11/09/2009 - 07h00
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Morte completa oito anos
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O então candidato à Prefeitura de Campinas pelo PT, Antonio da Costa Santos, o Toninho, em 2000; ele foi assassinado após oito meses de mandato
Ao longo de oito anos de dúvidas em torno do assassinato do ex-prefeito de Campinas (95 km de SP) Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, suspeitos foram apontados, inquéritos e processos foram remexidos, mas ninguém foi condenado pelo crime.
Na noite de 10 de setembro de 2001, Toninho, que completava oito meses no cargo, dirigia seu carro, sozinho, por volta das 22h na saída de um shopping da cidade, quando levou três tiros. Testemunhas avistaram um automóvel em alta velocidade na avenida Mackenzie (região leste da cidade), ouviram os estampidos, mas não souberam descrever os passageiros.
As possíveis motivações do crime ainda são contraditórias. Enquanto a família acredita em vingança política, alegando que o então prefeito ganhou inimigos em sua gestão, inquérito encerrado em 2002 apontou para a quadrilha comandada por Wanderson Nilton da Paula Lima, o Andinho, como responsável pelo assassinato, na tese de que o carro do prefeito teria atrapalhado uma suposta fuga.
Viúva: motivo foi político
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Em 2005, a psicóloga Roseana Garcia, viúva de Toninho, disse à CPI dos Bingos acreditar que o assassinato de seu marido foi político, provavelmente por ele ter contrariado interesses na prefeitura, e não crime comum, como concluiu a polícia
A decisão mais recente sobre o caso saiu no final de julho deste ano, da 3ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de SP. Os desembargadores negaram, por unanimidade, um recurso em sentido estrito do Ministério Público, que pretendia levar Andinho a júri popular pelo assassinato.
Dificilmente será revertida. Seguiu voto do relator, desembargador Amado de Faria, para quem não há indícios concretos de que Andinho tenha encomendado o crime ou mesmo participou dele. O acórdão manteve sentença de setembro de 2007, do juiz José Henrique Torres, de Campinas, que rejeitou a denúncia do MP no caso.
"Por essa razão, ao Tribunal do Júri, cujas decisões são, por vezes, influenciadas pelas paixões e pela eloquência dos contendores, somente podem ser apresentados os casos em que, ao juiz da pronúncia, transpareça, de maneira convincente, o envolvimento do réu nos fatos delituosos", escreveu Faria.
Polícia apresentou suspeito
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Wanderson de Paula Lima, o Andinho, foi preso em 2002; outros três acusados morreram em ações policiais
Segundo o Ministério Público, o carro do prefeito, em baixa velocidade, atrapalhou a fuga de Andinho e mais três comparsas - Valdecir de Souza Moura, Fiínho, Anderson José Bastos, o Anso, e Valmir Conti, o Valmirzinho - que tinham acabado de cometer um latrocínio (roubo seguido de morte).
Apenas Andinho continua vivo. Fiínho morreu em confronto com policiais, em fevereiro de 2002, quando foi preso o primeiro acusado, em uma chácara de Itu (a 103 km de SP). Os dois últimos, durante suposto tiroteio com policiais, em Caraguatatuba (litoral paulista). Houve quem dissesse que as mortes tenham sido queima de arquivo, mas nada ficou comprovado.
Em 2003, o caso teve uma reviravolta, na época da comissão parlamentar de inquérito apelidada de "CPI do Fim do Mundo".
Atos pedem investigação
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Em 2002, ato pela paz reuniu cerca de 700 pessoas no centro de SP; além de Toninho, também foi assassinado Celso Daniel, em Santo André, jogado em uma estrada de terra, em Juquitiba (SP), com marcas de tortura e alvejado por oito tiros
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Em 2006, protesto cobrava uma resposta do governo Lula
O sushiman Anderson Gonçalves, ainda identificado apenas pela alcunha de "Jack", afirmou à CPI dos Bingos que testemunhou três reuniões em um bingo nas quais teria sido tramado o assassinato. Em 2006, foi preso acusado de falso testemunho e, segundo a Promotoria, admitiu a mentira.
Mas as versões sobre o assassinato ganharam fôlego. Em setembro daquele ano, a Justiça determinou a abertura de uma Comissão Especial de Inquérito na Câmara dos Vereadores de Campinas, para investigar supostas irregularidades no contrato do lixo da cidade.
Isso porque, após tomar posse em 2001, Toninho decidira renegociar um contrato de lixo do Consórcio Ecocamp. Os valores, reduzidos de R$ 133,6 milhões para R$ 93,5 milhões, segundo uma testemunha, teriam sido o motivo do crime. O consórcio classificou a acusação como "inaceitável". Nenhuma investigação policial concluiu que houve motivo político no assassinato.
Agora, somente uma nova denúncia, com novas provas que convençam o Judiciário, pode fazer com que um júri ocorra. Para isso, a polícia de Campinas deve abrir um novo inquérito.
Andinho, considerado um dos criminosos mais perigosos do Estado, cumpre mais de 400 anos de prisão pelos crimes de roubo, homicídio e extorsão mediante sequestro na penitenciária Presidente Venceslau 2 (611 km de SP).
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