Sexta-feira, 6 de maio de 2011 - 08h00 Última atualização, 06/05/2011 - 09h30
O vereador Ushitaro Kamia (DEM) já havia sido alvo de uma denúncia feita pelo repórter Agostinho Teixeira
Marielly Campos
cidades@eband.com.br
Nesta semana, a Rádio Bandeirantes veiculou uma notícia sobre o desvio de donativos que deveriam ser enviados para as vítimas das chuvas no Rio de Janeiro. Os produtos, que foram entregues pela população à Defesa Civil de São Paulo, ficaram esquecidos no galpão e agora estão sendo desviados para escritórios de vereadores, entre eles Ushitaro Kamia (DEM), que os trocam mediante a apresentação de título de eleitor.
A denúncia chegou às mãos do repórter Agostinho Teixeira, que está na emissora há 15 anos. Segundo Teixeira, ele recebeu a informação por meio de uma carta, pelo correio. “Chega muita carta ainda, manuscrita, impressa, sem identificação. Nesse caso, tinha dados que era possível perceber a consistência das informações, deu para ver que a pessoa tinha conhecimento do assunto”, conta. A partir daí, o repórter começou a checar as informações e viu que a história tinha fundamento.
De acordo com Teixeira, a história ainda não acabou, existem detalhes que ainda estão sendo apurados. “Essa correspondência possivelmente é de uma pessoa lá de dentro [da Defesa Civil], e tem mais uma parte, mas ainda estamos apurando”, comenta.
Mesmo vereador
Essa é apenas uma das diversas denúncias feitas pelo repórter da Rádio Bandeirantes. Há cerca de um mês antes do caso vir à tona, ele havia feito uma matéria sobre funcionários fantasmas na prefeitura da Capital.
Antes disso, Teixeira lembra algumas outras que tiveram grande repercussão, como a questão de um esquema de fraude na inspeção veicular. Na ocasião, ele descobriu que algumas oficinas trocavam motores de carros antes de passar pela inspeção e depois colocavam os antigos no local.
Também houve um caso envolvendo o vereador Kamia. “Ele tem uma mansão de milhões na Cantareira, que não foi declarada para o Imposto de Renda e para o Tribunal Regional Eleitoral. Essa foi uma reportagem muito interessante”, contou.
Represálias
Além disso, houve um caso de uma repercussão muito interessante da saúde pública. “Na ocasião, denunciamos que o Hospital do Servidor Municipal estava praticamente abandonado e tinha um tomógrafo, caro, sem uso por dois anos”, lembrou ressaltando que esses casos têm bastante apoio da população.
Tantas matérias polêmicas acabaram transformando Teixeira em um alvo de represálias. “Neste momento, tenho recebido alguns e-mails, algumas ameaças”, conta. “Costumo não me assustar, mas depois da denúncia da inspeção veicular elas vêm chegando com certa constância, por isso, procurei a polícia para tentar descobrir a origem”, disse. “Mas é comum surgirem algumas ameaças”, afirma.
Entretanto, nem só notícias ruins e ameaças chegam às mãos do repórter. Esse trabalho de justiça ganha simpatia de muitos ouvintes, que retribuem com ligações, e-mails, cartas. “O radio tem isso, as pessoas que ouvem rádio têm uma afinidade com o veículo que eu tenho impressão que é um pouco maior do que com os demais”, estima. “As pessoas se sentem a vontade para elogiar”, completa.
Realidade
Apesar de se sentir gratificado pelo seu trabalho, Agostinho preferia que a situação diferente. “Infelizmente, percebo que as pessoas que procuram a gente têm muito receio. Elas sempre dizem a mesma coisa, que procuram a rádio, a imprensa, porque não acreditam nas autoridades”, comenta.
“Isso é uma coisa que me assusta um pouco, seria ótimo que as pessoas pudessem procurar o poder publico e não só a imprensa para fazer as denúncias”, finaliza.
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