22/08/2009 - 12:46 - Atualizado em 22/08/2009 - 12:47
A última semana marcou um dos períodos mais tensos para o PT desde a chamada crise do mensalão, em 2005. Ao encabeçar a defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o partido chegou perto de ver seu líder na Casa renunciar ao cargo, esteve sob uma saraivada de críticas a respeito de seu padrão ético e perdeu dois senadores. Desde que assumiu o poder, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto em 2003, pelo menos 14 políticos influentes já deixaram o PT (confira a relação abaixo). Em comum, o fato de todos terem criticado as atitudes que distanciam o partido de seus ideais fundadores.
Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), o PT passou por uma grande mudança desde que se tornou governo e ruma no sentido do pragmatismo. “O partido adotou o que alguns chamam de realismo político e passou a se curvar a alguns interesses institucionais como se não houvesse alternativa”, diz. “É uma completa ruptura com o que o PT representava em sua origem”, afirma.
O mais relevante desses interesses institucionais atualmente é a aliança com o PMDB. Como essa relação garante a maioria a Lula e pode render frutos em 2010 – quando Dilma Rousseff disputará a Presidência da República – o PT se destacou tanto na defesa de Sarney quanto na de Renan Calheiros (PMDB-AL), que deixou a presidência do Senado em 2007 em meio a denúncias de irregularidades. Nesta sexta-feira (21), o senador Aloizio Mercadante (SP) recuou do que havia dito e afirmou que permanecerá na liderança do PT no Senado, mas deixou clara sua insatisfação sobre a relação do partido com o PMDB. Segundo ele, o PT estava “pagando um custo político que não pode pagar” por conta desse apoio. “Nós precisamos lutar contra o patrimonialismo, pela reforma das instituições, e essa luta não pode se perder em busca da governabilidade”, afirmou Mercadante.
Para Moisés, ao se aliarem a Sarney, Lula e o PT referendaram “a posição mais tradicional do patrimonialismo”, que é o uso da política como patrimônio particular. Uma forma de combater o patrimonialismo de que fala Mercadante é aumentar a transparência das instituições. “Na fundação do PT, além da ideia de mudança social, havia uma proposta para democratizar a política, o que envolve criar elementos para controlar quem detém o poder”, diz o professor da USP.
O senador Eduardo Suplicy (SP), um crítico da postura recente do PT, avalia que a imagem da legenda já foi bastante afetada, e que é preciso resgatar os valores da fundação do partido. “Temos que reconhecer essa situação e tomar medidas para dar maior transparência ao Senado e a outras instituições”, diz. Alguns dos quadros políticos perdidos pelo PT têm bastante relevância no cenário nacional, e três deles podem concorrer com a ministra Dilma Rousseff em 2010 – Marina Silva, que deve ir para o PV, e Heloísa Helena (PSOL-AL) e Cristovam Buarque (PDT-DF), que já disputaram a eleição de 2006, vencida por Lula. Segundo Suplicy, essa é a única forma de mitigar a transformação do custo político em custo eleitoral. "Há uma cobrança enorme da sociedade ao partido e ela vai continuar até que venhamos a corrigir esses problemas", diz.
Confira abaixo os nomes de alguns dos principais políticos que deixaram o PT desde que o presidente Lula assumiu o cargo, em 2003.
Alguns dos principais petistas que deixaram o partido desde 2003 | |
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| O ex-deputado federal Babá (PA) participava de um movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula que considerava “neoliberais” e, portanto, não adequados ao programa do partido. Quando começaram a votar contra o governo Lula na Câmara e no Senado, acabaram expulsos. |
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) deixou o PT em 2005 após Plínio de Arruda Sampaio perder a eleição para a presidência do partido, realizada em meio ao escândalo do mensalão. “O PT saiu de si mesmo ao negar os valores que construiu ao longo da história”. | |
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) era ministro da Educação de Lula e, em 2004, foi demitido por telefone. Ficou no partido até 2005. “Eu não saí do PT, foi o PT que saiu de mim. Este é o grande crime do PT. O partido é de gente honesta, mas acomodada. A corrupção é de alguns petistas.” | |
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) deixou do PT em 2003 alegando que não concordava com as posições que o governo estava tomando com relação a questões ambientais. “Tudo tem limite”, disse ele na época. | |
O senador Flávio Arns foi para o PT em 2002, após deixar o PSDB. Na quarta-feira (19), após o arquivamento das ações contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética, disse que iria deixar o partido. “O PT jogou a ética no lixo, vai ter que achar outra bandeira. Posso dizer que tenho vergonha de estar no PT”. Ele foi acusado de usar o PT para se promover. | |
O jurista Hélio Bicudo, um petista histórico, deixou o PT em 2005 em meio ao escândalo do mensalão. Em 2006, declarou voto em José Serra (PSDB). | |
A ex-senadora Heloísa Helena encabeçava um movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula que considerava “neoliberais” e, portanto, não adequados ao programa do partido. Quando começaram a votar contra o governo Lula na Câmara e no Senado, acabaram expulsos. | |
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) deixou o PT em 2005, também depois que Plínio de Arruda Sampaio perdeu a eleição para a presidência do partido. Em 2008, se disse chocado com o partido. “O que impressiona é que um partido possa estar negociado com dois, três partidos, mesmo que eles sejam adversários e até inimigos”. | |
A deputada Luciana Genro (PSOL-RS) participava do mesmo movimento de Heloísa Helena e foi expulsa depois de votar contra o PT. | |
O ex-deputado João Fontes (SE) participava do mesmo movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula em 2003. Foi expulso junto com Heloísa Helena. | |
A senadora Marina Silva deixou o PT na quarta-feira (19), após 30 anos militando pela legenda. “Já tive uma visão idealista, hoje tenho a clareza de que todos [os partidos] têm problemas a serem saneados”. | |
O ex-deputado federal Orlando Fantazzini (PPS) deixou o PT em 2005, também depois que Plínio de Arruda Sampaio perdeu a eleição para a presidência do partido, ganha por Ricardo Berzoini em meio ao escândalo do mensalão. | |
Petista histórico, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) deixou o partido após perder o primeiro turno das eleições internas, realizadas em meio ao escândalo do mensalão. “O PT esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira”. | |
Soninha Francine, atualmente subprefeita da Lapa, em São Paulo, deixou o PT em 2007 para disputar a Prefeitura pelo PPS. Disse estar “desiludida” com o PT, “no sentido exato de não ter muita ilusão”. |
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