco." Nos anos 80, época em que era apenas um dos integrantes da executiva do PT, teve a idéia de contratar um consultor para avaliar as administrações do partido do ponto de vista empresarial. Da sua experiência na clandestinidade, ele aprendeu a agir nas sombras. Principal articulador do PT, tem uma agenda repleta de encontros secretos com lideranças de diversos partidos e diversos setores da sociedade. Quando alguém lhe pergunta sobre sua agenda, ouve inevitavelmente a expressão: "Sobre isso não posso falar. É tudo encontro 'clandeca'". É a gíria do tempo de movimento estudantil aplicada a um novo contexto político.

José Dirceu, claro, não é uma unanimidade dentro do PT. Seus adversários o acusam de jogar pesado, mas as alas radicais do partido, escanteadas por ele, preferem calar num período pré-eleitoral. Já o economista Paulo de Tarso Venceslau, que saiu do PT em 1997, por ter denunciado um esquema de tráfico de influência capitaneado por um amigo de Lula, o empresário Roberto Teixeira, solta a língua quando fala de José Dirceu. "Ele tem fome de poder, e seu estilo é jogar uns contra os outros para se manter por cima", acusa o economista, que participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em troca do qual José Dirceu foi libertado. "Quando alguém se opõe à sua hegemonia dentro do partido, ele envia um preposto para fazer o jogo sujo. Depois, fica dizendo que não foi ele." Venceslau, que conhece José Dirceu desde os tempos de movimento estudantil, considera o ex-amigo um ingrato. "Ele, na verdade, não tem amigos. Apenas usa as pessoas enquanto elas servem. Depois cospe fora, sem nenhuma culpa."

Nascido em Santa Rita do Passa Quatro, interior de Minas Gerais, José Dirceu cultiva cuidadosamente o sotaque caipira até hoje. A conselho do falecido jornalista Claudio Abramo, com quem conviveu nos tempos de estudante, lê bastante para aprimorar o vocabulário. Não esconde seu gosto pelo emprego correto das palavras. Só tem problema com o vocábulo "problema", que sempre sai "pobrema" – motivo pelo qual, quando tem que usá-lo em um discurso, prefere trocar por "questão". Examinando-se a trajetória que vai de Santa Rita do Passa Quatro à presidência do PT, pode-se dizer que José Dirceu chegou aonde chegou porque fez as escolhas mais oportunas – e, quando não conseguiu, o destino fez isso por ele. Se tivesse aderido à luta armada nos anos 60, poderia ter morrido como quase todos os seus companheiros que fizeram essa opção. No período em que ficou detido, nunca foi torturado, e o único dissabor que sofreu foi o corte da cabeleira, "para economizar sabão do Exército", no dizer do coronel Erasmo Dias, que na época ocupava a trincheira oposta. Se, quando voltou ao Brasil em 1971, houvesse aderido à guerrilha, teria sido provavelmente massacrado. Por fim, se não tivesse feito sua conversão a um esquerdismo menos ortodoxo, não seria o líder de um partido que agora disputa a Presidência da República. José Dirceu tem orgulho de sua trajetória. Tanto que colecionou documentos e fotos ao longo da vida e acabou doando esse material ao Arquivo Edgard Leuenroth, da Universidade de Campinas. José Dirceu é uma das poucas pessoas que podem dizer, sem exagero, que a própria vida daria um filme.

"SE TIVESSE ENVIUVADO, SERIA MAIS FÁCIL ESQUECER"

Liane Neves
A MULHER
Clara Becker só veio a saber da real identidade de José Dirceu no quarto ano de casamento


"Quando o Dirceu chegou aqui, começou logo a me rodear. Eu tinha uma lojinha de uma porta só e ele vivia passando em frente. Perguntava para as pessoas: 'Quem é aquela polaca?'. Achei-o bonitão e começamos a namorar. Ele dizia que se chamava Carlos, vinha de São Paulo e os pais haviam morrido. Desde o começo, percebi que tinha alguma coisa torta com ele, mas ele falava: 'Não posso dizer quem sou, só digo que não sou bandido'. Eu pensava: 'Bom, se não matou ninguém e não tem problema com outra mulher, deixa para lá'. Não podia perguntar muito porque ele tinha raiva que desconfiassem dele. Uma vez, quando estávamos namorando, fomos a um casamento chique, cheio de políticos de Curitiba. Ele começou a olhar pra cá e pra lá e eu falei: 'Ô, Carlos, o que é isso? Você está paquerando? Está me fazendo passar vergonha'. Sabe o que ele fez? Levantou e me largou sozinha na mesa. Ficava irritado quando a gente desconfiava. Então, eu ficava quieta – achava que, se começasse a encher a sua paciência, ele iria embora. E eu gostava demais do Carlos. Casamos no fim de 1975 e foi muito bom. Ele não andava atrás de mulher, não bebia e não gostava de farra. Nunca me deixou esperando em casa, com o jantar esfriando. Chegávamos juntos do trabalho, eu lavava a louça e ele enxugava. Era o homem que eu pedi a Deus. Tanto que minhas amigas viviam querendo tomá-lo de mim: 'O Carlos não joga baralho?'. Eu, que não era boba, respondia: 'Não joga, não. Ele não joga nada'.

