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quinta-feira, 30 de abril de 2009

"ALMA DOS ANIMAIS"



















PROF. CATEDRÁTICA DE NEUROANATOMIA ANIMAL FALA-NOS SOBRE A "ALMA DOS ANIMAIS"









Irvênia Prada é Professora Catedrática e médica veterinária da Universidade de S. Paulo (USP), sendo uma autoridade mundial na comunidade científica sobre “Neuroanatomia Animal”. É também uma respeitada investigadora espírita em particular da “Interacção Cérebro-Mente” dos animais. Com vários livros e estudos científicos e espíritas publicados, deixou uma entrevista exclusiva ao Jornal de Espiritismo, aquando da sua recente estadia na cidade do Porto.


Por que se encontra em Portugal?
Irvênia Prada - Estou em Portugal, especialmente na cidade do Porto, por vários motivos. Um deles é o X Congresso Luso-Brasileiro de Anatomia, a ser aqui realizado, de 30 de setembro a 02 de outubro. Outra razão liga-se ao meu grande e antigo desejo de conhecer esta cidade, cheia de belezas com as quais vim encantar-me, agora, pessoalmente. Por outro lado, assim que decidi vir ao Porto, comuniquei–me com a Sra. Benvinda Serrano, que aqui reside e com a qual já tinha contatos. Ela agendou-me alguns compromissos de palestras e entrevistas, tanto no meio espírita, quanto em relação a entidades de defesa e de proteção dos animais,vidade em que me encontro também inserida. Na seqüência, irei para o Congresso Mundial de Espiritismo, a ser realizado em Paris, na primeira semana de outubro.


Como se tornou espírita?
IP - Eu nasci em família espírita. A família de meu pai já era espírita desde o meu avô paterno, que conheceu a doutrina e a assumiu plenamente, a partir da cura de um processo obsessivo que havia acometido minha avó. Assim, tive o privilégio de crescer vendo meu pai e outros familiares, desenvolvendo e vivenciando tarefas meritórias dentro e fora da Casa Espírita. Tenho-os como exemplos que procuro seguir. Embora já desencarnados, a presença deles me é constante, não apenas pela extrema afeição que lhes dedico, como pelo meu sentimento de gratidão a eles, por terem me conduzido a esta doutrina de amor, de consolação e de libertação das consciências.


Por que tem esse afeto pelos animais?
IP - Sou veterinária e, no início de minha carreira profissional, encontrava-me, como ainda hoje me vejo, totalmente encantada com as maravilhas da Anatomia, estudo a que me dediquei. Com o passar do tempo e embora não tivesse contato direto com os animais, no atendimento clínico e hospitalar, fui me sensibilizando com tudo o que via, a respeito deles. As cenas de matadouro - local que visitava frequentemente para adquirir órgãos para as minhas aulas práticas, no ensino da Medicina Veterinária -, a utilização indiscriminada de animais em pesquisas científicas, o abandono de cães e gatos atropelados, cancerosos, cegos e com toda sorte de mazelas, todos os dias, no pátio da faculdade, nos fins de tarde... Também fora do ambiente acadêmico, a ocorrência de espetáculos deprimentes, ditos “de diversão humana”, como “farra do boi”, touradas, vaquejadas, rodeios, exibição de animais em circos, e outros.
Tenho, sim, grande afeto por eles mas, penso que isso, apenas, não basta, pois muitas vezes subjugamos e submetemos à nossa vontade, aqueles que dizemos amar. É necessário o despertar de nossa consciência, para reconhecermos que eles tem direito natural à própria vida e à condição de não serem constrangidos a procedimentos e situações que lhes causem dor e sofrimento. Os animais todos, que tive e tenho, em casa, sempre engrandeceram nossas vidas com demonstrações inegáveis de lealdade e companheirismo, de tal forma que aprendemos a valorizar a relação afetiva que se estabeleceu entre nós, estendendo para todos os animais, em geral, essa nossa postura.


