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domingo, 11 de maio de 2008

Não é a mamãe

Não é possível. Só pode ser a chegada do Dia das Mães.

Há um engano geral na leitura do caso dossiê FHC/Dilma Rousseff, em favor da Mãe do PAC. Um engano grosseiro. Inclusive por parte de analistas habitualmente críticos do governo Lula.

As investigações apontam o secretário de controle interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, como o divulgador do dossiê (que até anteontem era só um “banco de dados”). Aí surge a informação de que Aparecido é ligado ao proscrito José Dirceu, e pronto. Dilma está inocentada.

Em primeiro lugar, é muito curioso que Dirceu seja visto como representante da banda podre do Projeto Lula, e Dilma como expoente da banda boa. Quem inventou esse antagonismo entre Dirceu e Dilma? De onde saiu a informação de que são pólos opostos do lulismo? Que fatos, que episódios, que conflitos entre os dois embasam esta conclusão?

Dilma sucedeu a Dirceu na Casa Civil cobrindo-o de elogios, homenageando seu “companheiro de armas”, nas palavras dela. Nunca se viu qualquer tensão ideológica, programática ou administrativa entre os dois Ds. Criou-se a lenda de que Dilma é a gestora, e Dirceu, o conspirador. Imaginação fértil. Ambos são igualmente, e acima de tudo, militantes.

(Nunca é demais repetir a pergunta que não quer calar: o que a gestora Dilma geriu com sucesso em sua vida?)

Até prova em contrário, a substituição de Dirceu por Dilma na Casa Civil não foi ruptura, foi passagem de bastão. O resto é literatura.

Em segundo lugar, independentemente de supostos compadrios de Aparecido com Dirceu (que o ex-ministro nega), ele é, antes de tudo, funcionário de Dilma Rousseff. Funcionário graúdo. Ou a ministra vem a público dizer que desconfia de seu colaborador, ou é, inexoravelmente, responsável pelas atividades dele no ministério dirigido por ela.

A não ser que Aparecido seja uma ONG dentro da Casa Civil. Ou que a Mãe do PAC tenha contraído o vírus do “eu não sabia”.

Ainda há muito a investigar no caso da manipulação política de dados sigilosos dentro da Casa Civil. O que não dá para compreender é a pressa generalizada de concluir que a Mãe do PAC (que não existe) não é a Mãe do Dossiê (que existe). O Brasil tem sido uma mãe para Dilma Rousseff.


Guilherme Fiuza
Jornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também o livro 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião.



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