Lula atenuou o timbre de seu discurso em comício realizado na noite desta sexta (24), em Porto Alegre. Foi transmitido pela internet.
Afagou a imprensa, enalteceu a democracia, lançou um olhar sobre a classe média e disse que, eleita, Dilma Rousseff conduzirá o país à “unidade”.
Em comícios da semana passada, Lula dissera que jornais e revistas agem como partidos. Acusara a mídia de beneficiar José Serra.
No palanque gaúcho, disse: “A imprensa é muito importante para a democracia”.
Antes, afirmara que os meios de comunicação ignoram as conquistas de seu governo. Agora, soou diferente:
“Quando sai uma matéria falando mal, ninguém gosta. Mas quando sai uma matéria falando bem, o ego da gente cresce...”
“...Democracia é isso. Cada um fala o que quer, publica o que quer, transmite o que quer. E o povo faz o julgamento”.
Brincou com os petistas que o rodeavam: “O PT nunca acreditou em pesquisa, mas quando a pesquisa é boa, a gente acredita”.
O Lula da semana passada levara a oposição a acusá-lo de “autoritário”. O Lula desta sexta realçou o apreço que devota à democracia:
“Só na democracia é possível a gente imaginar um torneiro mecânico presidindo um dos países mais importantes do mundo...”
“...Só na democracia é possível um índio presidir a Bolívia, um negro presidir os Estados Unidos, outro negro presidir a África do Sul”.
Voltando-se para Dilma Rousseff, à sua direita no palanque, Lula desdenhou dos que tentem explorar o pedaço guerrilheiro da biografia de sua pupila:
“Não adianta querer me mostrar o passado da Dilma”. Disse que, quando a escolheu como sua candidata, “conhecia o passado” dela.
“Nós não temos vergonha do nosso passado, temos orgulho”, ele fez questão de dizer. Porém, cuidou de acrescentar:
“Ela não vai governar com a cabeça pensando no passado, vai governar pensando no futuro, fortalecendo a democracia, estabelecendo a verdadeira unidade nesse país”.
Disse que, terminada a eleição, não vão se repetir no Brasil os protestos que se seguiram às eleições presidenciais do México e do Irã.
“Essa mulher, eleita, não tenho dúvida de que vai construir uma grande unidade”, repisou.
Lula parecia mais leve. Fez menção à cerimônia de capitalização da Petrobras, que protagonizara mais cedo, na Bolsa de Valores de São Paulo.
“Hoje é um dia gratificante”, declarou. A certa altura, voltou a servir-se da metáfora à Gilberto Freire.
Numa referência indireta ao tucanato, disse que “tem gente que não tolera” o êxito dele na presidência.
Gente que “gostaria que o pessoal da senzala nunca chegasse perto da Casa Grande”.
Também nesse ponto o Lula de Porto Alegre soou diferente do Lula de outros comícios.
Em meio às referências aos brasileiros pobres injetou uma classe social mais suscetível ao noticiário sobre episódios como o ‘Erenicegate’.
“A classe média precisa ser tratada com carinho, porque é a classe média que paga quase todo imposto desse país”.
Antes de Lula, discursara Dilma. Ela disse que responderá ao “ódio” da oposição com “esperança”.
Entre a fala da candidata e do cabo eleitoral, um aviso do locutor: “Acaba de sair um novo Ibope: 12% Marina, 28% Serra e 50% Dilma, próxima presidenta do Brasil”.
Lula discursou em Porto Alegre como se já cuidasse do dia seguinte à eleição. Pareceu interessado em desanuviar o ambiente.
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