Como entende, o Espiritismo, os animais?
IP - Segundo meu entendimento, o Espiritismo considera os animais espíritos em evolução. Vejamos algumas das muitas citações a respeito constantes da literatura espírita:
> O Livro dos Espíritos, LE.597: “Pois se os animais tem uma inteligência que lhes dá uma certa liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?” (eu sublinhei). Resposta – “Sim, e que sobrevive ao corpo”.
> A Gênese, GE.III.21: “A verdadeira vida, do animal, tal como do homem, não se encontra no envoltório corporal... ela está no princípio inteligente, que preexiste e que sobrevive ao corpo” (eu sublinhei).
> LE.612: “...No momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entra no período de humanidade, não tem mais relação com o seu estado primitivo e não é mais a alma dos animais, como a árvore não é a semente”.
> Alvorada do Reino, de Emmanuel: “O animal caminha para a condição de homem, tanto quanto o homem caminha para a condição de anjo”.
Está claro que, ao inquirir os espíritos, se nos animais há um “princípio” independente da matéria, Kardec referia-se ao “princípio inteligente”, conforme lemos no LE.79 “... os Espíritos são individualizações do princípio inteligente como os corpos são individualizações do princípio material... (eu sublinhei)”. Veja-se também o LE.27 a respeito do conceito de trindade universal (Deus, princípio inteligente e princípio material).


É possível relacionar animais e mediunidade?
IP - Kardec já discutia esse assunto, à sua época, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, gerando matéria que se encontra publicada na Revista Espírita, de setembro de 1861. Também no próprio O Livro dos Médiuns (LM), o capítulo XXII dedica-se ao assunto “Da Mediunidade dos Animais”. Constante do item 236 desse capítulo, temos o comentário de Erasto: “Certamente que os espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis para os animais... Muito frequentemente se vêem cavalos que se recusam a avançar ou recuar, ou que se empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem!

Irvênia Prada, Lígia Almeida e Sérgio Filipe de Oliveira

Os médicos: Irvênia Prada, Lígia Almeida (cardiogeria-tra e presi-dente da AME Porto) e Sérgio Filipe de Oliveira (psiquiatra)

Podeis estar certos de que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espirito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em detê-los. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um anjo pela frente...É que, antes de se manifestar visivelmente a Balaão, o anjo quis tornar-se visível apenas para o animal” . Assim, pelo relato de Erasto e ainda pela observação de muitas pessoas quanto a comportamento sugestivo, de seus animais, podemos concluir que os animais tem, sim, a capacidade de perceber a presença de entidades espirituais, sentindo-lhes as vibrações. Cabe, a respeito, citação do relato bíblico da “Cura do Endemoniado Geraseno” (Lc 8:20-34): “...Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos e a manada precipitou-se despenhadeiro abaixo, dentro do lago, e se afogou”. Entendemos, nesta passagem, que os chamados “demônios” (espíritos muito necessitados) não propriamente “entraram” nos porcos mas, para eles transferiram a sua necessidade de vampirização de fluido vital, de tal sorte que os animais “perceberam”, “sentiram” as características de suas pesadas vibrações e se descontrolaram. Nesse sentido e nessas condições, poderíamos nos atrever a dizer que os animais são médiuns, uma vez que no LM.2ª.XIV.159, lemos: “Todo aquele que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium”. Na tradução de Herculano Pires, já não teríamos essa possibilidade, pois aí se lê: “Toda pessoa que sente...”. Se por um lado, reconhecemos que determinados animais percebem a presença de espíritos e mesmo os vêem, de outra parte consideramos que existe grande restrição em se admitir que possam atuar como mediuns, nas chamadas manifestações de efeitos inteligentes ou intelectuais (como psicografia e psicofonia), em que o médium age como intermediário e, necessariamente, com o envolvimento de seu cérebro, (LM.225). Alem do mais, como ressalta Erasto (LM.236), “necessitamos da união de fluidos similares, que não encontramos nos animais nem na matéria bruta”.


