[Valid Atom 1.0]

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Depoimentos de defesa do casal Nardoni


Publicada em 03/07/2008 às 23h04m

Fabiana Parajara, O Globo Online

Pai e irmã de Alexandre em visita na delegacia. Foto: DISP

SÃO PAULO - Mais 12 testemunhas de defesa do casal Nardoni foram ouvidas nesta quinta-feira pelo juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri de São Paulo. Ao contrário da primeira fase de depoimentos, nesta quarta-feira, quando 14 pessoas foram ouvidas, as testemunhas negaram que o prédio de Alexandre, pai de Isabella Nardoni, morta no último dia 29 de março, fosse inseguro. Prestadores de serviços disseram que sempre devolviam as chaves do apartamento da família na portaria, quando o imóvel ainda estava desocupado, e ainda falaram da necessidade de apresentar documentos quando chegaram pela primeira vez no prédio, contrariando as testemunhas ouvidas na quarta. Alexandre e Anna Carolina Jatobá estão presos acusados pela morte da menina .

O depoimento de Cristiane Nardoni, irmã de Alexandre, teve contradições. A tia de Isabella desmentiu a madrasta Anna Carolina Jatobá ao dizer que dormiu apenas uma vez na casa do irmão, quando foi assistir a um filme. A promotoria ainda chegou a ler o depoimento que Anna Carolina Jatobá deu à Justiça, em 28 de maio, na qual afirmava que pediu a cunhada que dormisse na casa dela três ou quatro vezes para ajudar a cuidar das crianças. Mesmo assim, Cristiane insistiu em sua versão e confirmou a estadia por apenas uma noite.

Sobre Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella, a tia paterna disse que soube de uma briga dela com uma ex-namorada de Alexandre durante uma festa por ciúme. Cristiane procurou demonstrar proximidade com a menina Isabella e alguns pedidos que a criança teria feito para que a buscasse na casa da mãe enquanto estava apenas com a empregada. Em vários momentos de seu depoimento, a tia tentou levantar suspeitas sobre a conduta da mãe de Isabella, dizendo, por exemplo, que ela não foi a uma apresentação de judô da filha, em que toda a família Nardoni estava presente.

Ela também saiu em defesa da cunhada. A tia de Isabella contou que nunca presenciou brigas entre Alexandre e Anna Jatobá e nem sequer presenciou repreensões às crianças. Cristiane minimizou uma briga entre o casal. Ela disse que Anna Carolina Jatobá se machucou ao encostar em uma janela em que a vidraça cedeu. Durante o inquérito, as informações eram que Anna Carolina Jatobá havia se machucado depois de esmurrar o vidro.

Anna JAtobá no dia da prisãoO pai de Cristiane e Alexandre, última pessoa a depor nesta quinta-feira, também defendeu a nora. Segundo ele, foi a própria Anna Jatobá quem contou a ele que havia se machucado, mas negou que os ferimentos tivesse relação com a briga do casa. Segundo Antonio Nardoni, os desentendimentos do casal eram normais. Antonio Nardoni afirmou que Alexandre e Anna Jatobá chegaram a se separar algumas vezes, sempre por pouco tempo, antes dos filhos nascerem. Em depoimento, ele afirmou que após o nascimento dos filhos, os dois nunca mais se separaram.

Sobre a mãe de Isabella, ele afirmou que ela chegou a causar obstáculos para as visitas paternas. Segundo Antonio Nardoni, ele mesmo procurou a ex-nora para afirmar que a menina não poderia ficar no meio da briga dos dois. De acordo com ele, o relacionamento entre Alexandre e Ana Carolina Oliveira melhorou depois que a pensão alimentar ficou definida.

Ele ainda relatou a briga entre o filho e a ex-nora por causa da matrícula da neta em uma escolinha. Nardoni afirmou que estava presente na discussão e que houve xingamentos e ofensas das duas partes. Ele, porém, negou que Alexandre tivesse ameaçado Ana Carolina Oliveira e a mãe dela de morte. Ao juiz Maurício Fossen, Antonio Nardoni ainda afirmou que impediu o filho de agredir as duas. Segundo ele, as duas faziam provocações, pedindo que Alexandre batesse na cara dela "se ele fosse homem". Ele ainda teria orientado o filho a fazer um boletim de ocorrência depois do episódio, por ofensa ou ameaça, mas que o Alexandre recusou a proposta, enquanto a família Oliveira fez o registro.

