Foi o presidente Lula que, durante o lançamento do vale-cultura, há um ano, deu a ordem: o Ministério da Cultura (MinC) tinha de mudar as feições do circuito exibidor e levar salas de cinema para as pequenas cidades e regiões menos favorecidas.
Seguindo a máxima do "manda quem pode, obedece quem tem juízo", MinC e Agência Nacional de Cinema (Ancine) lançaram ontem, em Luziânia (GO), o programa Cinema Perto de Você.
A meta do programa é estimular a construção de 600 salas nos próximos quatro anos. Hoje, cerca de 90% dos municípios brasileiros não possuem cinema.
"O setor se desenvolveu sozinho e tornou-se conservador", diz Manoel Rangel, presidente da Ancine. O conservadorismo espelhou-se num circuito encastelado nas regiões nobres.
A razão para isso é simples. O custo de construção de uma sala no shopping Iguatemi, em São Paulo, ou no interior do Acre é praticamente o mesmo. Mas, obviamente, o público do Iguatemi pode pagar mais não só pelo ingresso como por todas as guloseimas da bomboniere.
É nessa aritmética que o governo interfere. O programa zera IPI e PIS-Cofins na importação de equipamentos e material de construção para as salas nas áreas foco. Os espaços também estarão isentos de PIS-Cofins nos primeiros cinco anos. Criou-se, ainda, uma linha de crédito de R$ 500 milhões.
Danilo Verpa/Folhapress | ||
Sala em São Paulo; governo vai liberar R$ 500 milhões para cronstruir cinemas em pequenas cidades do país |
O grupo prioritário de cidades é aquele dos 89 municípios com mais de 100 mil habitantes sem salas de cinema. O governo também vai privilegiar os empresários que comprarem projetores digitais, adaptáveis ao 3D.
"A classe C é, hoje, o grande mote do varejo. O audiovisual ainda não tinha captado esses novos consumidores", diz Rangel.
Perguntado sobre o viés eleitoreiro do lançamento, o presidente da Ancine disse apenas: "Os programas são lançados quando estão prontos para serem lançados."