Pessoas que abandonam animais de estimação... qual a óptica espírita em relação a isso?
IP - É atribuída a Chico Xavier a consideração de que “somos livres para decidir sobre os nossos atos, muito embora nos tornemos escravos de suas conseqüências”. Assim, seremos inexoravelmente alcançados, mais cedo ou mais tarde, pelos efeitos de nossos atos, sejam de amor ou de desamor. Em Missionários da Luz, cap. IV – “Vampirismo”, observamos como André Luiz se surpreende quanto à infeliz condição de “ muita gente na terra que vive à mercê de vampiros invisíveis. E a proteção das esferas mais altas? E o amparo das entidades angélicas, a amorosa defesa de nossos superiores?”. O mentor Alexandre esclarece: “Em todos os setores da Criação, Deus, nosso Pai, colocou os superiores e inferiores para o trabalho de evolução, através da colaboração e do amor...no capítulo da indiferença para com a sorte dos animais, ...nenhum de nós pode atirar a primeira pedra. Os seres inferiores e necessitados do planeta não nos encaram como superiores generosos e inteligentes mas, como verdugos cruéis... A missão do superior é a de amparar o inferior e educa-lo...Sem amor para com os nossos inferiores, não podemos aguardar a proteção dos superiores”. Portanto, percebe-se ser grande o nosso compromisso para com os animais que conosco convivem. Abandonar um animal “de estimação” (imagine-se o que fazem com os demais...) à sua própria sorte, com certeza também é abdicar de condições vibratórias compatíveis com o merecimento da tutela dos espíritos de luz (“... a cada um, segundo as suas obras.” - Ap.22:12).


Como podemos entender a participação de animais em atividades de diversão do ser humano, como a caça e outras?
IP - Ao longo da história do homem, particularmente a partir do Horizonte Agrícola (vide “O Espírito e o Tempo”, de Herculano Pires), os animais sempre estiveram ao seu lado, participando de muitas de suas atividades. Ainda hoje vemos, por exemplo, nas lidas do campo, cavalos, bois e cães pastores em tarefas de trabalho, na companhia do ser humano. Quer no trabalho, quer nos momentos de diversão e lazer, é desejável que a interação entre homens e animais, seja harmônica, respeitando-se as características das diferentes espécies animais e seus limites de bem-estar. Entretanto, vemos com pesar que a grande maioria das situações arquitetadas com vistas à diversão humana, nelas incluindo-se diversas modalidades de esportes, penaliza os animais, submetendo-os a toda sorte de desconforto, privações, maus tratos e mesmo crueldade. Lemos no LE.734 – “No seu estado atual, o homem tem direito ilimitado de destruição sobre os animais?” R – “Esse direito é regulado pela necessidade de prover à sua alimentação e à sua segurança; o abuso jamais foi um direito”. Na questão seguinte, LE.735, temos mais esclarecimentos a respeito: “Que pensar da destruição que ultrapassa os limites das necessidades e da segurança; da caça, por exemplo, quando não tem por objetivo senão o prazer de destruir, sem utilidade?” R – “Predominância da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus...”. Portanto, é de se lamentar a vigência de tristes espetáculos como a “Farra do Boi”, no sul do Brasil. Nessa atividade, aí implantada por açorianos e defendida na região como prática de “cultura e tradição”, o animal é exposto, nas praças e ruas, à insanidade dos que tem a “coragem” de furar-lhe os olhos, de espetá-lo com lanças ponteagudas, de quebrar-lhe os ossos e de faze-lo sangrar em exaustão, até a morte. Que falar também da caça à raposa, das touradas, vaquejadas, rodeios, dos animais amontoados em circos e em feiras e, ainda, das rinhas de galos e de cães? Penso que a nossa inteligência, tão fértil para a conquista de tantos avanços tecnológicos e científicos, teria todas as condições, se assim o desejasse, de promover atividades de trabalho ou de diversão, com a participação de animais, respeitando-lhes o direito à vida e a sua capacidade de sofrimento. Mas, isso depende, também, do nosso desenvolvimento moral, que ainda está a desejar...


