“Como Esquecer” teve repercussão meses antes da estreia, que acontece neste fim de semana, quando foi noticiado que Ana Paula Arósio interpretaria uma lésbica e beijaria outra mulher. O filme, no entanto, nada tem de erótico. É uma história de amor. E “amor é simplesmente amor”, como diz a diretora Malu de Martino.
Malu já falou de sexualidade – no documentário chamado justamente “Sexualidades” (2004) – e dos desejos femininos – “Mulheres do Brasil” (2006). Agora busca algo mais intangível: o sentimento amoroso. Ou melhor, o “desamor”, como ela ressalta – o vazio que surge ao fim de uma relação afetiva.
A cineasta falou com a Pipoca Moderna no Rio de Janeiro, cidade que serve de cenário para a produção – que também foi buscar as cores cinzentas de Londres para exprimir seu clima. Veja como foi a conversa:
“Como Esquecer” aborda um assunto que ainda é bastante delicado no país, que é a homossexualidade. Por outro lado, lida com o amor, tema corriqueiro nos roteiros de cinema. Como você se preveniu para não cair em armadilhas e estereótipos para ligar os dois assuntos?
Gosto de filme de amor, não considero o gênero esgotado. As histórias de amor, se bem contados claro, emocionam e tocam fundo. “Como Esquecer” é uma história de desamor, portanto uma história sobre amor, mas não acho que precise escapar de estereótipos ou armadilhas para contá-la. Fazer dos personagens pessoas criveis já é meio caminho andado. Sobre ligar os dois assuntos: é muito fácil, o amor é simplesmente o amor não faz diferenças de gênero.
Até onde existiu a necessidade de contar esta história de amor e perdas através do ponto de vista de uma mulher homossexual? Existe algum conflito por este motivo ou só a urgência de normalizar visões distorcidas a partir de uma escolha sexual?
Não existiu essa necessidade. O filme é baseado o livro “Como Esquecer – Anotações Quase Inglesas” da Myriam Campello. A protagonista era lésbica e em nenhum momento achei que deveria mudar isso. O filme não é panfletário e não há nenhum conflito relacionado à sexualidade dos personagens, mas confesso que trazer para o trato comum, para o cotidiano, a imagem de duas mulheres andando de mãos dadas ou dois homens se beijando me agrada muito. Espero contribuir de alguma forma para o fim da homofobia.
Como foi o processo de captação de recursos para o filme? Soube que, pelo tema tratado, muitos gostaram do projeto, mas não ousaram investir.
Ainda há muita resistência em associar produtos e marcas ao universo LGBT. Por outro lado, há muitas empresas e instituições que concedem benefícios aos casais homoafetivos, e foi através delas que conseguimos realizar o “Como Esquecer”.
“Como Esquecer” é baseado no livro homônimo de Myriam Campello que trata de perdas na vida adulta. É possível dizer que a ausência, no filme, chega a ser o principal personagem?
Não diria que é a principal personagem, mas é sim uma das protagonistas… Realmente, o filme é sobre perder alguém que a gente ama muito e me parece que, nesse momento, o momento em que estamos elaborando essa perda, a ausência passa a ser o principal assunto das nossas vidas.
Você poderia falar um pouco sobre como foi a direção de atores? Como foi feito o trabalho para todos eles imergirem no vazio sugerido pelo roteiro?
Trabalhamos muito! Ensaiamos um mês diariamente em estúdio, depois mais algum tempo na casa onde se passa a maior parte do filme. Vimos filmes, lemos textos, ouvimos músicas, fizemos exercícios de tai chi chuan… Tudo para nos sentirmos próximos uns dos outros, ao ponto de criar uma intimidade real e trazer isso para a tela.
A fotografia parece maravilhosa. Como foi a elaboração do aspecto visual do filme? Tiveram alguma referência direta?
Este é o meu terceiro filme com (a Diretora de Fotografia) Heloisa Passos. Criamos uma cumplicidade criativa muito proveitosa para o trabalho. O processo foi mais ou menos o mesmo dos filmes anteriores, vimos filmes, quadros, lugares que serviram de referencia para a composição. O Rafael Ronconi (Diretor de Arte) contribuiu muito nesse processo, trazendo as referencias dele também. Heloisa tem muito talento e temos amadurecido juntas nossa maneira de filmar. Acho que isso está impresso na tela.
Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário