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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Brasil interrompeu papel como mediador com Irã, diz Amorim ao 'FT'


Chanceler disse que país 'queimou os dedos' no caso da questão nuclear.
Mas, segundo ele, ainda há esperança na adoção de um plano.

Do G1, em São Paulo


O ministro Celso Amorim durante entrevista nesta segunda (21)  em VienaO ministro Celso Amorim durante entrevista nesta
segunda (21) em Viena (Foto: /Hans Punz / AP)

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse uma entrevista ao jornal 'Financial Times', publicada nesta segunda-feira (21) que o país está interrompendo seu papel de mediador no caso do programa nuclear iraniano, tema que, segundo o jornal, "trouxe as relações entre o governo Lula e a administração Obama para um nível mais baixo".

O ministro disse que o Brasil não buscaria mais apaziguar a disputa após os EUA terem rejeitado o acordo entre Irã e Turquia para que o país persa enviasse urânio para ser enriquecido pelos turcos. "Nossos dedos foram queimados por fazer coisas que todos diziam serem úteis e no final vimos que algumas pessoas não conseguem aceitar um 'sim' como resposta", disse Amorim referência indireta a Washington.

Potências ocidentais veem com desconfiança o acordo, mediado por Brasil e Turquia no mês passado, pelo qual o Irã entregaria 1.200 quilos de urânio baixamente enriquecido para em troca receber, no prazo de um ano, 120 quilos de urânio enriquecido a 20% para o seu reator de pesquisas médicas.

Dias depois do acordo, os EUA e seus aliados convenceram Rússia e China a aceitarem uma quarta roda de sanções do Conselho de Segurança da ONU ao Irã. Brasil e Turquia, que são membros temporários e sem direito a veto do Conselho, votaram contra. Foi a primeira vez que uma resolução contra o Irã não teve unanimidade.

Amorim disse ao jornal que, "se formos chamados [para negociar novamente], talvez ainda sejamos úteis, Mas não agiremos de maneira pró-ativa ao menos que sejamos solicitados."

O jornal citou uma autoridade experiente da administração Obama dizendo que a decisão brasielira era bem-vinda. Segundo o jornal, os comentários de ambos os lados mostram as "cicatrizes" que ainda restam na disputa em relação ao Irã.

De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, as declarações do ministro não diferem da posição adotada desde a primeira entrevista após a votação no Conselho de Segurança da ONU. Durante a entrevista ao 'FT', afirma a assessoria, Amorim teria dito ainda que "o Brasil está pronto a participar de um processo menos ambíguo" e que o país "continua a estimular o Irã a ser cooperativo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)".

Esperança
Mas, apesar de afirmar que o Brasil não terá mais uma posição ativa no confronto, o chanceler brasileiro disse nesta segunda a jornalistas durante um evento em Viena que ainda acredita na adoção de um plano para que o Irã entregue parte do seu material nuclear.

"Na minha opinião, acho que as sanções tornaram [a negociação] mais difícil, em vez de mais fácil. Mas não acho que tornaram impossíveis", disse Amorim. "Então, se houver boa vontade e flexibilidade, ainda será possível encontrar um acordo", afirmou. "Ainda estamos esperançosos de que a declaração de Teerã possa ser usada como base para ... uma solução negociada e pacífica."

Amorim se disse perplexo com a resolução do Conselho, e confirmou que a indiferença das grandes potências ao acordo do urânio foi uma das razões que levaram ao "não" brasileiro.

Ele também criticou o momento da votação, apenas horas depois de o Ocidente rejeitar oficialmente a proposta mediada por Brasil e Turquia. "Não poderíamos ter votado de qualquer maneira diferente [do 'não']", declarou Amorim, acrescentando que autoridades ocidentais tiveram "belas palavras" para a mediação brasileira, mas que suas ações não acompanharam isso.

Por causa dessa experiência, segundo o chanceler, o Brasil está receoso em aceitar outros papéis de mediação. Os EUA inicialmente apoiaram a intervenção brasileira, mas apresentaram objeções inesperadas de última hora. "Não podemos proceder com base na ambiguidade. Precisamos de alguma solicitação inequívoca para nos envolvermos", afirmou.

* Com informações da Reuters

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