E o conceito de evolução das espécies? O Espiritismo acrescenta-lhe algo?
IP - É muito interessante a observação do fato de que Darwin (1809-1882) e Kardec (1804-1869) foram contemporâneos. Apesar das polêmicas repercussões sociais e religiosas que a teoria darwiniana levantou, na época, com a publicação de “A Origem das Espécies” (1859), Kardec entendeu a validade da proposta, pois em GE.XI.15 (1868) considera, com o título “Hipótese sobre a Origem do Corpo Humano”, a possibilidade de que “...Corpos de macacos teriam sido muito adequados a servir de vestimentas aos primeiros Espíritos humanos, necessariamente pouco avançados, que vieram encarnar-se na terra...”. Outras citações sustentam a consideração dessa “hipótese”: GE.XI.16 – “Como não há transições bruscas na natureza, é provável que os primeiros homens que apareceram sobre a Terra pouco diferissem do macaco, em sua forma exterior, e sem dúvida, também quanto à sua inteligência...” ; LE.849 – “Qual é, no homem em estado selvagem (eu entendo que Kardec referia-se ao homem “primitivo”), a faculdade dominante: o instinto ou o livre-arbítrio?” Resposta: “O instinto...”.
A Ciência, atualmente, confirma plenamente a validade dessa hipótese. No terreno da Biologia e da Antropologia, considera-se que as espécies conhecidas, do gênero humano, vieram do Australopithecus (austral = sul; pithecus = macaco), espécie de macaco, já de postura ereta, que teria vivido no sul da África, há aproximadamente 3,5 milhões de anos. No campo da Genética, estudos do genoma humano e de diferentes espécies, tem mostrado que a diferença de nossas características genéticas, em relação ao chimpanzé, é de menos de 1%. Antecipando, em mais de 50 anos, essa evidência, no prefácio da obra de André Luiz “Os Mensageiros” (1944), Emmanuel nos deixa a seguinte citação: “No chimpanzé, a lei de herança continua com ligeiras modificações”. Ainda, na área da Etologia (análises comportamentais) e da Neurociência, pesquisas realizadas nas últimas décadas, tem revelado impressionantes dados a respeito da inteligência e da complexidade de organização do cérebro, de primatas não humanos, derrubando a barreira convencional com que, na visão antropocêntrica, sempre se pretendeu considerar o homem em separado e com expressivo destaque.
Portanto, em termos de evolução orgânica, o Espiritismo (GE.X “Gênese Orgânica”) caminhou com a Ciência e mantem postura coerente com os resultados das mais recentes pesquisas. Entretanto, nossa Doutrina acrescentou algo de extraordinário à essa visão, pois enquanto a Ciência convencional limitou-se à análise da evolução biológica, o Espiritismo descortinou a realidade da evolução espiritual (GE.XI “Gênese Espiritual”). Veja-se, a respeito, “Evolução Em Dois Mundos”, de André Luiz e, entre as obras básicas da codificação, entre muitas citações:
- LE.606a – “A inteligência do homem e dos animais emanam de um princípio único? Resposta – Sem dúvida nenhuma mas, no homem, ela passou por uma elaboração que a eleva acima dos brutos”.
- LE.607 – “Onde cumpre o Espírito essa primeira fase? Resposta – Numa serie de existências que precedem o período que chamais de humanidade”.
- LE.607a – “Parece, assim, que a alma teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação? Resposta - ...É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora e ensaia para a vida...É um trabalho preparatório, como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna espírito”.
-LE.601 – “Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva? Resposta – Sim, e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são igualmente mais adiantados, os animais também o são...”.
Em “Alvorada do Reino”, Emmanuel sintetiza a idéia: “O animal caminha para a condição de homem, tanto quanto o homem caminha para a condição de anjo”. O mesmo conceito, ele anuncia em “O Consolador”: “Considerando que eles (os animais) igualmente possuem um futuro de profícuas realizações, através de numerosas experiências, chegarão, um dia, ao chamado reino hominal como, por nossa vez, alcançaremos, no escoar dos milênios, a situação da angelitude....”


Os animais tem linguagem?
IP - Sim, os animais possuem meios de comunicação de informações, entre os membros de sua comunidade. Hoje sabe-se que até insetos, como abelhas e formigas, não apenas vivem com elaborada organização social e divisão de trabalho, como também exibem expressivo repertório de sinais, com os quais se comunicam, uns com os outros. A literatura é farta sobre pesquisas recentes, a respeito do assunto. No Brasil, na Universidade de São Paulo, desenvolveu-se estudo de campo sobre a linguagem dos macacos muriquis (Revista FAPESP, nº85, Março/2003), com resultados surpreendentes. É notável a capacidade dos animais, até de aprenderem novas formas de linguagem. Refiro-me ao trabalho do biólogo americano Roger Fouts, relatado no livro “O Parente Mais Próximo”. Ele ensinou para chimpanzés, a linguagem gestual, humana, utilizada por deficientes auditivos. Os animais não apenas aprenderam a utilizar os mais de 150 sinais que compõem essa linguagem, como através dela puderam expor conteúdos de seu psiquismo que se julgava, antes, serem apanágio de seres humanos. Concluiu o autor, que está criada uma nova geração de chimpanzés, com uma nova forma de comunicação.


