24/06/2010 08h00 - Atualizado em 24/06/2010 13h19
Manga endoscópica, colocada pela boca, limita absorção do alimento.
Em um ano, pacientes conseguiram emagrecer em média 30%.
Uma prótese semelhante a uma camisinha, instalada no intestino sem a necessidade de cirurgia, está ajudando pacientes que sofrem de obesidade a emagrecer. O equipamento tem 62 cm de comprimento e impede cerca de 20% da absorção do alimento depois que a comida passa pelo estômago.
O produto foi testado pelo Hospital das Clínicas da USP em 78 pessoas. "Tivemos uma média de perda de 30% do excesso de peso nos pacientes", conta o médico Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura, diretor do serviço de endoscopia gastrointestinal do hospital.
Além de emagrecer, 90% das pessoas que tinham diabetes tipo 2 conseguiram controlar a doença. Isso ocorre, segundo o pesquisador, porque a prótese estimula a produção de insulina e diminuiu a resistência do corpo a essa substância.
O teste foi realizado com pacientes que já tinham indicação de cirurgia do estômago, mas que não podiam fazê-la por causa das más condições de saúde causadas pela obesidade. Participaram da pesquisa pessoas que tinham obesidade mórbida (com índice de massa corporal, IMC, maior que 40) ou obesidade grave (IMC entre 35 e 39,9) com diabetes ou hipertensão.
Segundo Eduardo de Moura, a colocação da prótese não substitui a cirurgia, mas pode ser uma boa alternativa para pacientes que são obesos, mas o caso não é grave o suficiente para exigir a retirada de parte do estômago.
Sem cortes
Para a colocação da manga endoscópica, como é chamada tecnicamente, é necessária a aplicação de anestesia geral. Como o aparelho entra pela boca com a ajuda de cabos e câmeras, nenhum corte é feito no paciente, o que acelera a recuperação.
Por enquanto, é possível ficar com o "preservativo intestinal" por no máximo um ano. De acordo com o médico do Hospital das Clínicas, mais pesquisas são necessárias para saber se o dispositivo pode causar prejuízos à saúde se ficar por mais tempo.
Dentro do intestino, o tubo plástico pode causar alguma irritação. "Eu tive uma reação nos primeiros 40 dias, quando ainda era necessário ingerir apenas líquidos. Quando eu andava de carro, começava a vomitar", conta o consultor financeiro Jose Correa Garcia Junior, de 57 anos, que retirou a prótese em março.
Por causa da menor absorção de nutrientes, quem usa o aparelho pode ter que tomar suplementos alimentares. "É necessário repor ferro, cálcio e vitaminas", explica Eduardo de Moura.
O que diz quem já usou | |
---|---|
Jose Correa já pesou 240 quilos. (Fotos: Arquivo Pessoal) | Jose Correa Garcia Junior, 57 anos "Sou criador de cavalos 'mini-horse'. Como eu não conseguia me pesar em balanças comuns, media meu peso em balanças de cavalo. Cheguei pesar 240 quilos e usar roupa número 80. Hoje tenho 147 quilos e como um quinto do que comia antes. Pena que [a prótese] ficou só um ano." |
Ederson perdeu 30 kg em 4 meses. (Fotos: Arq. Pessoal)
| Ederson Fleming, 32 anos "Fiquei menos de quatro meses [com a prótese] porque soltou um grampo. Nesse período, emagreci 30 quilos, e a diabetes acabou. Foi um aparelho que, quando tirei, chorei muito. No anos passado, em julho, fiz a cirurgia [no estômago]. Fui para a cirurgia com taxa de glicose de uma pessoa normal." |
Paulo Tarso, 57 anos "Eu não era um paciente de obesidade mórbida, mas estava com diabetes. Minha pressão sempre foi alta, em torno de 20 por 12, mas chegou a 12 por 6 [com a prótese]. Antigamente eu era um cara que comia muito, e comida muito gordurosa. Hoje eu penso para comer. Agora o que falta é arrumar um tempo para fazer atividades físicas. |
Volta à normalidade
A remoção do aparelho também é realizada pela boca, sem cirurgia. Sem o equipamento, o corpo volta a absorver os alimentos normalmente, exigindo disciplina dos pacientes para manter o peso.
"Você não pode deixar de ser acompanhado pelo endocrinologista, cirurgião de obesidade, nutricionista, e não vai deixar de ter sua atividade física, seu apoio emocional", alerta Eduardo de Moura.
Chegada ao mercado
A pesquisa estimulou a procura pela instalação da manga endoscópica, mas o produto pode demorar a chegar aos hospitais, pois a empresa que o produz ainda não tem capacidade para fabricá-lo de forma comercial.