Fotos: Wilson Dias/ABr e Sérgio Lima/Folha
Em comício realizado no dia 28 de julho, na cidade de Natal (RN), Dilma Rousseff brindara a platéia com uma frase de efeito. Discursara: “O presidente Lula me deixou um legado [...], que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo brasileiro”.
Num primeiro momento, imaginou-se que a passagem tivesse um quê de Lourival Fontes. Era o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo, que criou para Getúlio Vargas o epíteto de “pai dos pobres”.
Descobre-se agora que a “inspiração” de Dilma teve outra origem. A frase foi ditada pelo próprio Lula, patrono e guia da candidata. Em entrevista à revista ‘IstoÉ’, Lula contou: “Eu tenho dito para a Dilma que ela tem que dizer: ‘Eu não vou governar o Brasil. Eu vou cuidar do povo brasileiro’.”
Dois dias depois do discurso pronunciado por Dilma ‘Mãe do Povo’ Rousseff, Lula ecoaria a pupila, em Curitiba. Deu-se num encontro promovido pela Federação das Indústrias do Paraná. Ao lado de Dilma, Lula pediu votos à platéia de empresários:
"Se tem alguém aqui com preconceito, não tenha preconceito por votar numa mulher. Deixa de ser besta. Ela é uma mãe. Foi ela que lhe pariu". Na entrevista veiculada neste final de semana, o presidente explicou a lógica da tática materna.
Visa combater “o preconceito” contra a ascensão das mulheres, “uma coisa cultural muito forte no mundo e no Brasil”. Lula recordou:
“Fui num debate com empresários no Paraná. [...] Eu dizia a eles: O que leva um homem a ter preconceito contra um ser humano que o carregou na barriga nove meses? Que o limpou enquanto ele não sabia se limpar? [...]”
Lula prosseguiu: “Vamos ser francos: o nosso caráter é o da nossa mãe. A gente pode adorar o pai da gente, mas na hora, que a gente caiu quem estava do nosso lado era nossa mãe...”
“...Na hora que a gente tinha dor de barriga quem estava conosco era nossa mãe. Na hora que a gente acordava de noite chorando quem estava do nosso lado era nossa mãe. Quem levantava para trocar nossa fralda de noite era nossa mãe [...].”
Noutro trecho da entrevista, Lula como que envernizou o “legado” que Dilma dissera, em Natal, ter recebido dele: “Eu acho que o grande legado que vai ficar da minha passagem pela Presidência são os pobres desse país estarem acreditando que eles podem chegar lá. É isso que eu quero fazer com a mulher...”
“...A mulher não é apenas a maioria numérica. Em muitas funções, a mulher é igual ou mais competente do que os homens. [...] As nossas mulheres têm coragem de fazer brigas que nós não fazemos”.
Na mesma entrevista, Lula revelou detalhes da gênese da candidatura presidencial de Dilma. Cogitara outras opções. Porém, elas foram erodidas pelos escândalos. Foi-se José ‘Mensalão’ Dirceu. Esvaiu-se Antonio ‘Sigilo do Caseiro’ Palocci.
Lula acordou para Dilma depois de tê-la acomodado na cadeira que fora de Dirceu, em 2005: “Quando ela veio para a Casa Civil começamos a trabalhar juntos, a nos reunir cotidianamente, a discutir as reuniões...”
“...Aí eu percebi que estava diante de um animal político não trabalhado, de um animal político que foi educado a vida inteira para ser técnica. E eu comecei a falar: bom, agora nós temos que descobrir o lado político de Dilma”.
Decorridos três anos, Lula pôs-se a “preparar” a candidatura. Ele rememorou: “O primeiro momento que me veio na cabeça foi quando eu, na Favela da Rocinha, no Rio, disse que ela era a mãe do PAC. Ali, na verdade, eu estava começando a preparar”.
Era 7 de março de 2008. No mesmo discurso em que começara a “preparar” a candidata, Lula negara o propósito eleitoral dos pa©mícios: "Deus é tão justo e tão grande que permitiu o lançamento do PAC em um ano que eu não era candidato". Conversa mole.
Estava, de fato, impedido de disputar, mas se sentia à vontade “preparar” a sucessão: “Fui colocando a Dilma em várias reuniões das quais, teoricamente, ela não precisaria participar”, relatou Lula na entrevista. “Comecei a levá-la para viajar comigo, para que começasse a ver o mundo de uma concepção mais política”.
Em certos momentos, o entusiasmo levou Dilma a confundir os dois mundos em que passou a viver –o político e o administrativo. Em 17 de abril de 2008, por exemplo, em Belo Horizonte, chamou de “comício” uma solenidade de entrega de obras do PAC (reveja a cena abaixo).
Ao utilizar a engrenagem pública para moldar sua candidata, Lula irritou a oposição e deixou em alerta a Justiça Eleitoral. Mas as pesquisas indicam que obteve um sucesso estrondoso. Em 2010, o presidente vê florir de intenções de votos o poste que rega desde 2005.
Agora, para assegurar a colheita nas urnas de outubro, monitora cada movimento de Dilma. Chega mesmo a ditar-lhe as frases que deve dizer nos comícios.
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