E inteligência?
IP - Sim, os animais tem inteligência. A antiga e equivocada noção de que os animais agem apenas por instinto, hoje não encontra a menor sustentação, nem na ciência acadêmica, nem na literatura espírita. Na concepção cartesiana, do séc. XVII, os animais eram tidos como máquinas e, assim, historicamente fomos levados a considerar o instinto como uma espécie de combustível que possibilitava o funcionamento automático dessas máquinas. Vemos, com surpresa, que Kardec já fazia referência à existência de instinto e de inteligência, nos animais, o que podemos encontrar na GE.III.12 (1ª edição publicada em 1868), em que lemos: “O animal carniceiro é impelido pelo instinto, a nutrir-se de carne; porém, as precauções que ele toma, as quais variam segundo as circunstâncias, são atos de inteligência”. No LE.73 encontramos pergunta que Kardec faz aos espíritos sobre o conceito dessas duas faculdades:
“O instinto é independente da inteligência? Resposta – Precisamente não, porque é uma espécie de inteligência...". Hoje temos a noção de que o chamado instinto corresponde a um dos compartimentos da memória do indivíduo, em que se acham arquivadas informações sobre o que ele já aprendeu, em sua jornada evolutiva, para sobreviver e perpetuar a espécie, sendo espontâneas as suas manifestações. A literatura científica encontra-se repleta de pesquisas comportamentais e em neurociência, demonstrativas da inteligência de aves, cães, chimpanzés, golfinhos e muitos outros animais. Portanto, eles tem e sempre tiveram inteligência! Nós é que não sabíamos (ou não queríamos!) identificá-la.


Podemos aprender com os animais? Pode dar exemplos?
IP - Quem tem animais em casa e com eles convive em harmonia, em interação afetiva, sabe que eles são exemplos incondicionais de lealdade e de companheirismo. Lembro-me da reflexão do grande escritor Guimarães Rosa: “Se os animais só inspiram ternura, o que houve, então, com os homens?” Acho que se esqueceram das coisas simples da vida, como ter um amigo e dedicar afeição a ele!

No livro “Memórias do Padre Germano”, de Amália Domingo Soler, Ed. FEB, acham-se registradas palavras do sacerdote em relação à lealdade de Sultão, seu cão-companheiro: “Ah! Sultão! Sultão! Que maravilhosa inteligência possuías. Quanta dedicação te merecia a minha pessoa! Perdi-te e perdi em ti o meu melhor amigo... Agora sei que estou só...”.
Em casa, nossos queridos cães Teca, Nãna, Timi e Tábata, amigos que já desencarnaram, passaram por períodos muito difíceis de doenças, cegueira e velhice e em tudo nos ensinaram, com sua postura de recolhimento e aceitação.
Na literatura acadêmica, o neurocientista Paul Mac Lean (“O Cérebro Trino em Evolução”, 1968) faz importante análise a respeito da composição do cérebro humano, em três blocos herdados da trajetória evolutiva dos animais, ou seja, as Formações Reptiliana, Paleomamífera e Neomamífera, o que aliás se aproxima muito do relatado por André Luiz em “No Mundo Maior”, cap. 4 – Estudando o Cérebro (1ª. edição em 1947). Nessa publicação, Mac Lean comenta que a partir do cérebro reptiliano, instalam-se comportamentos importantes, que depois irão fazer parte do repertório do nosso próprio comportamento, como a invenção do “ninho” e o “cuidar” dos filhotes. O “ninho” representa, para o autor, os primórdios do que virá a ser o “nosso lar” e, o “cuidar de outro ser”, os primórdios do “altruísmo”. Assim, entendemos que o aprendizado do espírito se faz em longa jornada evolutiva e, embora em patamares diferentes, todos ensinamos uns aos outros e aprendemos, uns com os outros.


