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sobre o blog
* 26 de setembro de 2010|
* 6h00|
Categoria: Eleições 2010, Tragi-crônica
Diz o ditado eleitoral que no primeiro turno o voto é a favor e no segundo turno o voto é contra. Eu já penso diferente: no primeiro turno o voto é contra, no segundo o voto é nulo. Nessas eleições, sou contra José Serra e Dilma Rousseff. Depois de 16 anos acostumados a ter um “homem cordial” (a la Sarney) no poder — primeiro com FHC, depois com Lula —, agora, o Brasil dá uma guinada tecnocrática. Serra e Dilma são políticos dessa cepa e possuem perfis quase idênticos: sisudos, autoritários, nacionalistas, intervencionistas e desenvolvimentistas radicais (para desespero de Marina Silva). Para não dizer que Serra e Dilma são a mesma pessoa, há duas diferenças, apenas. A primeira, bastante sutil, é a respeito do papel do estado na economia. Dilma tende a uma visão mais estatizante e Serra tende a investir mais em parceria com o setor privado. A segunda diferença — e é essa que vai decidir as eleições —, é que Lula apoia Dilma, e não o Serra. Mais do que apoiar, ele quer a Dilma. Depois que Lula convenceu o Brasil de que Dilma “era” Lula, ela teve uma subida abrupta nas pesquisas, o que só veio a confirmar o personalismo da política tupiniquim. É claro que, se o governo foi aprovado pela população, seu sucessor tende a herdar muitos votos. O problema é o país avalizar uma vontade pessoal do presidente, sem maiores reflexões ou questionamentos.
Mas, nessas eleições, não sou apenas contra esses dois candidatos. Sou contra tudo o que eles representam. Ambos refletem a mentalidade sectária daquele mundo polarizado de 50 anos atrás, ainda presente no imaginário simplista e reacionário de suas militâncias. A falsa polarização entre PT e PSDB e guerra suja patrocinada por petuscos e tucaneiros apenas regurgitam os mesmos fósseis ideológicos da Guerra Fria, com surtos autoritários e golpes midiáticos forjados diariamente. Ao tentar remontar as lutas políticas dos anos 60 (onde, vale lembrar, Serra e Dilma estavam do mesmo lado), nossa blogosfera política é o retrato mais desolador desse anacronismo. Quem vê aquilo lá, fica com a impressão de que o muro de Berlim ainda não caiu. O que as pessoas ainda não perceberam é que Serra e Dilma são votos extremamente conservadores. Votos, sobretudo, de uma sociedade ainda presa a velhos dogmas, preconceitos e tabus, uma sociedade que não quer avançar, que não quer pensar diferente, que não quer aceitar o mundo do jeito que ele é hoje.
A primeira coisa que analiso num candidato é a ética. Se não é ético, não presta. E só aí já se pode descartar 99% deles. É verdade que Serra e Dilma não possuem processos na justiça e suas fichas estão limpas, mas é verdade também que os conceitos de ética no Brasil são um tanto frouxos. Mais frouxas ainda são as nossas leis e instituições, sempre cheias de conveniências e conivências. Serra e Dilma podem ser preparados do ponto de vista econômico, mas são dois políticos que sempre abusaram sistematicamente do poder que exerceram em cargos no executivo. Além de rejeitar qualquer diálogo com setores diversos da sociedade, passam por cima de tudo e de todos para ter suas decisões ratificadas. São adeptos da democracia, mas desde que esta atenda especificamente às suas demandas (ou seriam desmandos?). São intransigentes e truculentos na hora de cobrar de seus subalternos, e não hesitam em intimidar adversários e setores da imprensa que não lhe atenderem com serventia. O Brasil não precisa de líderes assim.
Ao que tudo indica, Dilma será eleita. Portanto, convém avisar aos mais crédulos que, no momento em que a última urna for apurada, essa simpatia botocada e esse sorriso talhado pela marquetagem vão se desmanchar para dar lugar à mesma carranca que víamos antes de a campanha começar. Sim, o semblante do Brasil pelos próximos quatro anos será sombrio e carregado. E quando o caldo engrossar, não esperem por metáforas futebolísticas ou truques retóricos engraçadinhos.
É isso aí. Boa sorte para todos nós.
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