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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Rodrigo Santoro: “Estou preparado para ser pai”


  • 17 de julho de 2011 |
  • 23h10 |


FLAVIA GUERRA

Rodrigo Junqueira dos Reis é um cara extrovertido, que diz o que pensa e se acha até transparente demais. Marcos é um sujeito calado, de fala e gestos contidos, que tem dificuldade de expressar o que sente. Rodrigo é Rodrigo Santoro. Marcos é Marcos Brunelli, brasileiro radicado em Roma e que tem de voltar ao Brasil após a morte do pai. É também o personagem principal de Meu País, primeiro longa-metragem de André Ristum. A priori, Marcos não tem nada a ver com o ator que lhe dá vida. A não ser por um ponto: ambos são brasileiros que têm profunda identificação com a Itália. Foi exatamente esse detalhe, além de uma história emocionante, que fez com que Santoro se apaixonasse por Marcos e por ele decidisse adiar merecidas férias para entrar novamente no set.

Em sua passagem pelo Festival de Cinema de Paulínia na semana passada, no qual Meu País integrava a mostra competitiva, Santoro conversou com a nossa reportagem sobre cinema, família, Itália e personalidade. Falou também de seu próximo filme. Em agosto, deve filmar em Atlanta, nos Estados Unidos, What To Expect When You’re Expecting (A Bíblia das Grávidas), produção em que fará par com Jennifer Lopez. E garantiu: “Estou preparado para ser pai”.

Como começou a história do filme ‘Meu País’?
Eu estava decidido a tirar férias, quando o Fabiano Gullane, grande produtor e amigo, disse que ia me mandar o roteiro. Eu estava cansado. Mas resolvi ler assim mesmo. E resolvi ler antes de dormir porque é um momento em que a gente já está embalando… Quando o roteiro é bom, a gente termina na hora. Li de uma vez. Passaram dias e a história continuava na minha cabeça. E também havia questões pessoais…

Pelo fato de, como Marcos, você ser descendente de italianos?
Exato. Meu pai é italiano, tenho uma relação forte com a cultura italiana e, ao mesmo tempo, não aprendi italiano na infância. Talvez porque meu avô sempre dizia que tinha de aprender… Por outro lado, a personalidade do Marcos é oposta à minha. O Marcos não expressa o que sente. Eu sou até transparente demais.

É um grande desafio.
Sim. É muito interessante aprender a não externar o conflito, mas não deixar de tê-lo. E difícil. O Marcos não coloca o que sente para fora, mas continua sentindo tudo. É um vulcão silencioso. Não sabe lidar com o que sente. É muito contraditório e rico. Por tudo isso, percebi que precisava fazer este filme. Liguei para o Fabiano e disse: ‘Adiei minhas férias.’

O filme, acima de tudo, fala de família.
É uma história que fala de valores fundamentais e toma conta da gente devagar, como aquela caipirinha aguadinha, que a gente vai tomando e, quando percebe, já está embriagado. Exatamente por falar de coisas que a gente conhece bem. De como é difícil aceitar o outro, ceder, amar de verdade.

Como se preparou para o papel?
Tive só duas semanas. Como o personagem é advogado, eu visitei alguns escritórios de direito em São Paulo. Tive de aprender a falar italiano… A trabalhar a contenção sem esvaziar o que sentia. Como bom filho de italiano, falo com as mãos. O Marcos é contido. Foi um exercício zen.

Marcos é um cara afetuoso.
Ele é quase um anti-herói. O mais interessante é perceber a contradição dele, que está constantemente em conflito, que pode parecer até intolerante e desumano, mas não é. Chega a ser seco, não grosseiro. Só não demonstra o afeto que tem, que não consegue colocar para fora. Sua humanidade está exatamente nesta dificuldade. Sou tão diferente. Eu demonstro sempre o que sinto.

Atores têm sempre essa fama de tímidos.
Verdade. Mas não sou tímido. Sou reservado. Mas posso ser muito extrovertido. Depende. Essa é a beleza de tudo. Estamos em constante movimento.

E constante aprendizado. Você teve de aprender italiano em duas semanas!
Foi. Como disse, meu avô falava português com sotaque. Brigava em italiano com minha avó. Nunca estudei. Há dois anos, recebi convite para fazer um trabalho que queria muito na Itália, mas, por questões de passaporte e por não falar a língua, perdi. Fiquei tão frustrado. Quando surgiu o Marcos, eu disse para o André (Ristum, diretor): ‘Duas semanas? Aprendo!’. Fui estudar com um professor. Tinha as falas do filme como base. E treinei com a Anita (Caprioli, sua mulher no filme) e com o André. Continuei a estudar e hoje entendo tudo e já me viro!

Outro desafio estimulante.
Prefiro errar arriscando. Estar na zona de conforto me incomoda. Preciso de uma fagulha que me inquiete, que me tire o sono, que me estimule. Nada como um obstáculo que nos leve adiante.

Como vai ser o próximo trabalho ao lado de Jennifer Lopez?
Ainda não assinei o contrato. Se der certo, vou fazer o papel de um cara que vai ter um filho, mas que não está pronto para ser pai.

E com ele você se identificou?
Não tenho medo de ser pai. Cresci com meu pai e minha mãe juntos. Sempre tive este ideal de família e me sinto preparado. Mas estou viajando muito. O que gosto no personagem é que esta questão é muito comum hoje. Vivemos tempos muito egoístas. Temos acesso a tudo, queremos curtir, usufruir e perdemos valores essenciais e a capacidade de doar. Acho que ser pai é se doar. É um conflito muito comum hoje..

O que aprendeu em ‘Meu País’?
Italiano (risos) e, pelo Marcos ser introspectivo, comecei a trabalhar isso. Não quero ser outra pessoa. Mas é bom ficar mais na minha. Cada vez mais sei que é essencial que um ator saiba escutar. Se não, vira um monólogo. Aprendi a me expressar para dentro.







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