E o sofrimento dos animais? Como explicar a deficiência física nos animais à luz da doutrina espírita?
IP - Fico intrigada com a visão simplista, que por vezes observo, mesmo dentro do meio espírita, de um assunto tão complexo, que é o do sofrimento e suas causas. Quase sempre caracterizamos as mazelas humanas como “resgate” de coisas do passado. Como veterinária, tenho constatado que, como os seres humanos, os animais tem câncer, epilepsia, tuberculose, fraturas, discrasias sanguíneas, parto distócico, enfim, toda sorte de deformidades e de doenças que lhes causam dor física. Também são sujeitos a maus tratos, crueldades, angústias, ansiedades e situações desencadeadoras de estresse, que lhes causam sofrimento mental ou psíquico. Assim, considerando que, “para eles (os animais) não existe expiação” (LE.602), fico com a forte impressão de que deve haver, para todos os seres vivos, uma outra causa, fundamental, de ocorrência de dor/sofrimento, que não o “resgate de débitos do passado”. Não desconsidero a importância dessa razão (o resgate) de sofrimento para nós, seres humanos mas, acho que ela não é a única.

Flávia Prada, Lígia Almeida e Irvênia Prada

Os médicos: Flávia Prada (médica cirurgiã ortopedista), Lígia Almei-da (cardiogeriatra e presidente da AME Porto e Irvênia Prada

Em “O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte”, Herculano Pires, respondendo à pergunta: “Por que sofrem os animais?”, registra: “Sofrem porque evoluem e porque toda evolução, consciente ou inconsciente é sempre acompanhada das dores do parto que anunciam as transações evolutivas para planos superiores... A dor apresenta-se em todo o cosmos, como decorrência natural dos processos evolutivos. É uma conseqüência dos esforços dispendidos pelas coisas e os seres, em luta com os obstáculos internos e externos com que todos nós e todas as coisas e seres se deparam nos caminhos da evolução universal... Sofre a pedra, sofre o vegetal, sofre o animal e sofre o homem em cada curva implacável do desenvolvimento de suas potencialidades”. Tenho ainda, a respeito, linda página de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier, em 14/12/69, intitulada “Animais e Sofrimento”. Aí se lê que “Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também para angariar os recursos preciosos para obtê-la... Que mal terá praticado o aprendiz a fim de submeter-se aos constrangimentos a escola?... O animal, igualmente, para atingir a auréola da razão, deve conhecer benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-lo na posse definitiva do raciocínio... Compreendamos, desse modo, que o sofrimento é ingrediente inalienável no prato do progresso”.
Portanto, vejo o sofrimento que naturalmente acomete os animais, na forma de doenças, deformidades congênitas e outras, como ocorrência compatível com as características físicas e vibratórias da matéria de que somos constituídos.. Todos nós (os seres vivos deste planeta) estamos em constante aprendizado e, à medida que galgamos progressivamente mais altos patamares evolutivos, vamos adquirindo condições de substituir a vivência da dor, por lição já superada. É a escola da vida.


Que Mensagem Final?
IP - Em “Missionários da Luz”, cap. 4, de André Luiz, o mentor Alexandre, recomendando que busquemos recursos nos laticínios em substituição ao uso da carne, em nossa alimentação, refere que “...tempos virão, para a humanidade terrestre, em que o estábulo, como o lar, também será sagrado”. Confesso que, apesar de minhas reflexões, tive de início dificuldade em entender o significado desse comentário de Alexandre. Entretanto, recebi de um espírito zoófilo, a consideração de que Jesus, ao nascer em um estábulo, em meio aos animais, exemplificou a condição de harmonia em que podemos e devemos viver com a natureza. Emmanuel, em “Emmanuel”, cap. XVII, “Sobre os Animais”, nos recomenda: “...Recebei como obrigação sagrada, o dever de amparar os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta. Estendei sobre eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá mais profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces mistérios da vida”.
Que Jesus nos abençoe e os espíritos amigos nos inspirem na realização de nossos bons propósitos. Obrigada pela oportunidade! Muita paz a todos!





Texto oferecido pelo autor, que é membro da AME Porto,

e publicado no "Jornal de Espiritismo” de Portugal




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