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domingo, 26 de outubro de 2008

Jurista: Mídia incita violência contra Lindemberg


by: Luis Hipolito on: 25 Outubro, 2008


Governo do Estado de São Paulo não se pronunciou sobre as agressões sofridas por Lindemberg Alves (Bandnews)

Governo do Estado de São Paulo não se pronunciou sobre as agressões sofridas por Lindemberg Alves (Bandnews)

Diego Salmen

As imagens transmitidas pela Rede Record e reproduzidas pelo Portal Terra do jovem Lindemberg Alves, 22 - que seqüestrou por mais de 100 horas a ex-namorada Eloá em Santo André -, não deixam dúvidas quanto à violência que ele sofreu após a prisão. Discorre-se, como de costume, sobre a brutalidade do acusado, sem questionar, no entanto, aqueles que apóiam, tácita ou explicitamente, práticas tão ou mais violentas que as do inimigo público da vez.

Para o jurista Luis Flávio Gomes, tanto a sociedade quanto a imprensa são complacentes com atos de violência, o que acaba gerando, na população, uma espécie de legitimação das práticas de violação dos direitos humanos - que defendem o processo legal, com condenação e punição para culpados, mas nunca o apontamento de inimigos. Como conseqüência, diz o criminalista, há um tipo de “fascistização” da sociedade.

- A sociedade desrespeita a Constituição e desrespeita tudo no momento em que admite esse tipo de violência - critica.

Gomes acredita ter havido conivência da mídia com a violência policial no caso que terminou com a morte da menina Eloá, 15, depois de passar mais de 100 horas seqüestrada por Lindemberg.

- Cabe ao Ministério Público apurar esses fatos.

O governo do Estado de São Paulo não comenta as agressões sofridas pelo seqüestrador, embora fique sobre ele - o Estado - a custódia de Linbemberg e todos os demais presos dentro de São Paulo. Imagens mostram o jovem com o rosto deformado nas dependências do 6° Distrito Policial de Santo André, SP.

Terra Magazine procurou a Secretaria de Segurança Pública e a Corregedoria da Polícia Civil. Alegaram que o incidente, bem como o vazamento das imagens, “estão sendo apurados”.

A secretaria de Administração Penitenciária, por sua vez, diz através da assessoria de imprensa: “Nós já apuramos e o próprio Lindemberg afirmou que a filmagem foi realizada no 6º DP”. Nenhum dos órgãos, no entanto, quis se pronunciar sobre as agressões a Lindemberg.

Para Luis Flávio Gomes, as imagens “constituem prova” de espancamento.

- Essas imagens são complicadas porque o réu é presumido inocente - afirma o especialista.

Leia a seguir a entrevista com o jurista:

Terra Magazine - As imagens que mostram Lindemberg deformado e cheio de hematomas não o expõe desnecessariamente, sendo que ele é acusado, e não condenado?
Luis Flávio -
Sim, essas imagens são complicadas porque o réu é presumido inocente. Mas ao mesmo tempo a mídia tem o direito de informar. Mostrar imagens num crime que está acontecendo não é aconselhável por uma série de razões, mas não está proibido. Agora, como se vê, essa suspeita de que o réu foi espacando, essas imagens todas constituem uma prova disso.

Por que isso parece legitimo à sociedade? Apesar da cobertura extensiva da imprensa sobre o caso, ninguém esmiuçou essa questão das agressões…
A sensação que a gente tem é de que a mídia nesse caso está conivente com a violência policial. Essa é a impressão que fica. Isso tudo tem que ser apurado, e cabe ao Ministério Público apurar esses fatos.

Existe um apoio tácito da sociedade a esse tipo de ação?
Existe, existe. É isso mesmo. A sociedade de fato tem muita complacência com tudo isso. Ela é complacente com a violência, lamentavelmente.

Essa complacência resulta num processo de “fascistização” da sociedade, que aos poucos vai minando os direitos fundamentais da pessoa?
Sim, tranqüilamente, sem sombra de dúvida. A sociedade desrespeita a Constituição e desrespeita tudo no momento em que admite esse tipo de violência.

TERRA MAGAZINE

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