Pedreiro suspeito é ouvido

Nesta quinta, também foi ouvido um pedreiro que era apontado como suspeito pela família. José Vandevaldo Gomes, conhecido como Vando, foi várias vezes citado por testemunhas na quarta. Ao juiz Maurício Fossen, Vando confirmou que fez vários trabalhos para a família Nardoni, inclusive a troca da fechadura do apartamento do casal antes que eles mudassem.

Ele afirmou ainda que sempre deixava trocas de roupas nos apartamentos onde trabalhava e que fez o mesmo durante as obras no Edifício London. Vando confirmou que teve que apresentar a sua identidade na primeira vez que esteve no prédio. Como várias testemunhas disseram na quarta-feira, ele disse que ficou cerca de 1 mês sem trabalhar depois do crime. Segundo a assessoria de imprensa do TJ, ele não explicou o motivo.

Vando ainda contou ao juiz que parentes dele foram insultados na rua. Ele disse que os filhos dele foram xingados e chamados de "filhos do assassino". A mesma coisa teria ocorrido com a mulher e a irmã dele. Segundo Vando, após o crime ele recebeu telefonemas de uma mulher identificada como Márcia Regina, que pedia que ele ajudasse a família Nardoni prestando depoimento. Nesta quarta-feira, uma das testemunhas ouvidas pelo juiz foi exatamente Márcia Regina Alves Ferreira, dona da loja de móveis onde o casal Nardoni comprou parte da mobília do apartamento.

Alexandre Nardoni quando foi interrogado. Foto: DISP Irregularidades

Ao final dos depoimentos, os advogados de defesa do casal e o pai de Alexandre, Antonio Nardoni, concederam uma entrevista coletiva, na qual voltaram a falar de irregularidades do processo. No início da tarde, o avô de Isabella já havia afirmado que divulgaria um dossiê com os episódios que mostram que houve cerceamento de defesa do casal.

Marco Polo Levorin, que comanda a defesa, ressaltou pelo menos três irregularidades. A primeira delas seria a ausência de provas de que Isabella tenha sido esganada.

- Quando os peritos contratados por nós provaram cientificamente que não havia esganadura, que consta na denúncia como responsabilidade de Anna Jatobá, apareceu um novo laudo do Instituto de Criminalística dizendo que ela ainda ajudou Alexandre a jogar a menina pela janela - afirmou Levorin.

- Soubemos desse fato pela imprensa, ainda não tivemos acesso ao laudo - acrescentou.

Segundo Levorin, um físico também contratado pela defesa comprovou que vários ferimentos encontrados na criança não poderiam ter sido causados dentro do apartamento.

- Nem mesmo um pugilista peso pesado, como o Maguila, teria a força necessária para provocar aquelas lesões - disse Levorin, acrescentando que elas teriam sido causadas pela queda. Ele ainda ressaltou que apesar de vários relatos da existência de sangue dentro do apartamento da família, os laudos não conseguiram provar a existência de sangue no local.

Apesar das contradições apresentadas nos depoimentos das testemunhas, Levorin destacou apenas as partes que seriam favoráveis a defesa, como os relatos da vunerabilidade do prédio em que a família morava.

- Os policiais que ouvimos em depoimento também confirmaram que nem todos os apartamentos foram vistoriados. Um dos primeiros policiais que chegaram ao apartamento, hoje mesmo afirmou que não havia reparado que o imóvel tinha duas sacadas - ressaltou outro advogado de defesa, Rogério Neres.

Antonio Nardoni aproveitou a entrevista para negar, mais uma vez, que sua mulher, Cida Nardoni, que não depôs, tivesse receio de deixar a neta com Anna Jatobá.

- As vezes que Cristiane dormiu no irmão foi por rotina, coisa natural - disse.

Segundo ele, o dossiê que será apresentado à imprensa nos próximos dias deve mostrar "a verdade".

- O casal não é esse monstro que as pessoas que o odeiam, e que me odeiam, pensa - afirma, acrescentando que os dois não tinham motivo para matar a criança.

- Além de não ter motivo, eles não jogariam (a menina) exatamente da janela que fica em frente a outro prédio. Também não teriam esperado a chegada da polícia - disse Antonio Nardoni.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Nenhum comentário: