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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A dama da catástrofe

Medidas desastrosas da presidente Cristina Kirchner aguçam crise econômica na Argentina

Octávio Costa

PASSO INSENSATO
Cristina agora quer aumentar as tarifas sobre as importações do Brasil

Cristina Kirchner não surpreende ninguém: está fazendo um péssimo governo na Argentina. Desde que substituiu o marido, Néstor, na Casa Rosada em dezembro de 2007, ela cometeu uma série de erros que só serviram para agravar a credibilidade do país. Em meio à crise financeira internacional, Cristina deu outro passo insensato. Ela decidiu estatizar as administradoras de fundos de aposentadorias e pensões (AFJPs). Essas instituições têm 9,5 milhões de mutuários, movimentam US$ 300 milhões por mês e administram ativos de US$ 30 bilhões. A medida pegou de surpresa o ministro da Economia, Carlos Fernández, que creditou tudo a invenção dos jornais. Fernández estava mal-informado. O projeto de estatização é da lavra de Néstor Kirchner, que continua a mandar por trás dos panos. "A Argentina deve ser o único país no meio dessa crise que não tem um ministro da Economia", lamentou à ISTOÉ o economista Roberto Frenkel, do Centro de Estudios de Estado y Sociedad (Cedes).

Autor de uma frase famosa - "É bom ter em mente que um país pode não dar certo" - , Frenkel está convencido de que o principal problema da Argentina é o ilustre casal poder. "O governo da família Kirchner é a fonte de toda a incerteza", acusa. Os fatos confirmam sua conclusão. Após a desastrada decisão de estatizar os fundos de pensão, o mercado financeiro de Buenos Aires entrou em parafuso. A Bolsa despencou 24,29% num único dia e o dólar disparou para 3,40 pesos. Desconfia-se que o governo pretende usar os ativos dos fundos de pensão para honrar compromissos externos em 2009 e 2010 no valor de US$ 40 bilhões.

Agora, Cristina ameaça sobretaxar a importação de produtos brasileiros, em desrespeito à tarifa externa comum do Mercosul, e exige que os fundos de pensão repatriem US$ 550 milhões aplicados no Brasil. "Pode haver efeito no mercado brasileiro, mas isso é um problema deles, que não me corresponde avaliar", afirmou o gerentegeral da Superintendência das AFJPs, Sergio Chodos, num arroubo de deselegância. Desatinos é o que não falta à gestão de Cristina. Erros grosseiros como a manipulação dos índices de inflação e o aumento do imposto de exportação sobre produtos agropecuários deixaram marcas irreparáveis. A incerteza não pára de aumentar. Durante a ditadura militar, tornou-se hino da resistência o tango Balada para un loco, de Astor Piazzolla. Se o governo de Cristina Kirchner seguir assim, alguém poderá compor a Balada para una loca.





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