O comunicado, divulgado poucas horas antes do fim da primeira reunião entre Morales e os governadores da oposição, informa que o presidente do Comitê, Branko Marinkovic, denunciará, neste giro, "atos de violência provocados pelo Movimento ao Socialismo (MAS, partido do governo)" em Pando e as "ameaças" oficialistas em torno do processo de diálogo em Cochabamba.
"Fizemos todo o possível para evitar a violência. Suspendemos os bloqueios de estradas, devolvemos instituições públicas e estamos numa mesa de diálogo."
"Apesar disso, o governo Morales insiste em cercar Santa Cruz e o lugar de diálogo em Cochabamba para amedrontar todos os que estão nesta mesa", disse Marinkovic.
Ele disse estar preocupado com os "sinais de violência" dos seguidores do MAS nas comunidades rurais de Santa Cruz - Yapacaní, Quatro Canhadas e San Julián.
Foi destes lugares que partiram grupos de manifestantes contrários aos líderes opositores de Santa Cruz.
"Com a ajuda de militares venezuelanos, eles ameaçam cercar o Departamento (Estado) de Santa Cruz", acusou.
Ajuda do Brasil
O primeiro vice-presidente do Comitê, Luis Núñez, disse à BBCBrasil por telefone que o roteiro e as datas destas viagens ao exterior serão definidos numa reunião nesta sexta-feira.
"Os seguidores do senhor Morales estão vindo pra cá e estão armados com dinamite e armas de fogo. Pedimos a ajuda e a solidariedade do Brasil porque aqui vivem muitos brasileiros", disse.
"Ele mesmo (Morales) já tinha dito que a suspensão dos protestos era a condição para o diálogo. Mas hoje (quinta-feira) cercaram o local da reunião em Cochabamba para amedrontar os participantes. E os movimentos indígenas continuam sua caminhada de pressão, vindo aqui para Santa Cruz. Estão nos provocando. Isso não é democracia", afirmou.
Segundo assessores do governo Morales, a expectativa é de que os movimentos indígenas suspendam, nesta sexta-feira, a caminhada que realizam para Santa Cruz - Estado símbolo da oposição.
Devolução de prédios ocupados
Durante a primeira reunião de negociação com oito dos nove governadores da Bolívia, nesta quinta-feira, o presidente Evo Morales pediu a seus opositores a devolução imediata de todas as instituições públicas ocupadas por manifestantes como condição para se "colocar um fim ao cerco (no Departamento de) Santa Cruz", realizado por movimentos indígenas. A informação foi dada à imprensa pelo porta-voz de Morales, Iván Canelas.
A reunião, realizada em Cochabamba, no centro do país, durou doze horas e foi acompanhada, de fora, por diferentes movimentos sociais, que apóiam Morales.
Canelas disse que Morales apresentou pontos para se "avançar" no diálogo com a oposição.
O primeiro foi o de dar "via livre" para a convocação do referendo que ratificará ou não a nova Constituição, aprovada no fim do ano passado - a nova Carta é o ponto mais polêmico das discussões entre governo e oposição.
Segundo Canelas, a convocação do referendo poderá ser feita assim que a questão das autonomias dos Departamentos (Estados) for "melhorada", sem, no entanto, dar mais detalhes sobre a questão que é umas das principais reivindicação da oposição.
O porta-voz lembrou ainda que serão formadas três comissões para analisar a nova Carta Magna, os recursos gerados pelo setor petroleiro, através do Imposto Direto dos Hidrocarbonetos (IDH), e a designação de autoridades, no Congresso Nacional, para as instituições públicas.
Dos cinco governadores de oposição a Morales, não compareceu ao encontro o governador de Pando, Leopoldo Fernández, preso na terça-feira, acusado pelo governo de ser o responsável por pelo menos 16 mortes em sua região, na quinta-feira passada.
Nesta quinta-feira, a Justiça decretou formalmente a prisão preventiva de Fernández por "indícios de terrorismo".
A medida foi classificada como "linchamento jurídico" pelo governador.
Denúncias
De acordo com a agência Red Erbol, o relator especial sobre a situação de Direitos Humanos dos Indígenas das Nações Unidas, James Anaya, condenou, nesta quinta, a "recente onda de violência nos departamentos de Beni, Pando, Santa Cruz e Tarija" - região opositora a Morales. E disse que estas ações colocam os povos indígenas "em perigo".
"Condeno os atos de violência contra grupos indígenas e camponeses e denuncio, particularmente, o massacre de 11 de setembro, em Pando, que consistiu numa emboscada de paramilitares contra membros da Federação Sindical Única de Trabalhadores Camponses de Pando (FSUTCP) e estudantes do normal da localidade de Filadélfia, maioria indígenas", disse o relator especial. Sphere: Related Content
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