Um dia, em 1979, estava fazendo o almoço e ele me chamou no escritório: 'Você está sabendo do negócio da anistia? Saiu. Agora estou livre'. Mostrou a foto dele, com os outros banidos: 'Eu sou esse aqui'. Eu pensei: 'Meu Deus do Céu!'. Não entendia nada de política, mas, quando morava em Curitiba, vi a cavalaria subindo em cima dos estudantes e achei aquilo uma loucura. Na época, diziam que a polícia matava mesmo. Fiquei apavorada. Mas não senti só medo. É muito difícil você, de repente, receber a notícia de que o nome do seu marido vai mudar, o nome do seu filho vai mudar. Disse para ele: 'Quer dizer que eu tive um filho de um pai que não existe?'. Aquilo me revoltou. Preferia que não tivesse acontecido nada. Preferia que ele continuasse sendo fabricante de calças. Mas, depois da anistia, ele foi ficando naquela loucura de querer ir embora de Cruzeiro do Oeste para fazer política em São Paulo.

Assisti pela televisão à sua chegada no aeroporto. Vi o meu marido abraçando uma família que eu não conhecia, beijando uma irmã que eu nem sabia que existia. Eu chorava, chorava, chorava. Se tivesse enviuvado, seria mais fácil esquecer. Mas o Carlos não tinha morrido. Estava vivo, só que não era mais o Carlos. Ficamos juntos um tempo ainda, mas não deu certo. Hoje, vejo o Dirceu na TV, gritando ao microfone, defendendo o Brasil... Todo mundo diz que ele tem um valor extraordinário. Mas eu olho para ele e não vejo o homem com quem vivi – é outra pessoa. Eu gosto é do Carlos que mora no meu coração."


22/02/10 – José Dirceu, o bruxo do mensalão está de volta com a companheira de armas Dilma

Em 22 de fevereiro de 2010 às 8:02 | por Bruno Engert Rizzo | 1.014 leitura(s)

José Dirceu de Oliveira Silva ou “Daniel” ou “Carlos” como era conhecido no submundo do terrorismo da esquerda revolucionária brasileira, voltou a fazer parceria com a velha companheira de armas Dilma Rousseff.

Há quem imagine hoje que José Dirceu é “apenas” mais um petista supostamente envolvido em escândalos e falcatruas.

Ledo engano, a ficha de José Dirceu é extensa e ele efetivamente representa uma ameaça, principalmente como articulador da campanha de Dilma Rousseff.

Desde jovem José Dirceu militou na esquerda radical e seu grupo tinha fortes ligações com Ação Libertadora Nacional – ALN, dirigida por Carlos Marighella.

A ALN foi um dos grupos armados mais radicais e violentos a atuar no Brasil e Carlos Marighella ganhou fama internacional no submundo do terrorismo com seu “O Minimanual do Guerrilheiro Urbano”, escrito em 1969. O documento original foi vertido para vários idomas, tendo sido adotado pelo Baader Meinhof (Red Army Faction), pelo Irish Republican Army (IRA) , pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - FARCs e outros grupos terroristas. Na década de 80 a Central Intelligence Agency (CIA) traduziu o manual e o utilizou como material didático na Escola das Américas. Além disso, Já foram apreendidos diversos exemplares do referido manual com traficantes em favelas brasileiras. (O índice do Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi publicado no artigo 01/02/10 – “Anos de Chumbo” x “Era sem Lei”.)

Consta que José Dirceu chegou a ser membro da chamada “Ala Marighuella”, uma dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que pregava a luta armada para impor ao Brasil um regime comunista nos moldes de Cuba.

Como militante radical foi preso. Menos de um ano depois foi trocado juntamente com outros 14 terroristas brasileiros pela vida do embaixador dos Estados Unidos da América, Charles Burke Elbrick, sequestrado pela ALN numa operação conjunta com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Foi banido e passou uma temporada no México e em Cuba, onde recebeu treinamente num Curso de Guerrilhas, supostamente no grupo denominado “III Exército da ALN”.

Na década de 70 voltou ao Brasil clandestinamente usando o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello. Em 1979 retornou a Cuba novamente.

Sua ficha criminal, assim como a de Dilma Rousseff, Franklin Martins, Carlos Mink Baumfeld e de outros ex-terroristas, são os segredos mais bem guardados da República. Nos Estados Unidos da América a ficha destes ex-terroristas é muito bem conhecida. Tanto assim que até hoje, todos têm visto de entrada nos EUA negado. Nem mesmo o status de ministros ou a intevenção do presidente Lula abrem as portas dos EUA a estes indivíduos.

