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terça-feira, 21 de outubro de 2008

Vírus da aids se ''esconde'' em célula


Apesar da eficácia dos remédios, estudo aponta que HIV pode ficar latente, à espera do abandono do tratamento

Alexandre Gonçalves


Os coquetéis de drogas contra a aids já são capazes de diminuir a quantidade de vírus no sangue a níveis praticamente imperceptíveis nos exames sorológicos, embora ainda seja impossível erradicar o HIV completamente. Cientistas suíços e americanos mostraram que basta o vírus permanecer "escondido" em uma única célula para que a infecção reapareça com agressividade tão logo o tratamento seja interrompido.



O trabalho, publicado hoje pela Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), apesar das aparências, é uma boa notícia. Havia a suspeita de que as terapias atuais apenas diminuíssem a taxa de multiplicação do HIV no organismo. Mas a pesquisa comprovou que vírus ativos - ou seja, em processo de replicação - são eliminados com muita eficácia pelos anti-retrovirais (remédios para pacientes com aids). Por meio de estudos genéticos, os cientistas apresentaram evidências de que só os vírus latentes escapam à ação dos remédios. Quando acordam, eles são os únicos responsáveis pela reinfecção.

Em entrevista ao Estado, o professor do Hospital Universitário de Zurique (Suíça) e co-autor do trabalho, Huldrych Günthard, explicou que, como o vírus não consegue se reproduzir durante o tratamento, é praticamente impossível surgirem cepas resistentes do HIV quando os pacientes tomam todos os remédios com regularidade.

"O próximo passo é descobrir como identificar células com vírus latentes", afirmou Günthard. "Se pretendemos erradicar o HIV, precisamos entender melhor essas células e onde elas se escondem no corpo humano", completou.

ADESÃO

Ricardo (nome fictício) utiliza o coquetel anti-retroviral desde a década de 90. Mas as náuseas e diarréias causadas pelos remédios fizeram com que interrompesse o tratamento várias vezes. A irregularidade custou caro: o vírus desenvolveu resistência a alguns medicamentos. "Fica cada vez mais difícil controlar a infecção", lamenta Ricardo. Um estudo realizado em Campinas, publicado no mês passado pela Revista da Escola de Enfermagem da USP, mostrou que 73,3% dos 60 soropositivos entrevistados seguiam rigorosamente o tratamento anti-retroviral.

A professora Maria Inês Battistella Nemes, da Faculdade de Medicina da USP, é responsável pelo único levantamento de alcance nacional, publicado em 2002. O porcentual obtido foi parecido: 75% de adesão ao tratamento. Participaram do estudo 2 mil pessoas. "É um porcentual parecido com o de países desenvolvidos", aponta Maria Inês. "A pesquisa foi muito importante para contradizer quem afirmava que era impossível conseguir taxas altas de adesão nas nações pobres."

A infectologista Joselita Caraciolo, do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP recorda que pesquisadores já consideraram a conveniência de realizar "férias periódicas" do tratamento para diminuir os efeitos colaterais e o custo, especialmente nas nações mais pobres da África. Mas logo abandonaram a idéia.

Além do aumento na infecção pelo vírus, as "férias" trazem outros efeitos ruins. Um trabalho publicado ontem pela Public Library of Science Medicine associou tais interrupções no tratamento a um aumento na incidência de coágulos sanguíneos, geralmente ligados a problemas cardíacos, diabete e câncer.

NÚMEROS

75% dos soropositivos afirmam seguir rigorosamente o tratamento com anti-retrovirais no Brasil

0,6% é a incidência estimada da doença na população brasileira

15% é a incidência em alguns países da África Subsaariana


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