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sábado, 24 de abril de 2010

Ciro Gomes é aconselhado a se afastar do país a partir de terça

Cúpula do PSB sugere autoexílio ao deputado, caso sua candidatura venha a ruir


A asfixia política exercida contra Ciro Gomes (PSB-CE) pelo governo Lula e pelo próprio partido não se encerra no sepultamento de sua candidatura à Presidência, prevista para ser oficializada na terça-feira. Para evitar que o deputado direcione sua revolta à campanha de Dilma Rousseff (PT) e às alianças da base governista nos Estados, ele está sendo convencido a se submeter a um autoexílio no Exterior.

– Se ele ficar no país, vai cair atirando. Por isso, foi orientado a viajar e depois se dedicar à campanha de Cid Gomes (irmão do deputado) à reeleição no Ceará – já dizia um integrante da cúpula do PSB antes de o deputado lançar ataques na sexta-feira.

Ciro está enfurecido. Deixou isso claro ao afirmar na madrugada de sexta-feira que o presidente Lula está “navegando na maionese” e “se sentindo o Todo-Poderoso”, mas “ele não é Deus”. Para arrematar, o deputado diz que acredita na vitória de José Serra (PSDB).

Boicotado por Lula e pelos correligionários, não atende ao telefone nem responde a e-mails, mesmo dos políticos mais próximos. Na segunda-feira, viajou a Brasília pela primeira vez nas últimas quatro semanas. Ainda assim, evitou ir à Câmara, onde seu desempenho como parlamentar é baixo – em quatro anos de mandato, não apresentou um único projeto de lei e faltou a 42% das sessões.

Ciro nunca escondeu sua aversão à letargia do processo legislativo. Ex-prefeito, ex-governador e ex-ministro, tem apreço pelo Executivo. Tendo sido um dos políticos mais leais a Lula durante o escândalo do mensalão, o socialista julgava ter acumulado capital político que lhe permitiria voos maiores na eleição deste ano. A pedido do presidente, transferiu o título de eleitor do Ceará para São Paulo, Estado onde nasceu.

Nos planos de Lula, Ciro concorreria ao governo, garantindo palanque para Dilma e um arsenal de ataques a Serra, seu desafeto. A virulência verbal do deputado, planejou Lula, pouparia Dilma de um confronto com Serra num território dominado pelos tucanos. Ciro, contudo, pensava diferente.

– Ele só aceitou transferir o domicílio eleitoral porque achou que a aliança do PT com o PMDB iria fracassar e assim estaria credenciado a ser vice da Dilma – revela um interlocutor do socialista.

Com os avanços da parceria PT-PMDB, Ciro acabou embretado. Disparou contra os dois partidos, contra o governo e até mesmo contra o PSB, numa atitude que só ampliou seu isolamento. Ao escrever um artigo postado em seu blog pessoal, questionou a identidade do partido: “O que é o PSB? Um ajuntamento como tantos outros, ou a expressão de um pensar audacioso e idealista sobre o Brasil?”. Interessados em montar alianças para as campanhas ao Senado e aos governos estaduais, os socialistas ignoraram o ataque e passaram a boicotá-lo.

– Esse tipo de comportamento só atrapalha. Afugenta aliados e doadores – resume um deputado do PSB.

Para o governo, Ciro tropeçou em suas próprias pernas. Assessores de Lula dizem que o presidente sempre foi claro com o deputado ao afirmar que desejava uma disputa polarizada entre Dilma e Serra. Em contrapartida, alegam governistas, Ciro jamais teria sido explícito com o presidente sobre suas reais intenções.

Em fevereiro, o PSB de Minas Gerais tentou organizar um evento para lançar a candidatura presidencial do partido. Ciro, contudo, pediu calma e cancelou a agenda no Estado. Outro fator que irritou o governo foi a incoerência do discurso. Para tentar se viabilizar como candidato, Ciro atacou principalmente o PSDB e o PMDB. No Ceará, porém, ele apoia a candidatura ao Senado do tucano Tasso Jereissati e do peemedebista Eunício Oliveira.

Sem o socialista, a eleição pode ser decidida no primeiro turno. Na mais recente pesquisa do Datafolha, a simulação sem Ciro apontou Serra com 42%, mesmo índice dos demais candidatos somados.

– A saída do Ciro torna a eleição muito mais polarizada e pode antecipar o segundo turno. Nossa próxima pesquisa deve mostrar o reflexo desse fato novo na eleição – diz o diretor do Datafolha, Mauro Paulino.
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