Mas como já mencionado no artigo sobre Dilma Rousseff, este é um passado remoto. O povo já esqueceu e o Brasil já perdou, pois foi objeto de uma ampla, geral e irrestita anistia. Muitos destes terroristas não só tiveram seus crimes perdoados, como também ganharam gordas indenizações por terem sido “vítimas” da ditadura.

A questão mais relevante para o Brasil nos dias atuais é outra. Trata-se de avaliar quem é este José Dirceu que vai comandar a campanha eleitoral de Dilma Roussef para a presidencia da República.

José Dirceu é o que se pode denominar eminência parda ou “bruxo” na esquerda brasileira. Foi o coordenador da campanha de Lula em 2002 e juntamente com um grupo seleto de militantes da ex-esquerda revolucionaria, é o responsável por transformar Lula, o operário mal letrado e líder sindical carismático, em presidente da República.

Por consequência é membro do grupo que manipula o presidente. Não foi por outro motivo que José Dirceu se tornou Ministro Chefe da Casa Civil. Dentro da estrutura do Poder Executivo, este é o cargo de mais poder abaixo do presidente da República.

Como Ministro da Casa Civil foi pivô de diversas crises envolvendo corrupção e negociatas escusas, entre outros crimes. Dentre os casos mais conhecidos estão o de Waldomiro, auxiliar e homem de confiança de José Dirceu e o “mensalão”.

O “mensalão”, conforme vendo sendo investigado, é um gigantesca rede de corrupção e crimes. O próprio governo tem envidado todos os esforços para obstar as investigações que mostram indícios de ligações entre diversos esquemas como:

  • Assassinato do Prefeito Celso Daniel (PT) – 2002;
  • Escândalo dos Correios – 2004;
  • Escândalo dos Bingos – 2005;
  • Escândalo do Valerioduto – 2005;
  • Fraudes no Banco Oportuniti de Daniel Dantas – 2008;
  • e outros.

Apesar da impunidade que reina no Brasil, o “mensalão” acabou tornando a permanência de José Dirceu no Governo insustentável.

No dia 1º de dezembro José Dirceu teve seu mandato de deputado federal cassado tornando-se inelegível até 2015.

No Supremo Tribunal Federal sua situação não é melhor, pois o ministro Joaquim Barbosa atribuiu a liderança de esquema denominado "mensalão" a José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira.

José Dirceu, além de ter sido apontado como o articulador do “mensalão” foi indiciado por crimes graves como corrupção ativa, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato. As ações contra Dirceu se arrastam e ele até hoje não foi julgado.

Se por um lado Lula nunca sabe de nada, José Dirceu é mais ousado, afirma que o “mensalão” nunca existiu e alega inocência em todas as acusações.

José Dirceu é inelegível até 2015, seu nome orbita esquemas suspeitos conforme noticiado pela imprensa e amplamente divulgado na mídia. Além disso, ele está sendo processado por crimes graves.

Apesar deste “curriculum vitae” o Partido dos Trabalhadores o reconduziu a liderança do partido.

Na prática todos estes acontecimentos deixam claro o que a esqueda entede por moralidade e como pretende governar o país se Dilma for eleita.

José Dirceu era na realidade o plano “A” para dar continuidade ao projeto de poder da esquerda que pretende implantar no Brasil um comunismo disfarçado de socialismo. O plano “B” chamava-se Antônio Palocci. Ambos afundaram num mar lambança e caíram. José Dirceu, ainda que quisesse, é inelegível até 2015.

Depois vinha o plano “C” cujo nome era Marina Silva. Este projeto fracassou ainda embrionário pois a senadora, enfraquecida e fritada por Dilma Rousseff, mudou-se para o Partido Verde.

Restou o plano “D”. “D” de Dilma e “desespero”.

Mas a esquerda acredita que, com o prestígio de Lula e a articulação de Dirceu, consigua eleger Dilma.

Dilma e José Dirceu representam a ala mais radical que pretende guinar o país para a extrema esquerda. Se antes esta era uma intenção disfarçada, com a publicação do Decreto nº 7.037 de 21/12/2009, travestido com o nome bonito de Programa Nacional de Direitos Humanos PNDH-3, o projeto se tornou ostensivo.

Além disso, Dilma já deixou claro e disse com todas as letras “Vamos continuar aparelhando o Estado” (OGLOBO 21/02/2010)

É lamentável que em pleno século XXI, o Brasil ainda não tenha criado uma casta de políticos de boa cepa, com sólida base moral e capacidade de lançar o país na disputa das potências.

Novamente gostaríamos de ver um estadista mas estamos diante de eleições nas quais o critério de escolha é deprimente, pois nos obriga a avaliar e tentar eleger o menos pior.

Queira o destino, a bem do futuro das gerações vindouras, que a dupla Dilma e Dirceu ou Estela e Daniel, enterrem de vez a esquerda, de forma a banir do país definitivamente a ameça do projeto comunista que paira sobre toda América do Sul e Latina.


๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑๑۩۞۩๑


LAST

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Nenhum comentário: