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domingo, 2 de outubro de 2011

SUS População sofre sem assistência




Usuários que investem caro em plano, exatamente para se livrar das dificuldades no sistema público, também são penalizados
| FÁTIMA ALMEIDA - Repórter
Greve em hospital particular, superlotação em hospitais e maternidades da rede pública, falta de leitos e de profissionais, equipamentos quebrados, ameaça de greve no Programa de Saúde da Família, dificuldades de marcação de consultas e procedimentos médicos pelos planos de saúde e até greve dos profissionais credenciada por esses serviços privados. O que está acontecendo com a assistência à saúde da população?
O acesso a esses serviços nunca foi tarefa fácil, sobretudo quando envolve um tratamento especializado. E quem é usuário do sistema público – o SUS – sabe bem disso. Da emergência aos procedimentos eletivos; da primeira consulta à remarcação, pacientes e seus familiares costumam enfrentar, para serem atendidos, uma verdadeira maratona que exige tempo, paciência, persistência e até resistência física – condicionantes que, na maioria dos casos, são incompatíveis com o estado de saúde de quem procura atendimento.

Crescem queixas contra planos de saúde
A reportagem da Gazeta fez o teste, ligando para três neurologistas: um deles tem vaga para novembro, por qualquer plano de saúde. O outro só para janeiro de 2012. E apenas um pode atender nos próximos dias, dependendo do plano de saúde. Também telefonamos para endocrinologistas. Dos três especialistas procurados, dois não têm mais vagas para este ano, e um, pode atender no final de outubro.
Não é à toa que o número de reclamações relacionadas às operadoras de saúde tem aumentado consideravelmente no Procon, órgão estadual de defesa do consumidor.
“Temos recebido muitas demandas de pessoas que estão há três, quatro meses tentando marcar uma consulta ou realizar um exame, do mais simples ao mais complexo. Parece que essa demora está virando regra nos planos de saúde, porque eles têm subido bastante no ranking de reclamações do Procon, diz o superintendente do órgão, advogado Rodrigo Cunha. E vale ressaltar que muita gente simplesmente desiste, e não procura seus direitos.

Confiança estaria acima de tudo
| FÁTIMA ALMEIDA - Repórter
O direito de escolher o médico de sua confiança, independentemente de estar ou não vinculado a um plano de saúde, é o que defende o médico e professor universitário Marcos Cintra, especialista em ginecologia, obstetrícia e acupuntura médica. “Os seguros garantem essa opção. A seguradora do carro dá a relação de oficinas referenciadas, mas se você preferir fazer o serviço em outro lugar, tem esse direito. É a livre demanda. E o número de reclamações é bem menor”, diz ele.
Credenciado por todos os planos de saúde por quase 15 anos, recentemente ele e alguns colegas com quem divide consultório e compartilha do mesmo pensamento resolveram pedir o descredenciamento, para tristeza de seus pacientes.
O que levou a essa decisão foram vários fatores, inclusive a baixa remuneração, que leva os médicos a realizar um número maior de procedimentos, para compensar. Mas também, e principalmente, a interferência dos planos de saúde nos procedimentos indicados pelos médicos. Os dois fatores acabam afetando o que, na avaliação do profissional, é o que mais deve contar na sua relação com o paciente: a qualidade do atendimento.

Insatisfação leva a descredenciamento
O único problema disso tudo é que o número de profissionais atendendo pelos planos de saúde vem reduzindo gradativamente, à medida que a insatisfação aumenta. E ela tem aumentado tanto que extrapolou as mesas de negociação e tornou-se pública, por meio de atos de protesto realizados pelos médicos em todo País. E muitos dos profissionais que mantêm o credenciamento, têm reduzido o número de atendimentos pelos planos de saúde, deixando uma margem maior para o atendimento particular em seus consultórios. E isso tem gerado uma demanda reprimida na busca pelo atendimento pelo plano de saúde.
“É um problema grave. Os planos não têm remunerado dignamente os profissionais médicos. Pagam uma média de R$ 30 por consulta, quando deveriam pagar R$ 80. E, com isso, prejudicam uma clientela de 45 milhões de brasileiros que pagam por esses serviços e não conseguem marcar uma consulta com um especialista em tempo hábil. Por sua vez, os profissionais não têm como manter os seus consultórios com os honorários pagos. E nos procedimentos cirúrgicos também é uma dificuldade”, diz o presidente do Sindicato dos Médicos de Alagoas, Wellington Galvão.

Espera por cirurgia dura meses
Se é difícil para quem tem plano de saúde, imagine para quem depende da saúde pública. Vítima de um acidente de moto, em março de 2010, o técnico em Enfermagem, Renato César Xavier, 25 anos, vem enfrentando uma via-crúcis para tentar se recuperar das sequelas de uma fratura exposta do fêmur.
Espera desde outubro passado, por um procedimento cirúrgico para colocação de uma placa de metal, já que a primeira se desprendeu do osso, gerando um processo infeccioso, e teve que ser retirada. Os exames pré-cirúrgicos já perderam a validade duas vezes, e a resposta do médico que o acompanha é sempre a mesma: estamos esperando uma vaga para cirurgia ortopédica no hospital.
O longo tempo de espera vai, cada vez mais, reduzindo a esperança do jovem de voltar a andar normalmente. Devido à imobilidade, o joelho já não dobra e a bengala tornou-se companheira indispensável de todos os passos. “Já percebo que minha perna está menor do que a outra”, diz ele, desanimado.

PSF passa por crise no interior
A situação é grave e ultimamente tem dado demonstrações de que nem a Estratégia de Saúde da Família (mais conhecido como PSF), criado com a ideia de levar a assistência para mais perto da população, com estratégias de saúde que visam a redução de índices de mortalidade infantil e de agravos por doenças como hipertensão e diabetes, por meio da demanda controlada, tem cumprido bem o seu papel.
Uma verdadeira crise se estabeleceu nos 101 municípios alagoanos (a exceção é a capital), depois que o Ministério Público Federal (MPF) determinou o cumprimento da carga de 40 horas semanais pelos médicos de Saúde a Família, como previsto nos contratos. E por que essa carga horária não vinha sendo cumprida? Segundo os médicos, porque os salários defasaram muito ao longo dos anos. Eles alegam que ganham hoje um terço dos valores referenciais que ganhavam há 15 anos, quando o programa foi implantado, e precisam completar o pró-labore trabalhando em outros lugares.










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