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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As empresas que ajudaram a eleger José Sarney


Cientistas políticos dizem que as empresas que financiam políticos envolvidos em escândalos ajudam a perpetuar a corrupção; veja quem financiou senador
Agência Brasil
O senador José Sarney
Por Giseli Cabrini | 03.09.2009 | 10h01

Não é à toa que José Sarney (PMDB-AP) está incrustado no centro do poder há mais de cinco décadas. Apesar de uma pesquisa Datafolha ter mostrado que 74% dos brasileiros defendem que ele deixe o comando do Senado, todos os 11 processos favoráveis a seu afastamento foram arquivados pelo Conselho de Ética. O senador soube construir uma rede de proteção que inclui amigos e apadrinhados espalhados pela máquina pública, políticos que lhe devem favores e até mesmo o presidente Lula - interessado no apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff na eleição de 2010. A oposição tentou reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF), mas a Corte também negou os recursos. Assim, só novas denúncias contra Sarney poderão extirpá-lo do cargo.

Como o atual mandato de Sarney se encerra só ao final de 2015, neste momento ele pode se dar ao luxo de "se lixar" para a opinião pública. Familiares e correligionários que disputarão cargos no próximo ano tampouco têm com o que se preocupar. O impacto da sucessão de escândalos que envolveram seu nome nos últimos meses deve ser limitado. A família do atual presidente do Senado controla um conglomerado de mídia no Maranhão que inclui a retransmissora local da Rede Globo, duas dezenas de estações de rádio e o jornal diário de maior circulação no estado. O aliado e ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tem sob seu controle as afiliadas locais do SBT. Segundo reportagem publicada pela revista Veja, esse poder sobre a mídia é amplamente utilizado para encobrir escândalos envolvendo Sarney.

O que poderia mudar a partir de 2010 é que os partidários de Sarney tenham mais dificuldade para levantar recursos para financiar suas campanhas. Empresas que ajudam políticos corruptos ou envolvidos em escândalos incentivam a perpetuação da corrupção no Brasil, segundo avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo Portal EXAME. À medida que a democracia brasileira amadureça, essas empresas poderiam dar um "cartão vermelho" nesses candidatos, deixando de financiar suas campanhas. “As empresas que fazem doações a políticos tentam desvincular essa prática da defesa de interesses particulares e da troca de benefícios. Só que isso ocorre. No Brasil, ninguém faz doações só por civismo. É algo que tem caráter de negócio mesmo”, afirma o professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e consultor político, Gaudêncio Torquato.

Em 2006, José Sarney conseguiu levantar um total de 1,698 milhão de reais para financiar sua campanha - incluindo recursos de empresas e do Comitê Financeiro do PMDB. O grupo de doadores privados inclui a Alusa Engenharia Ltda, a Caemi Mineração e Metalurgia S/A (comprada pela Vale em 2003), a CSN, a Emport Empresa Marítima Portuária Ltda e a Gusa Nordeste S/A. Juntas, elas doaram 560.000 reais a Sarney. O professor da Universidade de Brasília, Lúcio Rennó, diz que essas empresas não podem ser responsabilizadas pelo comportamento do candidato que apoiaram até porque, em 2006, ele ainda "era visto como um político sênior em defesa da governabilidade". Rennó também lembra que não há crime nenhum em fazer doações a candidatos e declará-las à Justiça eleitoral. No entanto, se essas empresas voltarem a financiar Sarney de alguma forma no futuro, estarão assumindo um desvio ético.


O Portal EXAME procurou as cinco empresas que financiaram a campanha de Sarney e apresentou uma lista com três perguntas: 1) Por que fizeram as doações?; 2) A empresa se arrepende disso; e 3) Faria novas doações a Sarney em campanhas futuras? Todas as empresas procuradas disseram que não iriam se manifestar ou não responderam diretamente as questões. Abaixo o Portal EXAME publica a lista de doadores e os valores repassados a Sarney na campanha de 2006:

Caemi Mineração e Metalurgia S/A: A empresa doou 400.000 reais a Sarney em agosto de 2006. Em 2003, a mineradora foi comprada pela Vale da japonesa Mitsui por 426,4 milhões de dólares. Com sede no Rio de Janeiro, a Caemi é a quarta maior do mundo em minério de ferro e também produz caulim - um insumo utilizado para revestimento de papéis. Além disso, indiretamente, por meio da MBR, a Caemi possui participação na MRS Logística, uma grande empresa de ferrovias. Detém também participações na MSL Minerais S. A., produtora de bauxita refratária, e chegou ainda a ter participação na estrutura societária da Quebec Cartier Mining Company (QCM), produtora canadense de minério de ferro e pelotas.

Alusa Engenharia Ltda: Doou a Sarney 50.000 reais em setembro de 2006. É uma empresa brasileira de engenharia, especializada em construção e montagem de sistemas de energia e telecomunicações. Com a incorporação da Cavan em 1988, tornou-se a maior indústria de produtos de concreto pré-fabricado para os setores de energia e transportes. A partir de 1994, passou a operar redes de banda larga para distribuição de sinais de TV por assinatura, internet em alta velocidade e serviços agregados de transmissão de dados e imagem. Nas concessões da área de energia, o grupo focou os negócios na operação de linhas de transmissão de alta tensão, vencendo licitações e leilões público e, criando as novas empresas transmissoras de energia por meio do controle integral ou em sociedade com outras organizações do setor. O grupo tem participações no exterior e adquiriu, via sistema de concessão e com sócios brasileiros, o direito de construir e operar uma linha de transmissão no Chile. Diversificando sua atuação na área de energia, o grupo planeja investir em geração de energia por meio de leilões públicos para a construção e operação de usinas hidrelétricas.





Companhia Siderúrgica Nacional (CSN): Doou a Sarney 40.000 reais em setembro de 2006. Com sede no Rio de Janeiro, é um complexo siderúrgico composto por investimentos em infraestrutura e logística que combina minas próprias, usinas integradas, centros de serviços, ferrovias, portos e produção de cimento. Tem capacidade anual de produção de 5,6 milhões de toneladas de aço bruto e receita bruta consolidada de 17,9 bilhões em 2008. A CSN é a única produtora de folhas de flandres no Brasil e uma das cinco maiores do mundo.

Gusa Nordeste: Em agosto de 2006, doou 50.000 reais a Sarney. Surgiu em 1990 quando o Grupo Ferroeste Industrial adquiriu um projeto da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) que previa a instalação de uma siderúrgica em Açailândia (MA). As operações foram iniciadas em 1993. Com capacidade para produzir 360 mil toneladas/ano, a unidade dedica-se, exclusivamente, à exportação atendendo principalmente os mercados norte-americano e asiático. Recentemente, a Gusa Nordeste lançou a pedra fundamental da primeira unidade produtora de aço do Maranhão. Apenas na primeira fase do projeto, vão ser investidos 300 milhões de reais. Parte dos recursos será financiada via Banco do Nordeste. O projeto da etapa inicial da Aciaria da Gusa Nordeste S/A prevê a produção de 500 mil toneladas/ano de tarugo de aço, um semiacabado utilizado como matéria-prima para a laminação de aços longos.

Emport Empresa Marítima Portuária Ltda: Doou 20.000 reais em agosto de 2006. É uma das empresas do Grupo Brasbunker. Fundada em 2000 para o transporte de água potável, a empresa alterou o foco. A Emport atualmente presta serviços à coligada Hidroclean operando embarcações dedicadas ao monitoramento ambiental, resposta a emergências e apoio a navios de coleta de dados sísmicos.



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