As informações liberadas pelo Ministério da Saúde do Japão na época afirmavam que o remédio causava problemas neuropsicológicos que podiam levar a alucinações e suicídios. O primeiro aviso do governo japonês sobre desordens neurológicas ligadas ao Tamiflu foi feito em junho de 2004. Em fevereiro daquele ano, um garoto de 17 anos se matou entrando na frente de um caminhão; segundo o motorista ele estava sorrindo na hora do atropelamento. O garoto estava de pijamas, saiu de casa no meio de uma tempestade de neve, e tomou uma cápsula de Tamiflu antes de fazer tudo isso. Segundo dados do governo do Japão, desde 2001 – quando o Tamiflu começou a ser comercializado no país –, 128 pessoas agiram de forma estranha após ingerir o medicamento. Dessas, 100 tinham menos de 20 anos. Oito morreram – incluindo três idosos – ao pular de um edifício ou em outros casos de comportamento irregular. A Roche, laboratório responsável pela fabricação e distribuição do Tamiflu, e o governo dos Estados Unidos afirmam que não há indícios que liguem as mortes ao uso de Tamiflu. Em abril de 2009, um grupo de cientistas do Ministério da Saúde japonês, liderado por Yoshio Hirota, do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Osaka, afirmou que pacientes entre 10 e 17 anos tratados com Tamiflu tem 54% a mais de chance de desenvolver comportamentos anormais do que aqueles que não usaram o medicamento. A pesquisa foi feita com 10 mil jovens menores de 18 anos diagnosticados com gripe desde 2006. "A ligação com Tamiflu não pode ser excluída", afirma o relatório. Uma outra pesquisa realizada no Japão, em outubro de 2006, com 2.800 crianças pesquisadas por Shumpei Yokota, professor de pediatria na Universidade de Yokahama, afirmou que não há diferenças entre pacientes tratados ou não com Tamiflu. Ichiko Fuyuno, correspondente da revista Nature no Japão, entretanto, publicou um artigo questionando a validade da pesquisa, pois o departamento de Yokota teria recebido US$ 105 mil da Chungai Pharmaceutical Co., empresa que distribui o Tamiflu no país e da qual mais de 50% das ações pertencem à Roche. O Tamiflu ganhou fama internacional em 2005, quando foi apresentado como o principal medicamento para tratar uma possível epidemia de gripe aviária. Em novembro daquele ano, no pacote de US$ 7,1 bilhões (R$ 12,9 bi) que o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush pediu ao Congresso para financiar os preparativos contra a epidemia, US$ 1,4 bilhões (R$ 2,6 bi) seriam destinados para a compra de Tamiflu. Comercializado pela empresa suíça Roche, o único país em que o Tamiflu foi usado extensivamente foi o Japão – os japoneses usam o medicamento para tratar a gripe comum e, em 2007, consumiam 60% de toda a produção mundial de oseltamivir. Os problemas apontados pelo governo japonês nunca foram oficialmente aceitos por outros órgãos reguladores. A Agência Reguladora de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) inclui na descrição das precauções necessárias para o uso do Tamiflu um trecho sobre "eventos neuropsiquiátricos", mas ligando-os à própria gripe. O FDA afirma que o vírus Influenza pode estar associado a "diversos sintomas neurológicos e comportamentais, que podem incluir alucinações, delírios, e comportamentos anormais, e pode em alguns casos resultar em morte". O texto da agência americana cita os casos pediátricos ocorridos no Japão, mas afirma que "a contribuição do Tamiflu nesses eventos não foi estabelecida". Completando esses dados, a Roche afirma que desde 1999 mais de 50 milhões de pessoas já foram tratadas com Tamiflu e que "casos de problemas neurológicos que levam a morte são extremamente raros, ocorrem aproximadamente em 1 de 5 milhões de casos de gripe. Nenhuma ligação entre esses problemas e o Tamiflu foi estabelecida".
Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como principal medicamento para o tratamento da gripe suína, o oseltamivir, nome genérico para o antiviral Tamiflu, teve sua prescrição para crianças e adolescentes proibida pelo governo japonês em março de 2007.
Fonte: Revista Época
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