Sob a acusação de atuarem conjuntamente para atrapalhar as investigações, polícia prende Adriana — apontada como principal suspeita —, um ex-agente da 1ª DP, uma paranormal e o marido, e uma ex-empregada do casal assassinado em agosto de 2009.
Cinco pessoas estão presas acusadas de atrapalhar as investigações sobre o triplo assassinato da 113 Sul, ocorrido há quase um ano, em 28 de agosto de 2009. Entre as detidas está Adriana Villela, 46 anos, apontada como a principal suspeita do crime, segundo descrito no despacho do juiz que decretou a prisão temporária do grupo. Ela é filha do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, e da advogada Maria Carvalho Mendes Villela, 69, que foram mortos a facadas com a principal empregada da família, Francisca Nascimento da Silva, 58. Os corpos só foram descobertos três dias após as mortes. Além de Adriana, foram presos o policial José Augusto Alves, 41; Guiomar Barbosa da Cunha, 71, ex-empregada dos Vilella; a vidente Rosa Maria Jaques, 61, e seu marido, João Tocchetto, 49.
Presa desde segunda-feira, Adriana estaria à frente da trama montada para confundir o trabalho policial e tirar o foco da suspeita de participação dela no crime, segundo o Ministério Público e a Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), unidade da Polícia Civil do Distrito Federal que assumiu a investigação do caso em dezembro do ano passado. A filha dos Villela teria interesse no patrimônio milionário dos pais, destacou em sua decisão o juiz Fábio Francisco Esteves, do Tribunal do Júri de Brasília. “Os indícios de envolvimento da representada Adriana Villela na morte dos pais e de Francisca assentam-se em provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro entre ela e o pai”, escreveu o magistrado.
Fábio Esteves destacou ainda que Adriana, de acordo com testemunhas, vinha se desentendendo principalmente com a mãe, “administradora das finanças do casal”. Na decisão em que autoriza a prisão dos cinco acusados, o juiz apontou haver provas contra Adriana. “Há provas materiais, impressões digitais no apartamento das vítimas, local que (Adriana) pouco frequentava, além de sua extrema mobilização no dia do crime, a fim de criar um álibi, findando com a constatação de seu nada usual comportamento”, observou, antes de concluir que “normalmente imediatista, (Adriana) retarda ao máximo, no dia em que os corpos foram localizados, sua chegada à residência das vítimas, pelas quais não procura de forma alguma, durante o final de semana e toda segunda-feira, mesmo em face das insistência de Carolina Villela (filha dela e neta dos Villela)”.
Avanço
Há 11 dias de o crime completar um ano, policiais civis e promotores dão como certa a solução do caso, conforme o documento da Justiça ao qual o Correio teve acesso e entrevistas concedidas por alguns deles, que pediram o anonimato. No despacho, o juiz justifica a prisão temporária de 30 dias de Adriana e as outras quatro pessoas suspeitas de atrapalhar as apurações ou envolvimento nos assassinatos. Entre elas, o ex-agente da delegacia da Asa Sul (1ª DP) José Augusto Alves,41 anos, acusado de ter ajudado a plantar na casa de um ex-presidiário as chaves do apartamento dos Villela, cenário da barbárie.
Com base na chave supostamente plantada, a delegada Martha Vargas, então titular da 1ª DP (Asa Sul) e responsável pelas investigações do crime, prendeu(1) o homem com passagem pela polícia e dois vizinhos dele, em novembro. O então suspeito é Cláudio José de Azevedo Brandão, 38 anos. No entanto, peritos comprovaram que a chave apreendida no lote onde moravam Alex Peterson Soares, 23, e Rami Jalau Kaloult, 28 — os vizinhos de Cláudio — era a mesma recolhida pela própria polícia no apartamento do casal Villela, no dia em que os corpos foram descobertos. Portanto, só poderia estar no imóvel dos suspeitos se alguém a tivesse colocado lá.
Martha Vargas teria chegado ao endereços dos três rapazes, em Vicente Pires, com ajuda da paranormal Rosa Maria Jaques, que é nacionalmente conhecida por seus trabalhos de clarividência. Em depoimento prestado à Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), Rosa Maria afirmou ter procurado a delegada no fim de outubro do ano passado para colaborar com as apurações do crime da 113 Sul.
Segundo ela, estava cumprindo “ordem espiritual”. Martha Vargas disse ter recebido Rosa em sua sala, na 1ª DP, dias antes de prender dois homens em Vicente Pires que supostamente estavam com a chave que abre a porta de serviços do apartamento dos Villela.
Além de perder o caso, Martha Vargas acabou exonerada da chefia da 1ª DP em 29 de abril. No dia seguinte, ela pediu afastamento da Polícia Civil por 30 dias. Na ocasião, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e a Ordem dos Advogados do Brasil divulgaram nota demonstrando preocupação com a possibilidade de os suspeitos terem sido torturados. Os três rapazes negaram qualquer participação no crime da 113 Sul. Em nota oficial, a polícia apenas confirmou as prisões de ontem.
1 - Detenção ilegal
Os suspeitos ficaram em poder da polícia por um mês. Eles viviam em Vicente Pires, em um conjunto de barracos. Alex e Rami acabaram presos em 3 de novembro. Cláudio, 10 dias depois. Após a Corvida descobrir que a chave teria sido plantada na casa dos rapazes, os três acabaram soltos.
Patrimônio milionário
Além dos dois apartamentos unificados no Bloco C da 113 Sul, que valem ao menos R$ 1,6 milhão, o casal Villela tinha outros imóveis. Na mesma superquadra, eram donos de um apartamento no Bloco F e de outro no Bloco K. No Lago Sul, possuíam três casas e uma chácara. Somado, o patrimônio imobiliário no Distrito Federal chegaria a R$ 12 milhões. Na capital paulista, havia dois apartamentos em nome deles. Há outro imóvel na Barra, área nobre de Salvador. Em São Borja, interior do Rio Grande do Sul, o casal possuía uma casa. Em depoimento, um dos familiares revelou que José Guilherme Villela havia ganhado, seis anos atrás, uma ação pessoal de R$ 5 milhões contra a União. Ele recebeu o valor por meio de precatórios. No entanto, a polícia apura a informação de que o advogado vinha recebendo, a cada três meses, parcelas de R$ 6 milhões, também por meio de precatórios.
Os indícios de envolvimento de Adriana Villela na morte dos pais assentam-se em provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro ”
Fábio Francisco Esteves, juiz de direito substituto
O que pesa contra cada um
Veja com base em que argumentos a polícia, com o apoio do Ministério Público, conseguiu convencer a Justiça a decretar a prisão temporária, por 30 dias, dos cinco acusados
Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 9/9/09 |
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Adriana Villela, 46 anos
Filha do casal assassinado, é considerada pela polícia a principal suspeita do crime e estaria atuando, também de acordo com as autoridades, para confundir o trabalho de investigação e impedir que sejam descobertos os assassinos. De acordo com a decisão que decretou sua prisão temporária, seu envolvimento no crime se baseia em “provas testemunhais que atestam os conflitos por dinheiro entre ela e os pais” e em provas materiais, como “impressões digitais no apartamento das vítimas, local que pouco frequentava”. Além disso, a Justiça aponta sua “extrema mobilização no dia do crime, a fim de criar um álibi”.
Edílson Rodrigues/CB/D.A Press - 7/5/10 |
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Rosa Maria Jaques, 61, e João Tocchetto, 49 anos
A participação da paranormal começa em 30 de outubro, quando ela procura a delegada Martha Vargas, então chefe das investigações, e indica a localização da chave que abre uma das portas do apartamento das vítimas. Em depoimento à Corvida, Rosa reafirma suas conclusões e insiste que as vítimas (José Guilherme e Maria Carvalho) desejam que Martha e Adriana Villela sejam inocentadas. Rosa e João negam conhecer Adriana. No entanto, a polícia afirma que a paranormal mentiu em depoimento. Primeiro, ao dizer que chegou a Brasília em 30 de outubro, quando na verdade desembarcou na cidade oito dias antes, conforme mostraram as investigações. Policiais também descobriram que Rosa e João encontraram-se com Adriana Villela no Condomínio Summer Park e, de acordo com uma testemunha, “Adriana chegou ao local procurando por Rosa demonstrando certa intimidade”.
Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 25/9/09 |
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Guiomar Barbosa da Cunha, 71 anos
Trabalhou como faxineira no apartamento dos Villela, na 113 Sul. Guiomar é mãe de José Aílton Barbosa da Cunha, conhecido como Brechó. De acordo com a polícia, Brechó teria indicado o nome de Cláudio José de Azevedo Brandão para Adriana e Rosa Maria — Cláudio chegou a ser preso pela polícia como o suposto autor do triplo homicídio. Ainda de acordo com o despacho do juiz, Guiomar criou, com Adriana, artifícios para embaraçar as investigações. Primeiro, declarou que o relacionamento de Adriana com a mãe era excelente. Depois, tentou criar falsamente uma estranha presença de um ex-porteiro no dia do crime, conforme relatou o juiz que decretou sua prisão.
Rafael Ohana/CB/D.A Press - 26/9/09 |
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José Augusto Alves, 41 anos
Ex-integrante da 1ª DP, o policial atuou como investigador da equipe de Martha Vargas. De acordo com a polícia e a Justiça, o policial teria omitido a informação de que conhecia Rosa Maria e João Toccheto. No entanto, em escutas telefônicas a polícia constatou o vínculo entre os três. “Os estreitos vínculos entre José Augusto e o casal João e Rosa são bem explicitados nos diálogos monitorados”, diz um trecho da decisão judicial. Augusto era quem recepcionava o casal quando este veio a Brasília. Além disso, o policial indicou o irmão, que é advogado, para acompanhar Rosa e João nos depoimentos à Corvida.
Nota oficial
“A Polícia Civil do Distrito Federal, por meio da Coordenação de Repressão a Crimes contra a Vida – Corvida, vem investigando o triplo homicídio ocorrido na SQS 113, caso amplamente abordado por toda a imprensa local e nacional.
Por serem imprescindíveis às investigações do inquérito policial que apura o crime, foram cumpridos, nesta data, em Brasília/DF e Porto Alegre/RS, os mandados de prisão temporária, com prazo de 30 dias, expedidos pelo Juízo do Tribunal do Júri de Brasília, em desfavor de:
Rosa Maria Jaques, 61 anos João Tocchetto, 49 anos José Augusto Alves, 41 anos Adriana Villela, 46 anos; e Guiomar Barbosa da Cunha, 71 anos.
Cabe esclarecer que a Polícia Civil do DF, de modo isento e técnico, vem reiterando seus incessantes esforços na continuidade das investigações que prosseguem, em segredo de Justiça, na busca da elucidação do crime.”
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