23/08/09 - 22h46 - Atualizado em 23/08/09 - 23h31
Advogado de Roger Abdelmassih diz que procedimentos tinham assinatura.
Em novos depoimentos, mulheres falam sobre os supostos abusos.
O Fantástico mostrou neste domingo (23) novos depoimentos sobre o caso do médico Roger Abdelmassih, acusado de mais de 50 estupros contra pacientes. O Ministério Público apura também denúncias de manipulações genéticas indevidas dentro da clínica de reprodução humana. Um ex-colaborador do médico afirma que havia pesquisas escandalosas nos laboratórios do médico.
Veja o site do Fantástico
O médico Roger Abdelmassih está preso desde 17 de agosto em uma cela do 40º Distrito Policial, na Vila Santa Maria, acusado de pelo menos 56 estupros. Ele é um dos médicos mais famosos do Brasil em reprodução assistida. Outras mulheres já procuraram a polícia com denúncias contra o médico. No total, seriam 65 pessoas que se dizem vítimas dele.
O engenheiro químico Paulo Henrique Ferraz Bastos conta que prestou serviços para o médico por mais de dois anos. "Já me incomodava bastante o fato de uma parte das pesquisas da minha empresa veterinária ter sido deslocada para uma clínica de humanos. Quer dizer, culturas de células animais sendo trabalhadas em uma clínica humana”, diz o ex-colaborador em sua primeira entrevista.
Ele diz que tinha acesso aos laboratórios da clínica, mas achava que muita coisa estava errada. “Existem pesquisas na clínica do doutor Roger que são escandalosas. Por isso, eu fui contra e briguei com eles, por uma questão ética”, afirma.
Filho de libaneses, Roger Abdelmassih tem 65 anos e uma longa carreira. Formou-se em medicina em 1968, na primeira turma da respeitada Universidade Estadual de Campinas. Ele começou a carreira em um hospital da cidade. E é daquela época, o início dos anos 70, o primeiro relato de abuso sexual de uma paciente, em uma cama do hospital.
“Ele tocava e falava: ‘é a sua virgindade que eu quero’. Ele perguntou quanto eu queria por ela. Disse para eu pôr o preço, que ele tinha dinheiro para pagar. Ele tirou o membro dele e passou no meu corpo. Depois, eu fugi do hospital”, contou a mulher que fez a denúncia.
Horror em consulta
Uma mulher conta que viveu o horror durante uma consulta. “Ele me travou contra a parede, abriu o meu avental, começou a me beijar e disse para eu não gritar. Foi uma luta corporal. Ele acabou conseguindo fazer a penetração duas vezes, e eu empurrei muito ele”, lembra.
Outra vítima faz o seu relato. "Ele veio com todo o corpo dele em mim. Quando ele beijou meus lábios, eu fechei, que era a única coisa que eu podia fazer naquele momento”, revela a dona de casa Helena. E ainda há mais investigações a serem feitas, segundo o Ministério Público. “Eu perguntei para ele se era possível escolher menina. Ele me falou que sim. Ele simplesmente falou que isso teria um custozinho a mais e disse que ia fazer por US$ 1,2 mil”, conta Helena.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, as técnicas de reprodução assistida não devem ser aplicadas para selecionar o sexo do bebê, a chamada sexagem, exceto para evitar doenças na criança.
Outra ex-paciente faz uma denúncia grave. Diz ter recebido do médico uma proposta depois de uma tentativa fracassada de engravidar. "Ele disse que era muito difícil engravidar na minha idade, mas que a gente podia tentar de novo, que a gente pegaria um óvulo doado. Disse ainda que eu não precisava contar para o meu marido. Ele falou que iria fotografar uma pessoa e me mostrar, para pegar um DNA muito próximo", conta.
O processo contra ele menciona mais uma prática polêmica, a transferência de citoplasma. Na técnica, pega-se um óvulo fértil, geralmente de uma mulher mais jovem, e se retira o citoplasma, uma espécie de gel que fica dentro da célula e tem varias estruturas que fazem o óvulo funcionar. O citoplasma é injetado no óvulo da paciente com dificuldade pra engravidar.
“Ele disse que basta turbinar o óvulo com parte de citoplasma de mulher mais nova. O que ele falou para mim é que a chance de nascer com DNA de outra seria mínima, mas existia, mesmo que fosse pequena”, contou a paciente. “Os indivíduos provenientes dessa tecnologia são potencialmente de três pais genéticos”, ressalta o médico Jorge Hallak.
A técnica foi proibida nos Estados Unidos em 2001. No Brasil, a resolução do Conselho Federal de Medicina, de 1992, não menciona a transferência de citoplasma, pois ela só seria desenvolvida quatro anos depois. O texto estabelece que deve haver sigilo sobre a identidade dos doadores de óvulos, espermatozóides e pré-embriões e que é sempre necessária a aprovação do cônjuge ou companheiro para um tratamento de reprodução assistida.
Segundo inquérito
As denúncias contra Roger Abdelmassih fizeram o Ministério Público abrir um segundo inquérito. Depois de investigar os crimes sexuais que o médico teria cometido, os promotores agora querem saber como era o trabalho dele, as técnicas usadas. A suspeita é a de que existia um banco clandestino de óvulos e espermatozóides dentro da clínica. De acordo com o depoimento de uma paciente à polícia, Roger chegou a propor embriões compatíveis com as suas características físicas e do marido. A mulher perguntou de quem seria o embrião. E o médico teria respondido, já impaciente, que isso era com ele, já que era a parte médica. Segundo o depoimento, ele teria dito que “todas as pessoas na clínica eram de alto nível e não seria embrião de nenhuma neguinha de rua". “Tudo isso é possível. Seria possível fazer realmente na clínica do médico. A tecnologia existe e está à disposição. Do meu ponto de vista, é altamente antiético, mas é possível”, comenta Paulo Henrique Ferraz Bastos. O engenheiro que trabalhou para o médico alega que mudou de cidade, porque estaria sendo ameaçado. “Falavam que aqui no Brasil é muito fácil ser assassinado”. Depois de a Justiça negar dois pedidos de liberdade, a defesa agora vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Todos os procedimentos feitos com as pacientes eram com a assinatura das partes envolvidas. A defesa vai demonstrar de maneira clara, taxativa e transparente a inocência do doutor Roger”, disse o advogado José Luís de Oliveira Lima, que defende o médico. “Para nós, mulheres, o importante é ele ir a julgamento e responder pelo que ele fez e não atender mais como médico”, finaliza Helena.Fale com o Ministério
Antes de enviar sua mensagem consulte a seção Perguntas Freqüentes. Sua dúvida já pode estar respondida. Caso queira registrar uma reclamação ou denúncia preencha o formulário abaixo. Você também pode ligar para o Disque Saúde - 0800 61 1997, a Central de Teleatendimento do Departamento de Ouvidoria Geral do SUS, para receber informações sobre doenças e registrar reclamações, denúncias e sugestões. Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário